FHC diz que não teme investigações sobre cartões
FHC não concordou com o acordo feito entre o governo e a oposição, que resultou na CPI mista, formada por deputados e senadores, e que apurará os abusos com cartões e contas tipo B nos últimos 10 anos. "Eu acho que a oposição não precisa fazer acordo, dá a impressão que estamos escondendo alguma coisa. Esconder o que?", questionou. "Faz a CPI a partir do fato determinado. Se no encadeamento da investigação ficar claro que é necessário remontar ao passado, que se chegue até Deodoro (Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, de 1889 a 1891). Mas (é preciso) vir até o problema para esclarecer as coisas", continuou.
O ex-presidente acredita que é preciso preservar a intimidade das famílias dos presidentes, mas os gastos que foram irregulares devem ser investigados. "É claro que temos que preservar a intimidade das famílias, mas não os gastos das famílias com dinheiro público", defendeu. "Se alguém da minha família, não houve isso, mas se tivesse usado conta b, cartão corporativo, seja lá o que for, para comprar o que é pessoal, é indevido, é errado", emendou.
Na avaliação de FHC, o uso indevido do dinheiro público não é segurança nacional. "Se eu faço uma roupa e gasto com dinheiro público, isso é errado? Isso não é segurança nacional. Eu tenho que explicar que estou usando o dinheiro para aquilo a qual não fui autorizado", afirmou. Fernando Henrique defendeu o uso do cartão corporativo e classificou-o como um instrumento "positivo". "O instrumento é bom, o uso que é mau", destacou. Na sua opinião, pequenos e eventuais gastos, como uma viagem, podem acontecer. "A retirada demasiada desse recurso em cash, dinheiro vivo, não há razão para isso", disse. FHC condenou a quantidade de portadores dos cartões e classificou-a como "espantosa". "Se o governo tivesse antecipado e corrigido, depois denunciado o fato, aí eu nem precisava mais falar em CPI, acabava o assunto", ressaltou.
Questionado sobre se a "união" entre oposição e governo numa CPI mostraria um amadurecimento do País , o ex-presidente foi cauteloso: "Pode ser, dependendo de como ela (a junção) se comporte." "Se ela não começar se comportando com invenção, que não comece do ponto de partida, querendo derrubar o presidente, não querendo jogar a culpa na oposição, querendo realmente verificar os fatos, aí todos deveremos ficar em pé e aplaudirmos. Vamos ver se é isso. Temos que colocar as barbas de molho", assinalou.
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