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Segunda - 27 de Maio de 2013 às 09:19
Por: DÉBORA SIQUEIRA

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Mary Juruna/MidiaNews
Lindacir adotou Maria Rita quando ela tinha um ano
Lindacir adotou Maria Rita quando ela tinha um ano
Em Mato Grosso, 465 casais estão aptos a adoção. Por outro lado, 68 crianças estão há anos a espera de uma família. 

 
 
A razão é de quase seis vezes mais interessados do que crianças à disposição. 

 
 
O grande problema é que esses meninos e meninas vivendo nos 71 abrigos do estado não se encaixam no perfil desejado pelos casais. 87% preferem crianças de até 3 anos e apenas 13% aceitam maiores de quatro anos. Por outro lado, das 68 crianças, a maioria estão acima de 7 anos e as menores tem algum problema de saúde. 

 
 
No Brasil, há 29.459 pretendentes para adoção e 5.383 crianças aptas, mas como e Mato Grosso, o problema se repete. As crianças não se encaixam no perfil esperado pelas famílias.

 
 
Em 2012, 476 casos de adoções foram sentenciados pela Justiça. Foram 101 casos de destituição do pátrio poder dos pais biológicos e a ida dessa criança a uma família adotiva e 365 registros de adoções de filhos por companheiros dos pais biológicos. São casos de crianças que não tinham um pai, mas o padrasto assumiu esse papel. 

 
 
A presidente da Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio e Adoção (Ampara), Lindacir Rocha Bernardon, comentou que a questão racial foi superada. Antes os casais preferiam crianças de até 3 anos, meninas e brancas. Mas hoje, são indiferentes ao sexo e a cor. "Maior desafio é superar a questão da idade, grupo de irmãos e portadores de necessidades especiais".

 
 
“Nosso maior desafio é superar a questão da idade, grupo de irmãos e portadores de necessidades especiais. Contudo, o mais difícil é a adoção dos irmãos, para não separá-los”, disse Lindacir. 

 
 
Muitas das crianças já perderam a esperança de um dia ter uma família. Algumas sequer desejam mais sair do Lar. No ano passado três irmãos passaram pela dor da rejeição de um casal. Passaram seis meses com a família e foram mandados de volta para o Lar da Criança. Cada devolução gera uma marca de abandono na criança e tira dela qualquer esperança de ter uma família e a possibilidade de integração é ainda mais desafiadora.

 
 
Lindacir Bernardon conheceu de perto essa realidade. A filha dela mais nova, assim como os outros dois filhos, é adotada. Ana Regina, 17 anos, foi adotada após cinco anos e antes de ir para a casa de Lindacir, tinha sido devolvida quatro vezes. 

 
 
A menina vivia nas ruas com a mãe biológica e morou dois anos no Lar da Criança. Depois das experiências de devolução, Ana Regina se tornou incrédula e durante um ano e meio testou de todas as maneiras o amor e a paciência de Lindacir. “Após a sentença, ela mudou totalmente de comportamento e hoje me ajuda na Ampara”.



Vontade de ser mãe e pai

 
 
Filho dá trabalho. Filho faz birra. Filho testa os limites dos pais. Os comportamentos da criança, para bem ou não independe se foi gerado pelos pais ou adotado. “O problema é que falta a vontade de ser pai e mãe. Os casais idealizam muito a criança e quando a expectativa não é correspondida, se frustram. Criança precisa de amor, paciência e orientação”, ensina.

 
 
A estudante de Direito Maria Rita, 18 anos, é filha adotiva. Ela foi com menos de 2 anos para a casa de Lindacir. Desde que se lembra sabia que era adotada. “Tenho três mães: a que me gerou, a do céu e a minha mãe que me criou. Saber que é adotado logo cedo facilita para a criança quando ela é questionada com a aparência, de não ser parecido com os pais”. " Os casais idealizam muito a criança e quando a expectativa não é correspondida, se frustram. Criança precisa de amor, paciência e orientação"

 
 
Agora que atingiu a maioridade, Maria Rita vai ter acesso ao seu processo de adoção e vai procurar a mãe biológica. A menina foi abandonada com 15 dias de vida em um abrigo. “Eu não tenho mágoas dela, ela me deu a oportunidade de ter uma família substituta, coisa que muita criança não tem”.

 
 
A garota também pensa em repetir o mesmo comportamento de Lindacir e adotar dois filhos quando se tornar mais velha. Maria Rita não quer um bebê. Ela pensa em ter filhos coração acima de 5 anos. “Sei dos trabalhos. A criança sempre busca regredir, fazer xixi na cama, tomar leite na mamadeira. Ela vai viver duas fases ao mesmo tempo, até porque ela precisar preencher o vazio daquela fase que viveu sem uma família”.

 
 
Uma escolha dos irmãos


 
A desembargadora Maria Erotides Kneip Baranjak conta que a escolha de adotar uma criança não partiu dela, mas dos filhos dela. Ela disse que quando era juíza da Vara da Infância e Juventude de Várzea Grande, acumulando as Varas Criminais e Eleitoral, trabalhava até tarde no fórum quando recebeu uma ligação de dona Zulmira Meirelles, esposa do coronel Meirelles quando este assumiu a prefeitura de Cuiabá (94/95), dizendo que um garoto de 10 anos havia fugido de casa e como era tarde e não tinha como devolvê-lo, na época o menino teria sido levado à delegacia.

 
 
“Então dona Zulmira perguntou se eu não poderia ficar com menino por uma noite e eu decidi que poderia recebê-lo. Apesar dos 10 anos, o garoto aparentava ter menos, uns 6,7 anos, tinha pele envelhecida, desnutrido e um cabelo muito grande”, lembrou.

 
 
O menino já chegou determinado e já avisou para a Maria Erotides que se ela o mandasse de volta para casa, fugiria de novo. Ela gostou do atrevimento e a determinação do menino. O garoto relatou que a mãe apanhava do padrasto toda vez que ia defendê-lo. Para não ver a mãe agredida, deixou a casa. A criança tinha três marcas de chicotada nas costas. 

 
 
Maria Erotides avisou os seus três filhos, na época com 10, 8 e 6 anos que um menino estava indo com ela para casa. Mas antes de subir para casa, ela viu que o garoto estava tomado por piolhos. Ela o levou para o banheiro e levou horas limpando a cabeça do garotinho. Já era mais de 2 horas, quando ela saiu do banheiro, mas os seus filhos ainda estavam acordados esperando para receber o menino. Por conta própria, os meninos já haviam feito a divisão dos quartos e posto uma cama para a criança.

 
 
“Nunca mais o deixamos. Na verdade, meus filhos o adotaram, ele também nos escolheu. Hoje é biólogo e mora em Cotriguaçu e esta se preparando para adotar uma criança”, conta orgulhosa a desembargadora. 

 
 
Adoções

 
 
A coordenadora da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), Ivone Leite Moura Moreira, disse que os processos de adoção em Mato Grosso variam conforme o perfil desejado dos casais. Quanto mais idade tem a criança, mas chances do trâmite ser mais rápido. “Às vezes o que torna mais demorado o processo, são recursos da família que luta para manter a criança sob a guarda dela”.

 
 
Mato Grosso tem 845 crianças acolhidas em abrigo por negligencia dos pais, uso de droga e por terem sido vítimas de violência. Os processos de destituição do poder familiar é que determina a ida dos infantes à adoção. “Pode levar meses até dois anos”, explicou Ivone.





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