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Internacional
Domingo - 23 de Dezembro de 2007 às 09:29

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Santa Cruz de La Sierra - Nas terras férteis do oriente do país, o governo boliviano abriu uma frente de batalha que já paralisou os investimentos e ameaça sufocar um dos setores mais dinâmicos da economia da Bolívia. O alvo do presidente Evo Morales são os produtores da região de Santa Cruz, o maior pólo agroindustrial do país e o principal reduto da oposição regional.

“Esse será o fim do latifúndio na Bolívia”, proclamou Evo há um ano, quando o Congresso aprovou uma nova lei de terras, festejada como uma “revolução agrária” pelas organizações sociais afins ao presidente. Agora, é o projeto para uma nova Constituição que está tirando o sono dos agropecuaristas - entre eles, muitos brasileiros.

Dentro de alguns meses, os bolivianos irão às urnas para decidir sobre o Artigo 398 dessa nova Carta, que limita o tamanho das propriedades rurais. Será a primeira da maratona de consultas populares previstas para o próximo ano na Bolívia. A pergunta que eles terão de responder não será se esse limite deve existir ou não. Simplesmente, em que patamar ele deve ser colocado - 5 mil ou 10 mil hectares. As propriedades que excederem essas dimensões serão consideradas latifúndios. Como tal, estarão sujeitas à desapropriação. Sejam elas produtivas ou não.

“No caso do limite mais estreito, os 5 mil, se essa regra for aprovada, inviabilizará cerca de 80% das fazendas de pecuária do país”, disse Maurício Roca, presidente da Câmara Agropecuária do Oriente (CAO). “Também estaríamos abrindo um precedente perigoso ao permitir que o Estado possa definir o que os indivíduos podem ter ou não.”

Propriedades produtivas e modernas

Segundo o presidente da Comissão de Recursos Naturais e Terra da Assembléia Constituinte boliviana, Carlos Romero, que pertence ao partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), cerca de 4 mil famílias perderiam terras se o limite mais estreito fosse aprovado. Se passassem os 10 mil, ele diz que seriam apenas 20 famílias. “O problema é que todas são propriedades altamente produtivas e modernas, que contribuem para as exportações e a segurança alimentar da Bolívia”, defende Roca.

Entre os produtores, o sentimento é de surpresa e indignação. Muitos não conseguem entender como, num piscar de olhos, uma terra repleta de oportunidades se tornou um azarão. Há três anos, a área cultivada em Santa Cruz crescia a uma média de 7 a 10%. As fazendas se mecanizavam. Os produtores contratavam gente, investiam em novas tecnologias e estavam sempre de olho nas terras mais além da sua porteira: o objetivo era crescer e aumentar a produção. Hoje, os investimentos estão praticamente estancados.

“O governo boliviano está usando a terra para fazer política enquanto diz estar preocupado com um problema social”, diz o brasileiro naturalizado boliviano Nilson Medina, que teme pelos 7 mil hectares onde planta principalmente soja nas proximidades da cidade de Santa Cruz de La Sierra. Ele faz parte de uma das 200 famílias brasileiras que se dedicam à agricultura na Bolívia. Muitas outras se dedicam à pecuária. No total, os brasileiros são responsáveis por um terço da produção de soja e detêm mais de 10% das terras cultivadas do país. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo .





Fonte: AE

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