Presidentes do Mercosul apóiam Bolívia em reunião de cúpula
Na segunda manifestação regional de apoio recebida em uma semana pelo presidente boliviano, Evo Morales, os líderes do bloco reunidos nesta terça-feira em Montevidéu deram um sinal claro de que não pretendem ficar de braços cruzados diante das turbulências enfrentadas pelo país andino.
"Saiba que o senhor (Morales) conta, em nome de todos aqui presentes, com o respaldo dos países que integram o Mercosul", disse em um discurso o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez.
A Bolívia, um importante fornecedor de gás natural na América do Sul, atravessa uma crise política devido à aprovação de uma nova Constituição que aprofunda a nacionalização da economia do país e é rechaçada por vários Departamentos (Estados) controlados pela oposição e que ameaçam separar-se do restante do território.
"Evo, que Deus cuide de você e que Deus cuide da Bolívia. É preciso avisar o império (norte-americano): se derrubarem aquele governo legítimo, isso pode provocar um terremoto em toda a América", disse a jornalistas o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, defendendo a teoria de que os EUA alimentam a instabilidade na Bolívia.
Como o Chile, a Bolívia é membro associado do Mercosul, uma união aduaneira formada pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. A Venezuela tenta ingressar no bloco.
Na semana passada, vários presidentes de países sul-americanos tinham divulgado um comunicado de apoio ao governo boliviano, enquanto que a presidente do Chile, Michelle Bachelet, e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, viajaram no domingo para La Paz a fim de manifestar sua postura pessoalmente.
Morales, o primeiro presidente de origem indígena da história do país mais pobre da América do Sul, agradeceu o apoio dos presidentes e disse que "há intromissão estrangeira, responsável por fortalecer alguns grupos que não aceitam as mudanças."
"Há grupos (na Bolívia) que não aceitam que nos dediquemos aos pobres", acrescentou.
A recém-empossada presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, apontou para a mesma direção quando se referiu ao processo judicial iniciado nos EUA para investigar se a Venezuela tentou entregar ilegalmente 800 mil dólares a sua campanha eleitoral.
A Venezuela e a Argentina afinaram suas posições para afirmar que o processo representa uma manobra política organizada em Washington com vistas a prejudicar as relações de proximidade mantidas pelos dois países.
"Algumas pessoas que fazem política dentro e fora dos nossos países são as que realizam operações sujas e políticas sujas na região", afirmou Cristina, em discurso.
"Não podemos ser ingênuos, amigos e amigas presidentes. Creio que muitas vezes sofreremos, como estamos sofrendo agora, com 'interferências', para nos referirmos a isso de forma diplomática", acrescentou.
Lula, por sua vez, evitou transferir a culpa para fora do bloco e conclamou seus colegas a adotarem decisões capazes de aprofundar a integração regional.
"Se não avançarmos mais, a culpa será principalmente nossa, porque, muitas vezes, não fazemos valer o mandato presidencial que conquistamos nas urnas", afirmou o líder brasileiro.
"Sei que podemos avançar nos próximos dois anos o que não avançamos em dez. Isso depende única e exclusivamente de nossas decisões política", acrescentou.
O maior sucesso da atual cúpula do Mercosul foi a assinatura de um acordo de livre comércio com Israel, o primeiro do tipo firmado pelo bloco com um país de fora da América Latina.
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