Estudo questiona necessidade de antibiótico contra sinusite
Uma pesquisa questionou o uso de antibióticos para tratar sinusite aguda e mostrou que, em muitos casos, eles podem ser desnecessários para o desaparecimento de sintomas.
Cientistas da Universidade de Southampton, na Inglaterra, acompanharam 240 pessoas com crises de sinusite causada por bactérias e verificaram que 64,4% dos que não tomaram antibiótico já não apresentavam sintomas dez dias após a manifestação da crise.
O desempenho não foi muito pior que o dos pacientes tratados com amoxicilina --remédio mais comumente prescrito para tratar a doença. Setenta e um por cento deles não tinham os sintomas após os dez dias.
A possível explicação, segundo os autores do estudo, é a dificuldade de o antibiótico penetrar nas cavidades com muco.
"O resultado é interessante, e há estudos com conclusões semelhantes sobre outros antibióticos, mas ainda é preciso comprovação com novas pesquisas", diz Tatiana Abdo, da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia. Para ela, parte das sinusites virais e bacterianas têm resolução espontânea, e um nariz escorrendo ou dor na face nos primeiros dias não justificam o antibiótico.
Apesar dos resultados, os últimos consensos médicos ainda recomendam a amoxicilina no tratamento. "Se houver piora relevante até cinco dias após a manifestação da doença ou caso os sintomas não desapareçam em dez dias, o antibiótico é indicado", diz a médica.
Prescrição
A pesquisa chama a atenção para prescrições desnecessárias, muitas vezes feitas em pronto-socorros sem uma maior análise. No Reino Unido, por exemplo, onde foi feito o estudo, 92% dos casos de infecções respiratórias recebem prescrição de antibiótico.
"Talvez tenhamos que usá-los com mais racionalidade para evitar resistência no organismo", afirma Tatiana.
Já Eliezia Helena de Lima Alvarenga, otorrinolaringologista do Hospital Samaritano, concorda que muitos casos de sinusite se resolvem naturalmente, mas discorda da impressão dada pelo estudo de que usar antibiótico e não usar nada dá no mesmo.
"Não se pode comparar com placebo a eficiência de só um produto, a amoxicilina, que já encontra até uma certa resistência no organismo, e concluir que o antibiótico tem pouca utilidade", diz. Segundo ela, essa resistência existe também porque muita gente compra o remédio por conta própria.
"Mesmo assim, a amoxicilina é hoje uma boa opção, principalmente quando aliada a outros remédios. Ela é o antibiótico mais acessível à população em geral. Se o paciente não está melhor em 48 ou 72 horas tomando amoxicilina, muda-se a medicação", afirma, criticando o método usado no estudo em que os pacientes tomaram o antibiótico por sete dias.
Outra crítica ao estudo é do professor da Unifesp Mário Sérgio Munhoz, que diz que o desaparecimento dos sintomas verificados não significa que os pacientes que não tomaram antibiótico ficaram curados. "A doença pode ter evoluído para sinusite crônica", afirma.
O estudo foi publicado em dezembro, no jornal da Associação Médica Americana.
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