Aumenta número de mulheres que transportam drogas
Logo depois que seu marido foi morto em um confronto com a polícia, M., 28 anos, mãe de um menino de três anos, passou a ser assediada por traficantes. A proposta era usar uma cinta recheada com cápsulas de cocaína e embarcar num vôo para a Europa no Aeroporto Internacional Tom Jobim, situado na Ilha do Governador, subúrbio do Rio.
Com medo, resistiu por algum tempo. Mas cedeu diante das dificuldades para alimentar o filho. O êxito da empreitada poderia lhe render US$ 5 mil, cerca de R$ 8 mil. Sua atitude suspeita, no entanto, chamou a atenção dos agentes da Polícia Federal, que lhe deram voz de prisão após revista e flagrante do delito visualizado pelo aparelho de raio X.
Como M., muitas mulas, como são chamadas as pessoas que transportam drogas, caem freqüentemente nessa armadilha do tráfico. De acordo com levantamento da Polícia Federal, está aumentando o número de mulheres tentando embarcar com entorpecentes ingeridos, em cintas presas ao corpo ou em fundos falsos de malas.
"Elas passam credibilidade na hora do embarque. A maioria é levada a isso devido às condições sociais difíceis e na busca para conseguir dinheiro fácil”, explica a delegada Ana Maria Pompílio da Hora, chefe do Departamento de Polícia Federal no aeroporto.
Segundo estudo feito pela delegada, entre agosto de 2006 e dezembro de 2007, das 134 pessoas presas nesse período, 49 eram mulheres. Enquadram-se nesse perfil, aquelas com idades entre 19 e 51 anos, empregada, mas com desejo de obter ascensão social e “ganhar um dinheiro bom e relativamente fácil”.
Hoje, já existem mais de dez mil mulheres presas no Brasil por tráfico de drogas. Quase 80% delas têm o mesmo perfil: são jovens, bonitas e de classe média, segundo estatística que faz parte de um levantamento conjunto da Polícia Federal, Departamento de Narcóticos de São Paulo e Ministério das Relações Exteriores.
A delegada Ana Maria Pompílio mostra alguns truques que os traficantes tentam usar: fundos falsos, sapatos recheados, esconderijos em instrumentos musicais, em cápsulas e até cocaína dissolvida no gesso e em bebidas.
Conforme a análise da policial, muitas mulas “não têm consciência dos reais riscos de transportarem drogas ilícitas” e acreditam que, “pelo fato de serem mulheres, passarão despercebidas ou terão maior chance de se livrarem da ação dos policiais”.
Para ela, “as brasileiras, quase sempre, em seus depoimentos, alegam problemas financeiros e falta de oportunidades como as causas que as fizeram aceitar servir de mulas do tráfico”. Para Ana Maria, são contratadas mulheres que “em princípio não levantariam suspeitas, podendo se tratar de pessoas jovens e bonitas ou mais maduras, mas com aspecto de confiabilidade”.
O levantamento conclui que a quantidade de brasileiros e de estrangeiros de origem africana oscila em razão da situação econômica. Segundo o documento, os brasileiros que atuam como “ mulas’ não são naturais do estado onde são presos, geralmente Rio e São Paulo.
De acordo com o documento, as mulheres passaram a ser recrutadas pelo tráfico no final da década de 80. Já no início dos anos 90, deixou de ser surpresa em aeroportos nacionais a prisão de estrangeiras, principalmente as nigerianas, carregadas de cocaína. Perto de 68% das estrangeiras presas pela Polícia Federal entre 1990 e 2007 são mulheres “mulas”.
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