Após 23 dias de greve de fome contra transposição, bispo é hospitalizado
"Ele está semiconsciente, com o estado geral comprometido e será internado por determinação minha para evitar possíveis danos permanentes", afirmou o médico.
À noite, já em Petrolina, João Franco Cappio, irmão do bispo, desautorizou a Articulação do São Francisco Vivo “ou qualquer outra pessoa” de outros movimentos a falar em seu nome. “Só quem pode falar pelo frei Luiz é a família e o médico”, afirmou. “A greve de fome acabou.”
Franco contou que foi ele quem providenciou a ambulância e que o bispo estava na UTI, “não por necessidade, mas para ser medicado, porque está muito fraco”. O irmão insistiu em que d. Luiz foi levado ao hospital com sua autorização e da família. “Ele disse, faz o que o senhor achar melhor, doutor.”
Rita, irmã de d. Luiz, disse que o desmaio de d. Luiz foi resultado das notícias sobre o Supremo. “Ele já estava debilitado e levou um choque ao saber da decisão.”
"Muito abalado", segundo sua assessoria, com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de liberar as obras, Cappio desmaiou na tarde desta quarta enquanto discutia uma nota para repercutir o julgamento. "É um desalento muito grande", disse o bispo antes de desmaiar, de acordo com o coordenador da Pastoral da Terra, Rubens Siqueira.
Entrando no 23º dia em greve de fome, d. Cappio, que tem 61 anos, emagreceu mais meio quilo e pesa agora 63,5 quilos. Desde o início do jejum, ele emagreceu 9 quilos. No boletim médico divulgado mais cedo, pelo frade franciscano e clínico geral Klaus Finkam, d. Cappio havia se queixado de dores em todo o corpo, no início da noite da última terça, mas conseguiu dormir.
Decisões do STF
Em duas decisões nesta quarta-feira, 19, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu liberar imediatamente a retomada das obras de transposição do Rio São Francisco. As decisões foram dadas em caráter liminar e o mérito da reclamação ainda precisa ser julgado pelo STF, ainda sem data para ocorrer.
Na primeira, o ministro Carlos Alberto Direito atendeu a uma reclamação da Advocacia-Geral da União que contestava a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, na semana passada, que alegava que o governo não teria cumprido todos os requisitos legais para dar continuidade à obra.
Na segunda, por seis votos a três o STF negou o pedido do Ministério Público para paralisar a obra de transposição do Rio São Francisco, em caráter liminar. Assim como a primeira decisão, o julgamento vale até que o STF aprecie o mérito da ação civil, em data ainda não definida. Prevaleceu no julgamento a tese de que o governo está tomando todos os cuidados e cumpriu todos os pré-requisitos necessários para a liberação da obra.
Na noite de terça, o bispo enviou ao presidente Lula, em Brasília, uma contraproposta para interromper sua greve de fome. A primeira de oito exigências listadas no documento é a suspensão das obras de transposição do Rio São Francisco, com a retirada das tropas do Exército.
No entanto, o Palácio do Planalto rejeitou as duas principais exigências feitas pelo bispo. Por volta de 17 horas, a assessoria do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou por telefone à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que o governo rejeitava a suspensão das obras de transposição do rio São Francisco e a mudança no projeto oficial, com a redução do volume de água para os Estados de Pernambuco e Paraíba.
AS 8 REIVINDICAÇÕES
1. Manter a suspensão das obras, com retirada imediata do Exército
2. Adução de 9 m³ por segundo de água para áreas de PE e PB
3. Realização de obras previstas pela ANA
4. Apoio a projetos de armazenamento de água para consumo
5. Revitalização da Bacia do Rio São Francisco
6. Revitalização dos Rios Jaguaribe, Piranhas-Açu e Parnaíba
7. Apoio técnico na elaboração do Pacto das Águas
8. Plano de Desenvolvimento Sustentável para o semi-árido
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