Repórter News - reporternews.com.br
Internacional
Sexta - 18 de Janeiro de 2008 às 22:11

    Imprimir


O presidente norte-americano, George W. Bush, pediu nesta sexta-feira um pacote de isenção fiscal de cerca de US$ 145 bilhões para estimular a economia dos Estados Unidos e evitar que o país caia em uma recessão. O anúncio, no entanto, não evitou que as Bolsas americanas registrassem mais um dia de queda. No Brasil, a Bolsa reagiu e fechou em alta.

Os economistas receberam o plano com prudência. "A boa notícia é que o governo [americano] está com uma postura que pode resultar em uma performance econômica mais firme nos próximos seis meses. A má notícia é que essa ação confirma a fragilidade atual da economia", disse Tim Evans, analista de energia do Citigroup Futures Research, à agência de notícias Reuters.

"Ele [o plano] poderia permitir que se impedisse uma recessão se o efeito for sentido até o outono [boreal]. Mas distribuir cheques às pessoas pode não funcionar. Isso só faz aumentar o déficit", diz Robert MacIntosh, da casa de corretagem Eaton Vance, à agência France Presse.

No geral, a reação dos mercados financeiros aos dircurso foi de ceticismo. As Bolsas em Nova York perderam fôlego. O índice S&P 500 fechou em queda de 0,60%, enquanto o Dow Jones caiu 0,49%. A queda, porém, foi mais comedida do que nos outros dias.

Na Europa, o mercado de Londres encerrou o dia em leve queda de 0,01%, enquanto a Bolsa de Frankfurt cedeu 1,34% no fechamento.

No Brasil, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) e o dólar chegaram a acompanhar a reação negativa após o discurso de Bush, mas subiram no final do pregão e compensaram perdas exageradas de dias anteriores --acumulou perdas de 8,3% em três pregões até ontem. O Ibovespa encerrou em alta de 0,82% nesta sexta, aos 57.506 pontos, e o dólar comercial foi negociado a R$ 1,785 para venda, em declínio de 0,11%.

Plano

Segundo discurso feito por Bush, o plano de isenção incluiria benefícios para empresas e para as pessoas físicas. "Ao aprovar um pacote efetivo de crescimento, daremos uma injeção na veia para manter um crescimento econômico fundamentalmente saudável", afirmou em pronunciamento. "Deixar que os americanos fiquem com mais de seu dinheiro deve fazer crescer os gastos com consumo."

O presidente disse ainda que o Congresso precisa trabalhar o mais rápido possível para enviar a ele propostas que "mantenham a economia crescendo e criando empregos". Ele não detalhou o pacote, apenas expôs princípios para orientar a preparação das medidas.

Bush afirmou que seus conselheiros acreditam que a economia pode continuar a crescer, mas que há um risco de desaceleração. "Nossa economia viu períodos difíceis antes, mas está resistente."

Fed

Ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, defendeu a idéia de um plano temporário para a retomada imediata do ritmo da economia norte-americana ante o perigo de uma recessão.

Bernanke disse que aprova a idéia de um pacote de estímulo fiscal, desde que seja "implementado com atenção e estruturado de forma que seus efeitos sobre os gastos agregados sejam sentidos o máximo possível nos próximos 12 meses ou por volta disso".

"Concordo que uma ação fiscal pode ser útil em princípio, na medida em que estímulos fiscais e monetários juntos podem oferecer um apoio mais amplo para a economia do que apenas as políticas monetárias", afirmou.

Segundo ele, o pacote, no entanto, tem de ser "explicitamente temporário", uma vez que os EUA estão diante de "desafios difíceis para o Orçamento no longo prazo, associados ao envelhecimento da população, aumentos nos custos dos seguros de saúde e outros fatores".

Em 2007 o Fed cortou a taxa em três ocasiões consecutivas --setembro (0,50 ponto percentual); outubro (0,25 ponto percentual); e dezembro (0,25 ponto percentual)-- a fim de estimular o crédito e reativar a economia norte-americana. A expectativa entre economistas e investidores é de que o banco irá reduzir mais uma vez os juros, hoje em 4,25% ao ano.

O Fed deve se reunir nos próximos dias 29 e 30 para decidir sobre sua taxa de juros.

Recessão

A economia americana foi atingida no segundo semestre do ano passado por uma crise no mercado de hipotecas de risco (chamadas de "subprime"), um desdobramento da crise imobiliária com que o país já vinha tendo de lidar desde 2006. A crise no setor hipotecário causou problemas no mercado de crédito como um todo, atingindo até categorias acima do nível "subprime".

Os indicadores econômicos americanos, por sua vez, mostram sinais que preocupam analistas: a inflação no ano passado ficou em 2,4% (núcleo dos preços ao consumidor, uma das principais balizas para o Fed determinar sua taxa de juros), acima do que o banco considera adequado.

A taxa de desemprego, por sua vez, subiu para 5% no mês passado, acompanhada da criação de apenas 18 mil empregos --quando a expectativa era de 70 mil.

O setor financeiro como um todo, e as financiadoras imobiliárias e os bancos em particular, estiveram entre as empresas que mais sentiram o impacto das perdas com a inadimplência no mercado de crédito. O Citigroup, por exemplo, teve US$ 18,1 bilhões em perdas com papéis ligados a esse mercado, o que causou um prejuízo de US$ 9,8 bilhões no trimestre passado.

Outro banco que teve prejuízo (de US$ 9,8 bilhões) foi o Merrill Lynch, que perdeu US$ 11,5 bilhões com títulos ligados ao mercado de crédito.

Em pesquisa divulgada hoje no site da revista americana "Fortune", os cidadãos americanos mostram que já vêem a economia do país como em recessão ou perto de entrar em uma em algum momento deste ano.

Cerca de metade dos entrevistados disseram também que já passaram a cortar gastos, o que foi visto como mau sinal para a economia --o Federal Reserve (Fed, o BC americano) efetuou três cortes de juros no ano passado e deve manter a política de cortes neste ano justamente a fim de estimular o consumo.

Em entrevista do diário americano "The Wall Street Journal", o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano) Alan Greenspan disse nesta semana que os EUA já estão ou provavelmente irão entrar em breve em uma recessão.

"Os sintomas estão claramente aí. Recessões não chegam de modo suave. Elas em geral são anunciadas por uma descontinuidade no mercado, e os dados das últimas semanas podem muito bem ser caracterizados assim", disse. Para ele, as chances de que o país caia em recessão ainda estão por volta de 50%.




Fonte: Folha Online

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/189728/visualizar/