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Economia
Sexta - 11 de Janeiro de 2008 às 15:44

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Alimentos fizeram índices dobrar em 2007 e acenderam 'luz amarela' na economia.

Inflação ainda está sob controle, mas exige cautela, segundo analistas.

Uma antiga conhecida dos brasileiros acendeu a luz amarela da economia no segundo semestre do ano passado. Puxada pela alta dos alimentos, que chegou a 200% em alguns produtos, a inflação de 2007 assustou – e deve pesar no bolso do consumidor nos próximos meses, já que os índices do ano passado são usados para reajustar tarifas de energia, telefone e aluguéis, entre outros.

Com a divulgação nesta sexta-feira (11) do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), todos os principais índices de inflação tiveram elevação acentuada em 2007. O IPCA, a "inflação oficial" usada pelo Banco Central para definição das metas de inflação, ficou em 4,46%, uma alta de 42% sobre o indicador de 2006, que subiu 3,14%.

Também na passagem de 2006 para 2007, na medição pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), a inflação dobrou, passando de 3,79% para 7,89%. O IGP-M, índice que regula o preços dos aluguéis, subiu 7,75% no ano passado. Segundo especialistas, no entanto, a alta da inflação assusta por ter sido inesperada, mas não é fator para grande preocupação. "Sinaliza para um risco potencial, mas ainda não há descontrole", diz Pedro Vartanian, da Trevisan Escola de Negócios.

"Esse quadro no fim do ano realmente colocou um pouco de incerteza sobre o cenário de inflação. Vieram resultados ruins, mas por enquanto não se vê nenhuma trajetória tão preocupante", concorda Jean Barbosa, da Tendências Consultoria.

Números e reação

De fato, os índices de 2007 não são superiores a outros já vistos mesmo após a consolidação do Plano Real, que colocou sob controle a inflação, a partir de 1996. Em 2002, ano prejudicado pela disparada do dólar, o IPCA fechou em alta de 12,53%. No mesmo ano, o IGP-DI subiu 24,41%.

Também não se parecem, nem de longe, com os números de 1993, quando a inflação atingiu seu auge. Naquele ano, o IPCA fechou em 2.477,15%, enquanto o IGP-DI subiu 2.708,17%.

Reação dos juros

Ainda assim, colocou em alerta a política econômica do governo. Segundo o economista Everton Santos, da LCA Consultoria, a inflação é um dos principais motivos para a interrupção da queda da taxa de juros, mantida em 11,25% desde setembro passado. "Antes, pensávamos que os cortes [da taxa de juros] seriam retomados em abril. Agora, achamos que só em setembro, por conta desse repique da inflação", diz.

"A inflação acaba exigindo uma política monetária mais restritiva", diz Vartanian. "O BC terá que ver no começo deste ano qual será o efeito da manutenção da Selic na economia para poder avaliar uma retomada dos cortes mais para a frente."

Alimentos vilões

Segundo os economistas, dois fatores motivaram a alta da inflação: a sazonalidade e o crescimento da demanda, tanto interna quanto externa.

Para o consumidor, os alimentos tiveram alta de 10,28%, tornando-se os vilões da inflação de 2007. Os dois grandes responsáveis foram o feijão e a carne. O primeiro, com quebra de safra e ainda refletindo a seca do ano anterior, subiu mais de 200%. Já a carne subiu quase 15%, na maior alta desde 2002, refletindo as dificuldades climáticas que prejudicaram a alimentação do gado.

"Boa parte desses efeitos é sazonal. O problema é a que magnitude neste ano foi bem maior do que em anos anteriores", ressalta Santos.

"Além disso, ainda tem os combustíveis, que subiram nesse período por conta da entressafra da cana, o que acabou impactando o álcool e a gasolina", diz Jean Barbosa.

Segundo o professor Marcio Nakane, coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o período do ano também influencia os indicadores.

"As festas de fim de ano aumentam a procura por certos produtos e serviços. As férias escolares também, e a gente já começa a ver a influência do novo ano letivo sobre o preço do material", diz.

Mais dinheiro em circulação

Pelo lado da demanda, a expansão de crédito e do emprego, que aumentou o volume de recursos disponíveis, também pressionou a inflação. No 'front' externo, o forte crescimento de países como a China e a Rússia forçaram uma alta na demanda por produtos alimentícios e combustíveis – e seu conseqüente aumento de preço.

Nakane, porém, minimiza os efeitos da demanda sobre os índices. "O que a gente viu em alimentação neste ano foram problemas de oferta. A demanda influenciou mais na inflação de serviços do que na de alimentos".

Efeito em 2008

Para os próximos meses, os economistas projetam uma diminuição do ritmo de alta da inflação. Os custos industriais, exceto combustíveis e alimentos, permanecem sob controle, indicando que os demais preços devem voltar a uma estabilidade maior.

"As expectativas para a inflação pararam de subir, mas ainda continuam num patamar relativamente desconfortável", diz Santos, da LCA. A preocupação permanece sobre os alimentos que, na média, não devem cair, à exceção do arroz, feijão e carne, que podem devolver parte da alta.

Segundo o economista da Tendências Jean Barbosa, a pressão deve enfraquecer em janeiro, fazendo os IGPs voltarem a patamares mais tranqüilos. "Para 2008, os preços agrícolas devem mostrar alta menor. O principal ajuste deve ficar mesmo em 2007", diz.

Impostos

Os economistas descartam alterações significativas na inflação por conta do recente aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). "A gente não pode esquecer que antes teve o fim da CPMF. Então, no balanço das mudanças tributárias, o impacto não será muito grande", diz Nakane.

Para os consumidores, no entanto, a inflação de 2007 ainda vai pesar no bolso. Isso porque aluguéis, educação e serviços em geral, como tarifas de telefone, energia e pedágios, têm seus reajustes determinados pelos índices de inflação do ano anterior. "Em fevereiro, por exemplo, deve dar um novo repique com o reajuste das mensalidades escolares", diz Barbosa.

O reajuste dos aluguéis também pode se refletir até nas prateleiras dos supermercados. "É um aumento de custo para as empresas, que podem repassar aos consumidores", diz Vartanian. "Esses riscos, no entanto, podem ser eliminados no decorrer do ano, com a estabilização das taxas."





Fonte: G1

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