Publicidade
Repórter News - reporternews.com.br
Economia
Sábado - 25 de Maio de 2013 às 13:25
Por: CRISTINA GRILLO

    Imprimir


Ex-presidente da BRDistribuidora, fundador da OGX, empresa de petróleo de Eike Batista --contra quem tem uma disputa milionária na Justiça-- e dono da Ouro Preto, uma das pequenas que se destacaram no leilão da ANP, Rodolfo Landim, 56, diz que as crescentes dificuldades para a obtenção de licenças para o funcionamento de hidrelétricas estão levando à mudanças na matriz energética brasileira.

Atualmente, em torno de 80% da energia consumida no Brasil vem das hidrelétricas. O caminho seria ampliar o uso das térmicas, aproveitando as reservas de gás existentes no país.

Como o país não tem uma rede eficiente de gasodutos (ao contrário dos Estados Unidos, por exemplo), a solução seria construir térmicas ao lado de reservas de gás, transferindo a energia produzida diretamente para as redes de transmissão.

Para Landim, colunista da Folha, a realização da 11ª rodada, depois de cinco anos sem leilões, e a antecipação da licitação do campo de Libra, com reservas estimadas em 8 bilhões de barris, sinalizam para os investidores que o Brasil se mantem como um bom lugar para se aplicar recursos.

Mas duas questões podem preocupar os investidores: a capacidade da Petrobras de investir, já que por lei tem ao menos 30% de todos os blocos do pré-sal; e a obrigação, também prevista em lei, de a Petrobras ser a operadora em todos os campos do pre-sal.

Para as grandes, é um pouco incompreensível não ser a operadora. Compensar essa "perda" pode ser a explicação para a Petrobras ter aberto mão de ser a operadora em vários blocos vendidos na 11ª rodada.

*

Folha - A arrecadação de R$ 2,8 bilhões na 11ã rodada de licitação da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) superou as expectativas, em um momento em que os investidores não têm mais tanta certeza da capacidade de crescimento do Brasil, nem havia muitos blocos com rentabilidade garantida à venda. Na sua avaliação, o que levou a esse bom resultado?
Rodolfo Landim - Há cinco anos não havia leilão e o último, o de 2008, foi muito restrito, sem nenhum bloco marítimo. Como se abriu agora uma área enorme, as empresas viram uma oportunidade. Sabe lá quando vai ter outro? Havia muita demanda reprimida.

Muito se falou que a participação da Petrobras foi tímida e que empresa abriu mão da condição de operadora [responsável pela exploração e produção] em blocos importantes para economizar, de olho nos altos custos que terá com o pré-sal.
A Petrobras se estruturou bem para leilão e fez parcerias com empresas distintas. De fato é novidade a empresa deixar outras operarem, mas mostra que sabe da missão importante que lhe cabe por lei: ser operadora dos poços do pré-sal e ter participação mínima de 30% em cada um deles. Essas parcerias feitas agora sinalizam quem provavelmente virá com ela no próximo leilão [do campo de Libra, na Bacia de Santos, em outubro]. Na 11ã rodada a Petrobras se associou, entre outras, com a Total [França] e com a BG [Inglaterra].

Sua empresa, a Ouro Preto, estreou em leilões comprando três blocos (dois em terra e um marítimo) por cerca de R$ 70 milhões. Outras empresas consideradas de pequeno porte também tiveram participação relevante. Isso indica uma abertura do mercado de petróleo nacional para as pequenas?
Na época em que os blocos custavam barato, muitas pequenas compraram e depois venderam seus direitos de exploração, ganhando muito dinheiro. Foi o caso da Petra, que agora voltou fazendo apostas fortes, principalmente nos blocos em terra. A Ouro Preto apostou na bacia do Parnaíba, que tem dado bons resultados, principalmente com descobertas de reservatórios de gás. Nossa avaliação é que a participação das térmicas vai crescer, na medida em que a construção de hidrelétricas fica cada vez mais difícil. As que conseguem licença são a fio dÂágua [sem grandes reservatórios, o que reduz o impacto ambiental].

