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Internacional
Sexta - 11 de Janeiro de 2008 às 22:11

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De Roma para a BBC Brasil - A libertação das reféns Clara Rojas e Consuelo González de Perdomo, pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), foi um marco na guerra política entre o governo colombiano e o grupo guerrilheiro. Mostrou também que o conflito tem um novo personagem central, na figura do presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Há opiniões diversas sobre quem saiu vencedor no episódio. Mas analistas concordam que a libertação abriu uma janela de oportunidades na atual disputa política, que pode entrar em nova fase.

O analista militar colombiano Alfredo Rangel diz que a libertação de Rojas e González de Perdomo trouxe ganhos para todos.

"Chávez ganhou por se manter na liderança internacional pela negociação, a guerrilha melhorou sua imagem pública, e o governo Uribe demonstrou vontade de dar todas as facilidades para o resgate das seqüestradas", disse Rangel à BBC Brasil.

"O ambiente para o intercâmbio humanitário está melhor agora. Não descarto a possibilidade de a guerrilha fazer mais liberações como essa, para melhorar sua própria imagem e a de Chávez, a fim de pressionar o governo colombiano."

Essa opinião é corroborada pelo fato de que o caso foi seguido de sinais de avanço na busca por um acordo entre governo e guerrilha.

Em seu discurso após a libertação das duas seqüestradas, Uribe disse que manteria a proposta de criação de uma zona de encontro de 150 quilômetros quadrados para a negociação, no departamento do Valle.

As Farc também se pronunciaram em favor de um diálogo que ponha fim ao conflito de mais de quatro décadas. No entanto, pediram que o governo retire o Exército e a polícia de uma zona de 780 quilômetros quadrados no sul do país, para que as partes possam se reunir.

''Fragilidade de Uribe''

León Valencia, analista politico e ex-integrante do Exército de Libertação Nacional (ELN), segundo maior grupo guerrilheiro colombiano, acredita que o presidente Álvaro Uribe saiu enfraquecido.

Para ele, as Farc melhoraram seu status político e agora podem, caso queiram, tentar negociar diretamente com outros governos (como o francês no caso da ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt).

Valencia acredita que, para o presidente Uribe, as perspectivas são muito mais difíceis em termos de alternativas na disputa com o grupo guerrilheiro. Ele diz que Uribe perdeu terreno para Hugo Chávez.

"O presidente Uribe demonstrou toda a sua fragilidade no discurso após a libertação das reféns", afirmou Valencia, diretor-executivo da ONG Corporação Novo Arco Íris.

"Por outro lado, as primeiras manifestações das seqüestradas, pedindo para que Chávez se mantenha como mediador, comprovam que ele foi quem mais ganhou no processo e está autorizado para intervir nos assuntos colombianos."

O ex-guerrilheiro Valencia acredita que as Farc, apesar de terem recebido golpes importantes do governo nos últimos cinco anos, ainda conseguem manter 15 mil homens armados com fuzis, oito mil militantes civis, além do apoio de integrantes de seu Partido Comunista Clandestino, do Movimento Bolivariano e de 300 a 400 mil famílias camponesas produtoras de coca.

Conflito exposto

O cientista político e sociólogo Ricardo García diz que a libertação das duas seqüestradas na última quinta-feira é uma prova irrefutável da existência de um conflito interno na Colômbia.

"A retórica do presidente Uribe em tentar convencer o mundo de que não existe um conflito caiu por terra", afirmou. "Não é um conflito de matanças, mas de forças que têm posições políticas distintas."

Na avaliação de Garcia, as Farc descobriram na figura do presidente da Venezuela um marco para atuar politicamente. De acordo com ele, Uribe e o governo colombiano perderam um pouco de soberania e não podem tirá-lo do comando de um possível acordo com o grupo guerrilheiro.

"As Farc não estão interessadas em dar nada ao governo unilateralmente", disse. "Acredito na possibilidade de que libertem mais seqüestrados a conta gotas, para que Chávez se torne imprescindível como mediador numa futura troca de seqüestrados por guerrilheiros."

Segundo a Fundação País Livre, 3.254 pessoas seguem seqüestradas na Colômbia. Algumas, em poder de grupos guerrilheiros, outras com a delinqüência comum. Com as Farc, estima-se que o total de seqüestrados seja de 774.

Desses, 44 são considerados canjeables (trocáveis) - 19 policiais, 14 militares oito políticos, entre eles a ex-candidata Ingrid Betancourt, e três cidadãos americanos -, que poderiam ser libertados em troca de 500 rebeldes presos.




Fonte: BBC Brasil

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