Empresas vão "emburrecer" celulares inteligentes
A maioria dos novos celulares chega ao mercado hoje em dia em uma caixa carregada de recursos tecnológicos que deslumbram os adeptos da tecnologia e causam confusão aos simples mortais.
Mas isso talvez esteja a ponto de mudar. Estimuladas a trabalhar de maneira urgente em parte pela simplicidade do Apple iPhone, um aparelho que ostenta apenas um botão, algumas das mentes mais criativas em empresas como Microsoft, Google e Yahoo estão desenvolvendo softwares que emburrecerão os celulares inteligentes.
Empresas como essas, além de grupos do setor de telecomunicações mais tradicional, têm como alvo os 3,3 bilhões de assinantes de telefonia móvel em todo o mundo, um mercado cujo volume faz com que os 900 milhões de computadores pessoais em operação no planeta e o 1,3 bilhão de internautas que usam a World Wide Web pareçam coisa de criança.
"Em última análise, a comunicação móvel é um setor imensamente maior que a Internet", disse Gary Roshak, vice-presidente de publicidade e editoração móvel no Yahoo. "Representa uma nova mídia de massa, semelhante a todas as mídias de massa que a precederam. O que estamos todos tentando fazer é construir uma audiência nesse setor".
Os celulares inteligentes, um termo definido frouxamente como aparelho capaz de navegar na Internet, respondem hoje por entre 10% e 20% das vendas mundiais de celulares, que no ano passado superaram o 1,1 bilhão de unidades.
Mas esse segmento do mercado, que abarca os aparelhos de QI mais elevado, vem crescendo em mais de 40% ao ano, de acordo com os pesquisadores, ante uma média mundial de 10% ao ano para o setor como um todo.
Isso significa que cada vez mais pessoas comuns estão adquirindo celulares sofisticados "cuja venda é usualmente subsidiada pelas operadoras de telefonia móvel-, mesmo que não saibam se querem navegar na Web com os aparelhos, ou como fazê-lo. A simplificação do software, dizem muitas empresas, vai ajudá-las a chegar lá.
A Microsoft anunciou no Mobile World Congress, um evento do setor de telefonia móvel que está em curso esta semana em Barcelona, que até o final do ano passado equipou 14,3 milhões de celulares com o seu sistema operacional Windows Mobile, e agora está dedicando poder cerebral e investimentos consideráveis à promoção do uso dos celulares inteligentes entre consumidores menos sofisticados do que a liderança executiva na maioria das empresas.
"Nós nos saímos muito bem em termos de produtividade para empresas, mas na verdade ocupamos apenas duas posições na taxonomia das operadoras", disse Pieter Knook, vice-presidente sênior do setor de comunicações móveis da Microsoft. "Não somos a ofertas primária em algumas das posições mais orientadas aos consumidores, e nosso objetivo é mudar essa situação".
Na segunda-feira, a empresa anunciou que havia adquirido a Danger, uma produtora de software e fornecedora de serviços para celulares do Vale do Silício, responsável pelo desenvolvimento do Sidekick, o celular e organizador pessoal da T-Mobile. O valor da aquisição não foi revelado. "A expectativa é que possamos operar em mais segmentos do mercado, e em segmentos diferentes do mercado", disse Knook.
Além da Apple, que vendeu quatro milhões de iPhones desde junho, o outro recente estímulo à atividade foi providenciado pelo Google, que em novembro convidou produtores de software de todo o mundo a trabalhar de maneira colaborativa para produzir um sistema operacional de fonte aberta para os celulares.
Na terça-feira, o Google planejava divulgar na Internet uma proposta atualizada quanto ao software que os programadores - 750 mil dos quais já haviam baixado o pacote inicial - poderiam usar para desenvolver idéias próprias para o sistema, que o Google designou "Android".
"É preciso encarar os fatos: o software dos aparelhos móveis está bem para trás do hardware", disse Rich Miner, o gerente de grupo que cuida de plataformas móveis no Google. "Cerca de 80% dos celulares dispõem de câmeras, hoje em dia, e não me surpreenderia que menos de 1% dos usuários tenham feito alguma coisa relacionada a fotografia, usando seus celulares".
Em Barcelona, alguns dos fabricantes de chips para celulares, entre os quais STMicroelectronics, ARM, Texas Instruments e Qualcomm, estavam exibindo protótipos, esta semana, de como o sistema operacional Android poderia operar em companhia de diversos modelos de semicondutores.
A essa altura do ano que vem, disse Miner, "eu acredito que haverá no mercado muitos celulares equipados com o Android", acrescentando que os dois primeiros modelos devem surgir já no final de 2008. "Vejo celulares com telas de toque, celulares com teclado, celulares dobráveis", afirmou.
"Teremos todo o espectro de preços", disse Miner, que anteriormente trabalhava para a operadora européia de telefonia móvel Orange. "Já vi demonstrações de tecnologia do Android em novos chips 3G que permitirão que os fabricantes de aparelhos produzam modelos com preços de venda de menos de US$ 100".
A Microsoft e o Google chegaram ao mercado de celulares com grande atraso diante da Symbian, a empresa que desenvolveu o sistema operacional usado nos celulares inteligentes da Nokia. A Nokia, maior fabricante mundial de celulares, detém 49,7% das ações da Symbian, sediada em Londres, enquanto outras produtoras de celulares e equipamentos de telecomunicações, entre as quais Ericsson, Sony Ericsson, Panasonic, Siemens e Samsung, detém participações menores.
Por isso, foi uma decepção para a Symbian que a Sony Ericsson anunciasse, no domingo, que estava adquirindo licença para usar o sistema operacional Windows Mobile em seu novo celular de topo de linha, o X1, que sairá ainda este ano, de preferência ao software Symbian.
"É um tanto inevitável que clientes experimentem com múltiplos sistemas operacionais", disse David Wood, vice-presidente executivo de pesquisa e co-fundador da Symbian. "A concorrência é saudável, e evita que nos tornemos complacentes".
Wood apontou que a Symbian oferecia a possibilidade de celulares equipados com tela de toque muito antes que a Apple desenvolvesse o software do iPhone, e também atacou o Google, alegando que a empresa de publicidade na Internet ainda não havia provado às operadoras de telefonia móvel que o Android seria tão seguro quanto será aberto.
Parte do processo de transformação do mercado de celulares inteligentes em um mercado de massa, disse ele, seria promover o abandono do termo, que de qualquer maneira não oferece definição padronizada.
"No ano passado, os celulares inteligentes respondiam por 7% do mercado, ante 5% no ano anterior", ele disse. "E, evidentemente, eles representam a porção mais lucrativa do mercado".
Tradução: Paulo Eduardo Migliacci ME
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