Mas o país não tem uma rede extensa de gasodutos, como os Estados Unidos. Isso não torna a exploração cara, já que há o problema do transporte do gás para as usinas?
Não se a energia elétrica for gerada na boca do poço e se usar a vasta linha de transmissão de energia elétrica que já existe no país. Não há gasodutos, mas há linhas de transmissão. Construo a térmica do lado do poço, gero a energia e transmito. Gradualmente, a participação das térmicas a gás na matriz energética brasileira vai aumentar. Atualmente, a energia das hidrelétricas responde por quase 80% da matriz.

Então pode-se imaginar que quando esses blocos terrestres começarem a produzir gás teremos um boom de construção de térmicas?
Sim. Cada vez fica mais difícil construir hidrelétrica. Não se consegue aproveitar todo o potencial porque não se pode mais construir grandes reservatórios para regularizar vazão dos rios, acumulando nos períodos de cheia e soltando água na seca, porque estudos ambientais não autorizam.

Os ambientalistas atrapalham?
Não diria que atrapalham, mas processos de licenciamento ambiental no Brasil são muito lentos, longos. O licenciamento tem três fases: licença prévia, de instalação e de operação. A prévia, que avalia viabilidade do projeto, normalmente é emitida com série de condicionantes que às vezes não têm ligação com o projeto, mas são consideradas ações de mitigação. No fundo são custos adicionais imputados àquele projeto. Com isso há tendência a afastar investidores de projetos, já que é difícil saber quanto se vai ganhar. Algumas coisas na legislação são muito importantes, como as audiências públicas, que dão o direito à sociedade de participar, mas ainda há muita coisa que atrapalha. Tudo tem que ter equilíbrio. E a balança está pendendo um pouco menos para o lado da necessidade do empreendimento. Não sei se é certo ou errado. Só estou vendo pelo lado do empreendedor.

O Brasil tem pela frente o desafio do pré-sal, de exploração caríssima, no momento em que há o barateamento de outra fonte de energia, o gás de xisto, por causa do aumento de produção nos Estados Unidos. Não há o risco de se gastar dinheiro demais no pré-sal e quando houver produção o preço do petróleo ter despencado?
Há certa oferta de óleo no mundo que só se justifica aos preços de hoje, acima de US$ 80 o barril. Se baixar para US$ 70, cai a produção, inclusive de quem produz óleo e gás. A vantagem do pré-sal é que é possível produzir o barril a US$ 50. Se o preço do barril cair U$ 20 dólares, a Petrobras ainda está em situação confortável. E se não fosse assim, outras grandes empresas de petróleo não continuariam a investir em águas profundas.

Então essa redução de preço de gás não impacta o leilão do campo de Libra?
O que pode ser problema é o fato de a Petrobras ser a operadora em todos os blocos, uma exigência da lei. Não por não ter competência, ao contrário, mas todas as grandes empresas gostam de ser operadoras, é uma questão estratégica. Há ainda a preocupação de ficar dependente da decisão da Petrobras sobre a velocidade e as prioridades de investimento. Esse é o grande desafio.

E seu desafio, qual é?
A Ouro Preto é uma companhia de geólogos, geofísicos, para identificar oportunidades no setor de óleo e gás. Nosso foco principal é Brasil, foi aqui que aprendemos a andar, mas o mundo é um pouco maior e temos que ficar atentos ao que acontece ao redor, como as outras companhias fazem.

Mas qual é a expectativa de alguém que passou 26 anos na Petrobras e mais quatro anos trabalhando no grupo EBX, de Eike Batista, onde criou a OGX?
Sou uma companhia de petróleo e quero produzir petróleo. Passei grande parte da minha vida fazendo isso. Fui superintendente da Petrobras em Sergipe, Alagoas, na Bacia de Campos e em Urucu, na Amazônia. Minha mãe dizia que eu ia longe. E fui parar em Urucu. Isso é ir um bocado longe.






Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/19051/visualizar/