Pesquisa aponta que assassinato de índios aumentou 60% no Brasil
Pelo menos 76 índios foram assassinados no Brasil em 2007. É o que revela um levantamento preliminar do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O número supera em quase 60% os dados de 2006, quando havia sido registrado, até então, o maior número de crimes fatais da década contra integrantes de tribos indígenas. Em Mato Grosso, um homicídio foi registrado.
O índio Bororo Helenildo Bataru Egiri, 20 anos, morador do Assentamento Santo Antônio da Aldeia/MT, terra indígena Jarudori, foi assassinado com três tiros a queima-roupa. Segundo informações do Cimi, ao abrir a porta para desconhecidos que lhe pediram um copo de água, a vítima foi assassinada. O crime ocorreu no dia 17 de março de 2007.
Na região localizada no município de Poxoreu há conflito entre posseiros e índios que reivinvicam a posse da terra. Atualmente, há uma Ação Civil Pública de reintegração de posse de 4.706 hectaques da área Jarudori para os Bororo. Em junho de 2006 foi aberta uma nova aldeia dentro da área requerida e desde então o grupo vem sofrendo ameaças de morte.
Segundo o Cimi, a terra Jarudori, no município de Poxoréu, Mato Grosso, é registrada há mais de 50 anos, mas continua invadida por não índios. Os missionários salesianos que atuam na região vêm sofrendo pressão e ameaças, sobretudo em relação à sua atuação junto ao povo Bororo na terra Jarudori.
Homicídios
Destes homicídios, 48 ocorreram em Mato Grosso do Sul. Esse número equivale ao total de homicídios desse tipo cometidos no país em 2006. Em segundo lugar nas estatísticas, aparece Pernambuco, com oito mortes nos últimos 12 meses.
Os números divulgados pelo Cimi incluem casos que receberam destaque da imprensa brasileira. Entre eles, o do líder guarani-kaiowá Ortiz Lopes, morto a tiros em Mato Grosso do Sul, e do cacique Joaquim Guajajara, da Terra Indígena Araribóia, também baleado de forma fatal no Maranhão.
Em abril, o Cimi divulgará o Relatório de Violência contra Povos Indígenas no Brasil, com dados sobre as violações dos direitos indígenas em 2006 e 2007. O relatório trará números sobre ameaças, tentativas de assassinato, mortes por desassistência (suicídio, falta de atendimento médico...), invasões de terras indígenas, entre outros. O relatório também analisará o crescimento da violência contra os povos indígenas.
“O Cimi vai apresentar dados completos e vai alcançar outros tipos de violência que são praticados contra a comunidade indígena que são inúmeras. O relatório vai trazer dados de 2006 e 2007”, explicou o vice-presidente do conselho, Roberto Liebgott.
Falta de políticas e conflitos por terra determinam mortes de índios, avalia conselho
A falta de políticas públicas para atender interesses dos povos indígenas e as disputas territoriais são as principais causas do aumento do número de índios assassinados no Brasil. A avaliação é do vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Roberto Liebgott.
“Os atos de violência têm se acirrado de uma maneira exorbitante nos últimos tempos. Nesse último ano é uma coisa que nos abala profundamente. A gente percebe que na verdade existe uma negligência do Estado nesse sentido”, comentou.
O vice-presidente do Cimi diz estar apreensivo com o crescimento da violência contra a população indígena e aponta falhas do governo que, segundo ele, não atende reivindicações das populações.
Desentendimentos por questões territoriais também são responsáveis pelos conflitos violentos nos demais estados, de acordo com os levantamentos do Cimi. “Em outras regiões os conflitos também são iminentemente em função da terra. Há muitos invasores sobre territórios indígenas que querem usufruir dos recursos naturais existentes nas áreas indígenas. Os povos indígenas fazem pressão contra as invasões e aí há automaticamente conflito e assassinato de pessoas”, explicou o vice-presidente do conselho.
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