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Sexta - 21 de Dezembro de 2007 às 10:28
Por: Lourembergue Alves

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Os anos passam, mudam-se igualmente os valores. Só os termos continuam com o mesmo conceito, assim como seus sentidos, certo? “Errado”, dizem os petistas, sobretudo agora que o seu maior líder tornou presidente da República. A palavra se mantém como “conjunto de sons articulados, de uma ou mais sílabas”, porém “o seu significado tende a ser outro”, argumentam. Talvez, por isso, defendem tanto a criação de uma emissora de televisão pública, através da qual possam divulgar os feitos do governo, uma vez que o país está dominado pela imprensa marrom.

Imprensa marrom, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, é “a que explora o sensacionalismo, dando larga cobertura a crimes, fatos escabrosos e anomalias sociais”. Da mesma forma como a usada no Webster estadunidense para “yellow journalism”. Tanto o “yellow”, quanto o marrom brasileiro é também xingamento, em especial quando alguém, quase sempre encarrapitado no poder, não gosta das verdades publicadas no jornal ou divulgadas pelas emissoras de TV e de rádio. O curioso é que os mesmos veículos de comunicação hoje rotulados como tal pelos petistas, são exatamente aqueles que, no passado, eram tidos como partidários da democracia, afinal ajudaram a massificar a história de vida do senhor Lula da Silva, transformando-o em herói e mito.

Por isso, nenhum integrante do PT saiu contra as matérias jornalistas publicadas na época, tampouco acusou seus divulgadores de buscarem a todo custo alta audiência e vendagem com crimes e acontecimentos apelativos, sequer saiu em defesa da privacidade, nem mesmo quando o alvo era um presidente da República. Ao contrário, não se cansava de repetir trechos enormes delas nas salas de aula, nos botequins, nas filas dos bancos e nos logradouros. O “Fiat Elba”, “PC” e o “pagamento das despesas da Casa da Dinda” transformaram em temáticas prediletas, bem como as negociatas para aprovação do instituto da reeleição. Seus discursos, antigos, evidentemente, estão abarrotados de denúncias veiculadas antes pela mídia.

A mesma que, hoje em dia, “caiu em desgraça”, só porque a lista dos acusados tem outros nomes. São pessoas que fizeram parte da cúpula do partido petista e exerceram grande influência no governo Lula, ou formam a chamada base aliada. Razão pela qual é grande a relação dos mensaleiros, que hoje são réus no Supremo Tribunal Federal, graças às provas colhidas por uma CPMI e as consistências dos relatórios do Procurador Geral da República e do Ministro-relator Joaquim Barbosa.

Explica-se, portanto, o porquê muitos petistas não lêem mais os grandes jornais e uma ou outra revista de porte considerável. Afinal dizem, “com a boca cheia”, “não ter tempo a perder” com “notícias sensacionalistas e apelativas”. Fazem muitíssimo bem, pois estas são classificadas, por eles próprios, logicamente, como “golpistas”. Não as considerariam como tais, evidentemente, caso os denunciados tivessem outras origens, longe da “praia petista” ou do circulo de amizade do ex-metalúrgico, agora na presidência do país.

Mais parece, então, palavras vazias, que mudam o sentido quando o cursor petista se move sobre ela. Geralmente mostradas em cores diferentes. Certamente em “marrom”, a cor da imprensa que gosta de exagerar no conteúdo anunciado, do tipo daquela foto que registrou um montão de notas de reais e dólares para comprar certo dossiê. A propósito, qual a origem desse dinheiro? Será o mesmo do valerioduto petista? Ninguém dá a mínima para tais respostas, pois estas pertencem ao quadro de temas tidos como “sensacionalistas”, “apelativos”.

Tem-se, aqui, o interesse individual predominando. O que mata a esperança do plural, que alimentaria o contraditório e, por conta disso, a democracia.

Lourembergue Alves é professor universitário e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.





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