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China bate metas econômicas sem atender a demandas sociais
De um lado, um crescimento médio anual de 10%, os números mais assombrosos dos últimos 20 anos, um dos maiores mercados (com poder de compra de US$ 11,3 trilhões), mais de US$ 8 trilhões de Produto Interno Bruto (PIB) e a segunda maior economia mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. De outro, uma nação onde liberdade de imprensa e oposição política são negados a população, com forte repressão a movimentos sociais. Esta é a China.
A importância da República Popular da China no cenário mundial é inegável, mas quando o assunto são direitos humanos, o país ainda tem muito a fazer. Uma prova de que nem sempre o crescimento da economia se traduz em melhorias para a população. “Em nenhum período da história, o desenvolvimento econômico teve de ser aliado aos direitos humanos”, diz o professor de Economia da Unicamp André Martins Biancarelli.
Foi o que ocorreu no Brasil, por exemplo, ao longo dos anos 70, quando a população viveu o Milagre Econômico, mas sob uma forte ditadura militar que restringia liberdades políticas. “Apenas o crescimento não é um sinal de desenvolvimento”, explica Biancarelli. A noção de sucesso baseado apenas em números foi construída ao longo da Guerra Fria, quando se acreditava em avanços sociais como resultado direto do acúmulo de riqueza. Porém, especialistas afirmam que este não pode ser o único parâmetro.
“Hoje, quando usamos a expressão desenvolvimento, temos em mente um cenário não só de crescimento da economia mas também de qualidade de vida”, afirma o assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Maurício Santoro. O conceito foi reformulado. A Organização das Nações Unidas trabalha com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) justamente por isso, calculado a partir da análise de três fatores: PIB, educação e expectativa de vida.
Sofre as consequências um país que se baseia apenas no crescimento econômico, sem atender às demandas sociais. “A população que não se beneficia do desenvolvimento econômico e vai protestar, com prejuízo do próprio processo”, comenta a professora de Relações Internacionais da USP, Cristiane Lucena.
Recentemente, dois países exemplificaram bem esse processo: Líbia e Egito, que enfrentaram revoltas entre 2010 e 2012, por causa de regimes ditatoriais e com grande concentração de renda. “É muito difícil ter uma população privada de seus direitos como base da economia moderna, isso uma hora desmorona. A economia precisa de uma população bem educada, e essa população começa a pleitear seus direitos”, diz Santoro.
A curto prazo o desenvolvimento econômico até poderia se beneficiar da violação de liberdades e direitos humanos básicos, mas essa situação se torna insustentável. “O fim da economia não pode ser ela própria, ela tem que se traduzir em direitos sociais e humanos para as pessoas”, comenta Biancarelli. O crescimento econômico aliado aos interesses da sociedade são uma garantia de desenvolvimento real e de longo prazo.
O exemplo brasileiro
Os Estados Unidos, maior economia mundial, são reconhecidos por conseguir atrelar crescimento com qualidade de vida. Mas, quem diria, o Brasil também se destacou neste sentido ao longo da última década, um exemplo de desenvolvimento aliado à distribuição de renda e melhorias sociais. Hoje, o País se firma como uma das maiores e mais influentes economias globais, principalmente por causa de seu mercado interno.
Fonte:
Terra
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