Furto de dados da Petrobras não foi o primeiro, diz associação
Desde a descoberta de uma reserva gigante na camada pré-sal no campo de Tupi, na bacia de Santos, a Petrobras tem sido alvo de uma prática muito comum no mundo do petróleo, mas até então pouco usada no Brasil: a espionagem industrial.
O furto de dados estratégicos da estatal brasileira que estavam sob responsabilidade da empresa norte-americana Halliburton, com informações sobre a bacia de Santos, não foi o primeiro, segundo o diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e ex-engenheiro da área de Exploração e Produção da estatal, Fernando Siqueira.
"Isso (furto) é reincidente, porque tenho notícias de que há um ano e meio vêm sendo roubados laptops na casa dos técnicos envolvidos com essa área, teve assalto na casa de dois engenheiros e um geólogo e só levaram o laptop", informou.
Procurada, a Petrobras informou que não vai comentar as declarações de Siqueira.
Esse tipo de espionagem, lembrou, é muito comum na indústria do petróleo há anos. Para Siqueira, as suspeitas sobre o autor do furto recaem em muitos agentes do setor, e ele só isentaria de culpa três companhias.
"Galp e Britsh Gas, por serem parceiras, e a OGX, do Eike Batista, que levou cinco gerentes de produção para trabalhar com ele, ou seja, já tem os arquivos vivos", afirmou.
Contemporâneo do atual diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrela, Siqueira lamentou que o furto jogue 30 anos de pesquisa feita pela companhia, por um valor estimado em US$ 2 bilhões, em mãos desconhecidas.
"São informações que permitem saber a composição total do poço, saber qual a melhor localização para furar o novo poço. Dá a quem tiver esses dados informações bastante estratégicas para futura exploração e perfuração da área", afirmou.
Ele explicou que a Halliburton faz para a Petrobras um trabalho de perfilagem dos poços, ou seja, na medida em que os poços vão sendo perfurados, a empresa pega amostras de rochas e traça um perfil do poço, "como se fosse um corte que vai mostrando o tipo de rocha que existe em cada camada."
O trabalho, na avaliação de Siqueira, leva cerca de dois meses e depois de pronto é entregue para os técnicos da Petrobras, que analisam e especificam a melhor estratégia para desenvolver a produção.
Siqueira informou que a Aepet vai encaminhar nesta sexta-feira carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo a suspensão imediata dos leilões de blocos de petróleo no País e mudança no marco regulatório do setor que, segundo ele, tem incoerências que prejudicam a soberania nacional.
A entidade vai pedir também que a Marinha seja acionada para ajudar a proteger as plataformas da Petrobras, que estariam vulneráveis.
"Com o campo de Tupi, o Brasil tem agora uma nova província pré-sal, com perspectiva de reservas de 80 bilhões a 90 bilhões de barris. Isso coloca o Brasil entre terceiro e o quarto colocado em reservas no mundo, sendo que os primeiros lugares estão no Oriente Médio, onde tem muito conflito, e o Brasil está aqui na América Latina, que é uma sopa no mel", avaliou o engenheiro.
Segundo Siqueira, o governo brasileiro deverá a partir de agora sofrer pressões, que ele não quis especificar, para colocar as áreas do pré-sal nos leilões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Na última rodada de licitações, realizada dias após o anúncio da descoberta do campo de Tupi, as áreas do pré-sal foram retiradas da venda para análise, mas o governo ainda não decidiu se voltarão a ser ofertadas.
Já a oitava rodada de licitações, suspensa em 2006 por uma decisão judicial, contém blocos localizados na camada pré-sal e se for retomada não poderá descartá-los. A solução, segundo o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima, poderá ser abrir o leilão para validar as área já vendidas e encerrar sem mais ofertas.
De acordo com o assessor do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, nenhuma decisão no sentido de suspender os leilões da ANP foi tomada.
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