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Educação/Vestibular
Sexta - 15 de Fevereiro de 2008 às 14:12

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"Não temos previsão para receber. Nem me preocupo mais com as contas, está tudo atrasado". A reclamação é de um professor que atua no Univag Centro Universitário e na UNED - Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino. Com o salário atrasado nas duas instituições, ele conta que sobrevive com o que recebe numa terceira escola, que paga em dia.

Os constantes atrasos salariais e outras irregularidades cometidas pelas universidades e faculdades levaram o sindicato que representa professores e auxiliares administrativos do ensino privado de Mato Grosso (SINTRAE-MT) a fazer um levantamento da situação geral das universidades.

O quadro é revoltante, segundo o sindicato. Na Uned Diamantino, os professores não receberam novembro, dezembro nem as férias, e apenas parte do 13º salário. A empresa justifica o atraso apontando o crescimento da inadimplência por parte dos alunos do novo curso de Enfermagem, aberto no final do ano passado. Um detalhe é que a faculdade pertence à família do Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. "Ele tem posses, tem fazendas. Como não teria dinheiro para pagar os salários dos funcionários?", questiona o professor.

A Uned de Diamantino foi manchete recentemente depois que seu curso de Direito teve nota 2 - numa escala que vai até 5 - no último Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) e baixo desempenho no IDD (Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado), ambos feitos pelo MEC.

A situação se repete no Instituto Várzea Grandense de Educação (IVE), onde os salários estão retidos desde setembro de 2007. "Quando cobramos nosso salário, eles dizem que não tem acordo. É um abuso, estou com nome no CERASA e no SPC, cartão de crédito bloqueado", comenta uma professora, que não quis se identificar. Segundo o SINTRAE-MT na instituição também há muitos trabalhadores sem registro em carteira.

Metade do salário

A FAUC (Faculdade Cuiabá) também está sendo denunciada pelo sindicato. Lá, os professores recebem apenas 50% do salário de setembro e outubro do ano passado. Em novembro e dezembro, não receberam nem os salários nem o 13º. "Eles alegam que não podem pagar porque estão fazendo investimentos, pedem a nossa ajuda, garantem que a situação vai melhorar", comenta uma funcionária.

Os investimentos são para a abertura de quatro novos cursos, três dos quais já foram aprovados pelo MEC. "Vou dar um crédito, acreditar que vai crescer. Se não melhorar, saio", diz ela.

A professora M., que dá aulas em cursos que a Univag oferece em Rondonópolis (os cursos modulares) e também na Capital, já não acredita mais. Sem receber em ambas as modalidades, ela conta que os atrasos sistemáticos começaram há cerca de um ano e meio. A carga horária declarada pela instituição ao MEC é de 74 horas, mas os professores recebem apenas por 60 horas, e as demais são caracterizadas como não-presenciais e não são remuneradas. "A gente vê na cara dos professores. Eles estão totalmente desmotivados", comenta ela, informando que vai deixar a instituição em julho. "Modular, nunca mais."

O ex-professor da Unic., L. vai mais longe. Ele diz que nunca mais trabalhará em uma universidade privada em regime de dedicação exclusiva. Mais do que salário, sua reclamação é contra a falta de liberdade de pensamento. "O professor não pode ter um ponto de vista diferente do da direção. Quem não reza na cartilha, é mandado embora, como aconteceu comigo. Isso em uma universidade não pode existir", desabafa. Segundo ele, falta também investir na formação dos professores, que não têm um plano de Cargos, Carreiras e Salários.

Prática de salários diferenciados para professores com a mesma formação, falta de interesse em formar alunos críticos e descaso com a pesquisa científica estão entre as irregularidades apontadas pelo professor. "A Unic tinha tudo para ser grande, ser a melhor, mas optou por ser uma vendedora de aulas", dispara.

Para o sindicato, a inadimplência não pode ser usada como justificativa pelas instituições para atrasar o salário. Uma pesquisa realizada pela entidade em 2006 com 69 instituições de Cuiabá e Várzea Grande, mostrou que o índice de inadimplência é de até 5% em mais de 22% das instituições. Já a inadimplência de mais de 50% atinge somente 3,7% dos estabelecimentos. "O que acontece é uma desvalorização do trabalhador. Os empresários estão mais preocupados com a aparência, com a estrutura. É nisso que investem", opinou a presidente do SINTRAE-MT, Nara Teixeira.

A ação do SINTRAE-MT integra uma campanha nacional intitulada "Educação Não é Mercadoria", com a qual os professores e auxiliares administrativos da iniciativa privada pressionam o Governo Federal para que regulamente o ensino privado. Entre as críticas está a entrada indiscriminada de capital estrangeiro nas universidades particulares. "A situação que vivemos em Cuiabá não é diferente de outros estados. O interesse mercantilista dos donos de escola está acima do educacional. O Governo e a sociedade precisam barrar esse processo", finaliza a presidente.

As informações levantadas pelo sindicato serão encaminhadas, como denúncia, ao Ministério Público do Trabalho.





Fonte: 24 Horas News

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