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Economia
Sexta - 28 de Dezembro de 2007 às 22:47

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SÃO PAULO - Apesar de ameaças externas e da configuração de uma crise séria e ainda em andamento lá fora, a Bolsa e Valores de São Paulo (Bovespa) conseguiu passar pelo ápice do estresse, em agosto e setembro, com um saldo de 43 recordes de pontuação no ano, e fechar 2007 com 63.886 pontos. Um ganho de 43,65% em relação a 2006, ano que a bolsa paulista já havia avançado 32,92% (44.470 pontos).

Foi, de longe, a melhor aplicação financeira doméstica, já que o Certificado de Depósito Bancário (CDB) valorizou apenas 11,87%, seguido pelo Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, +11,81%) e pelo ouro (+11,26%), de acordo com os dados do Valor Data. Mais abaixo, aparece a caderneta de poupança (+7,70%) e por último o dólar, que registrou desvalorização de 16,85% ante o real, cotado a R$ 1,775 no último pregão do ano.

A moeda, aliás, contrariou as expectativas do início de 2007, que indicavam estabilidade ou uma queda pequena para a divisa. O movimento de baixa, entretanto, acabou sendo estimulado tanto pelo fluxo, como pela tendência global do dólar de enfraquecimento em relação a outras divisas.

Já o mercado de juros foi o que mais sentiu os impactos de mudanças de projeções. Ao contrário das expectativas de início de 2007, que indicavam cortes da Selic ao longo de todo o ano, o Banco Central estacionou a taxa básica de juros na reunião de outubro, em 11,25%. Agora a dúvida gira em torno de uma eventual necessidade de alta da taxa no próximo ano.

Depois da performance de 2007, os analistas indicam que 2008 pode apresentar mais percalços e ser um ano desafiador para os investidores, não só pelo quadro internacional de adequação de ativos, mas também pela incerteza em relação ao juro local e às contas do governo.

Na verdade trata-se de uma extensão de problemas verificados ao longo deste ano. Em junho, quando veio à tona a crise de crédito hipotecário de alto risco nos EUA - o subprime - o mercado passou pelo primeiro susto. A situação ficou ainda mais delicada em agosto e setembro quando grandes bancos começaram a reportar perdas maiores com exposição nesse tipo de financiamento.

Foi um choque maior que o avaliado inicialmente e com impactos variados nas economias. No Brasil o efeito foi menor, pois os fundamentos fiscais e de balanço de pagamentos estavam inegavelmente melhores , lembra Luís Fernando Lopes, sócio do Pátria Investimentos, diretor da área de Capital Management.

Não bastasse isso, já em agosto a inflação dava sinais de recrudescimento no Brasil e, embora tenha retrocedido um pouco no mês seguinte, hoje está configurado um consenso em torno da real pressão de demanda e das dúvidas em relação à oferta, pelo menos até que os investimentos produtivos maturem.

O último susto do ano veio com a fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta pelo Congresso neste mês, que significou uma derrota para o governo e um desafio para o orçamento da União no ano que vem, devido à perda de uma receita estimada em R$ 40 bilhões.

Conforme economistas, tudo isso continuará tendo efeitos sobre as transações de 2008. Lopes, do Pátria, acredita que num cenário benigno, ou seja, com a cena externa mais acomodada no segundo semestre e a inflação sob controle, sem necessidade de alta de juros. Para ele, o Ibovespa não sobe mais do que 20%, o dólar deve manter uma média de R$ 1,80 e o CDI deve sustentar variação em torno de 11%.

O cenário externo continuará com instabilidade. O problema de crédito lá fora não termina, mas é equacionado na primeira metade do ano e no segundo semestre deve ocorrer a contabilização das perdas , avalia, destacando que a febre de IPOs (lançamento de ações no mercado) verificada no início deste ano não tende a se repetir no ano que vem.

Newton Rosa, economista da Sul América corretora, concorda que em 2008 os riscos aumentam. Embora haja uma herança benéfica de 2007, com recomposição de massa salarial e juros menores, ele destaca que o esgotamento da capacidade instalada é, sim, uma ameaça aos preços. Corre-se o risco de alta de uma taxa de juros ao longo do ano , diz.

Para Lopes, no entanto, há ainda espaço para corte da taxa de juros no último trimestre de 2008. Aliás, se isso não se confirmar e os juros subirem, a tendência, segundo ele, é que a bolsa paulista devolva os ganhos deste ano.

No cenário fiscal, os especialistas concordam que o governo deveria aproveitar o momento de refazer contas após a perda da CPMF, diminuir as despesas e assegurar com maior firmeza a redução da relação entre dívida pública e PIB. Aí estaríamos plantando a semente para uma eventual reforma tributária e até para a conquista do grau de investimento ainda no primeiro semestre , diz Newton Rosa.

Para Alexandre Lintz, estrategista-chefe do BNP Paribas, o governo deve compensar a CPMF com redução de gastos, o que permitiria ao BC retomar o corte de juro e assim favorecer a concessão do grau de investimento ao país.

O governo tem a chance de dar notícias boas para o mercado no ano que vem, mas se escolher o lado ruim, com aumento de imposto, isso gerará pressão de custos e levará o BC a adotar uma posição mais dura , diz Lintz.

De qualquer modo, se o Brasil continuar se mostrando um emergente atraente aos investidores estrangeiros, a tendência para o mercado acionário é de que papéis tradicionais e de grande peso na bolsa paulista, como Petrobras, Vale, CSN, Usiminas, continuem puxando o Ibovespa.

Para Álvaro Bandeira, sócio da corretora Ágora Senior, continuarão com boas perspectivas em 2008 os setores siderúrgico, de mineração, petróleo e commodities em geral (isso se os preços internacionais se mantiverem em alta). Também continuará favorável o cenário para papéis de bancos e de empresas de bens duráveis, além de algumas ações do setor de construção, devido ao andamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que promete deslanchar em 2008.




Fonte: Valor Online

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