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Saúde
Terça - 22 de Janeiro de 2008 às 08:19
Por: Clarissa Thomé

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O desenvolvimento de um microbicida nacional contra o vírus da aids, o HIV, desenvolvido a partir de uma alga marinha, avançou mais uma etapa. A substância começará a ser testada em tecidos humanos. A patologista Patrícia Ocampo está na Saint George?s Medical School, em Londres, onde aprende a técnica para testar o produto em fragmentos de tecido do colo do útero, extraídos durante cirurgias.

A idéia é trazer a tecnologia para o País para agilizar a pesquisa, desenvolvida há cinco anos numa parceria do Instituto Oswaldo Cruz, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) e do Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do Ministério da Saúde.

A proposta dos pesquisadores é que a mulher utilize o microbicida, em forma de gel, creme ou espuma, antes da relação sexual e, assim, bloqueie a contaminação pelo HIV. Mas, para saber se a substância cumpre essa função, é preciso testá-la antes em tecido humano.

TÉCNICA INGLESA

A técnica que está sendo aprendida em Londres permite que o tecido seja retirado quando a mulher é submetida a uma pequena cirurgia, por conta de alguma alteração no colo do útero. Durante a operação também é retirado tecido normal, que é mantido em uma cultura, com todas as camadas encontradas no organismo, como mucosa e submucosa.

Os pesquisadores passam, então, a infectar o tecido e utilizam o microbicida para bloquear a infecção. Esse teste foi feito anteriormente, no Brasil, mas com células isoladas. A intenção agora é testar como o produto se comporta quando há interação entre as células.

Em Londres, os pesquisadores farão testes com subtipos do HIV que circulam pela Europa e pela África. A importância de trazer essa técnica para o Brasil é testar os subtipos do vírus que circulam por aqui.

"Os subtipos são diferentes, alguns mais resistentes, outros menos. A nossa intenção é que o microbicida seja usado em nosso País e em países mais pobres. Por isso, precisamos saber como os subtipos que circulam aqui se comportam em contato com a substância", afirma Luiz Roberto Castello Branco, coordenador do Centro de Desenvolvimento e Testagem de Microbicidas do IOC/Fiocruz.

Ele explicou que a substância encontrada na alga age de duas maneiras. "Ela inibe as duas formas que o HIV tem de se replicar - pelas enzimas transcriptase reversa e protease. Não existe atualmente nenhum medicamento em uso que tenha essas duas ações. Isso é algo que nos deixa bastante otimistas em relação ao produto", diz Castello Branco.

BARATO

Se os testes derem o resultado esperado, tanto em Londres quanto no Rio, o microbicida começará a ser testado em seres humanos em 2009. A previsão é que o produto possa ser comercializado a partir de 2013. "Como o princípio ativo é extraído de algas, acreditamos que o microbicida será um produto barato, muito próximo do irrisório, para que possa ser distribuído para a população", diz Castello Branco.

A alga estudada é encontrada em alguns pontos da costa brasileira e pertence a uma família com ação antiviral. Em 2002, pesquisadores do Departamento de Biologia Marinha da UFF começaram a investigar contra que tipo de vírus aquela alga surtia efeito e descobriram o HIV. "Os estudos são promissores e, aparentemente, a substância poderá ser usada até mesmo por via oral, mas ainda não temos confirmação disso", adiantou Castello Branco.

Segundo ele, o Centro de Desenvolvimento e Testagem de Microbicidas do IOC tem outros dois candidatos a microbicidas com ação semelhante à da alga - um de origem vegetal e um composto semi-sintético, ambos descobertos pelos pesquisadores da UFF. Mas os estudos estão em fase inicial.





Fonte: Estadão

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