Superdotado de 14 anos passa no vestibular da UFPR
Charles foi aprovado no curso de Ciência da Computação, com entrada no primeiro semestre de 2008. A matrícula para esse curso será feita no dia 28 de janeiro.
Se quiser se matricular, no entanto, Charles terá de entrar com uma ação na Justiça, pois terminou o 1º ano do ensino médio em 2007. A UFPR exige que o aluno aprovado apresente o certificado de conclusão do ensino médio no ato da matrícula.
Em entrevista anterior ao G1, concedida na ocasião em que Charles foi aprovado no vestibular da PUC-PR, a mãe do menino disse que ele prestou vestibular sabendo que a universidade exigia o certificado de conclusão do ensino médio.
"Ele se inscreveu ciente deste problema, ele sabia que estava correndo esse risco. Se ele passar no vestibular, vamos tomar as providências necessárias", disse à época Fátima Mendes Rissato, 44 anos, mãe de Charles.
O G1 tentou conversar com Charles, mas não conseguiu localizá-lo nesta sexta-feira.
Ele já está matriculado na PUC-PR
Zânia Diório, gerente do Programa Bom Aluno (que mantém o estudante em escola particular e oferece todo o apoio pedagógico e psicológico), disse que Charles pretende cursar Engenharia da Computação na PUC-PR , e não o curso de ciência da computação na universidade federal. "O interesse dele é estudar engenharia. Ele prestou o vestibular da UFPR como treino", afirmou.
Segundo Zânia, o estudante está matriculado na PUC-PR, mas ainda precisa apresentar o certificado de conclusão do ensino médio, que a universidade também exige. "O Charles vai passar por uma série de avaliações, inclusive em outras escolas, para concluir o ensino médio", disse.
De acordo com Zânia, se Charles conseguir a documentação, o programa Bom Aluno vai arcar com todas as despesas necessárias para mantê-lo na universidade. "Vamos pagar a mensalidade, vamos comprar livros, arcar com o transporte, alimentação. A família não terá gasto nenhum, pois o objetivo do nosso programa é oferecer oportunidades para bons alunos", disse, acrescentando que talvez seja necessário entrar com uma ação judicial para prorrogar o prazo de entrega da documentação.
Maturidade
Zânia afirmou que apesar de ter apenas 14 anos, Charles tem maturidade suficiente para cursar o ensino superior. "O programa avalia não apenas a superdotação, mas também as condições psicológicas do aluno. O Charles está preparado pois sempre teve acompanhamento pedagógico e psicológico para isso".
O estudante também tem uma avaliação feita pelo Instituto para a Otimização da Aprendizagem (Inodap), órgão credenciado na Associação Brasileira de Superdotação e responsável pelas avaliações de superdotação de Charles.
"O Bom Aluno tem cerca de 1.000 alunos no país. E posso dizer que o Charles é um dos poucos no Brasil que está enfrentando uma situação dessas", afirmou Zânia.
Quando criança, quis um dicionário
A superdotação de Charles foi percebida por causa das atitudes diferenciadas na infância. Antes dos 4 anos de idade ele já sabia ler e escrever algumas palavras. Aos 5 anos, na pré-escola, dava opiniões durante as aulas e apresentava comportamento diferenciado dos colegas. Da 1ª à 4ª série do ensino fundamental, achava entediante as aulas e já sabia de cor a tabela periódica de química - disciplina que não fazia parte do currículo das aulas.
"Ele sempre quis comprar livros e mapas. Adorava decorar os nomes dos países e suas capitais. Não queria brinquedos como os outros garotos da idade dele, como bolas e carrinhos. Quando ele tinha 7 anos, ele pediu de presente um dicionário", contou a mãe de Charles, que é professora de pintura em tecido. Segundo Fátima, logo depois Charles quis um dicionário de inglês e outro de espanhol. Autodidata, aprendeu o vocabulário das línguas sozinho.
Quando cursava a 7ª série, ainda em um colégio público de Curitiba, Charles foi encaminhado para o projeto "Bom Aluno", que tem como objetivo incentivar alunos de baixa renda a estudar. Graças ao programa, Charles conseguiu uma bolsa de estudos integral no colégio Bom Jesus, onde ainda estuda.
"Desenvolvi o gosto pela leitura muito cedo e sempre quis me aprofundar nos estudos. Em vez de brincar, preferia ficar em casa estudando. No começo, achava as aulas entediantes porque eu sabia todo o conteúdo. Sofria muito por causa disso, os colegas me zoavam. Atualmente faço terapia e já sei lidar um pouco melhor com a superdotação", contou Charles ao G1.
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