Gay agredido em Niterói agora é alvo de violência no Orkut
RIO - Depois de ter sido espancado na madrugada do dia 30 de novembro, na saída de uma boate gay em São Domingos, Niterói , o estudante Ferruccio Silvestro, de 19 anos, agora é alvo de outro tipo de violência. Criada no site de relacionamentos Orkut, a comunidade "Ferruccio devia ter apanhado mais", para pessoas que acham que o rapaz apanhou pouco, reunia até o fim da tarde desta quarta-feira 233 pessoas fazendo comentários homófobos contra o rapaz, homossexual assumido, e os gays. Entre os tópicos discutidos no fórum estavam: "kill them all" (mate-os todos) , "os agressores têm meu apoio", "o que você usaria para bater nele?" e " só bateram?".
A comunidade - mediada por pessoas que se identificam como 3/1L X, Rainha Cleópatra e Alex - exibe uma foto do olho roxo da vítima, ao lado de um brasão com uma caveira envolta por correntes e espetada por uma espada onde se lê as iniciais HDB, de Homens de Bem.
"Deveria haver um encontro com todos dessa comunidade e tacar uma bomba e só ver purpurina voando!" diz um membro que se identifica como Naamah, acrescentando que os homossexuais merecem a forca.
Na quarta-feira, o advogado Valério Aguiar, do Grupo Diversidade de Niterói, denunciou o caso ao Ministério Público estadual com cópias das páginas do Orkut. Já o delegado Antenor Martins Júnior, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), disse que vai analisar o caso e, se for verificado qualquer tipo de delito, o Google, responsável pelo Orkut, será oficiado e obrigado a tirar a comunidade do ar.
Ferruccio soube da comunidade por uma amiga.
- O que eles (criadores da comunidade) não sabem é que há como identificá-los. Quem fez esta brincadeira de mau gosto vai ter que pagar.
Homossexual assumido, Ferruccio foi agredido por três rapazes, aparentemente de classe média, com idade entre 18 e 25 anos, que o abordaram e gritaram: "Não queremos veados na nossa área". Ferruccio ainda correu cerca de 400 metros e escondeu-se no banheiro de um posto de gasolina na Avenida Visconde do Rio Branco, em frente ao Clube Canto do Rio, mas acabou sendo alcançado. Depois de alguns minutos de surra, o estudante desmaiou. Ferruccio disse acreditar que os agressores só foram embora por pensarem que ele estava morto.
Agressor disse que se sentou assediado por Ferruccio
A polícia chegou a suspeitar do envolvimento dos agressores com grupo neo-nazista . Na segunda-feira, um rapaz de 15 anos admitiu ter agredido Ferruccio após, prestar depoimento na 76ª DP (Centro) . Ele disse aos policiais que voltava de uma boate, em Santa Rosa, e havia parado em São Domingos para lanchar. Segundo o rapaz, a confusão teria ocorrido porque ele pensou ter sido assediado por Ferruccio. Três testemunhas foram à 76ª DP e o reconheceram. O menor mora no mesmo bairro onde houve o espancamento.
Essa não é a primeira vez que a opção sexual motiva o preconceito e a violência em Niterói. Em agosto deste ano, dois companheiros foram agredidos por quatro jovens, pouco antes da festa do Orgulho Gay, que reuniu 100 mil pessoas em Icaraí. Por causa dos casos - crescentes - de agressão a homossexuais em Niterói, a cidade será uma das três que irá receber um centro de combate à homofobia. Já existem três no estado: um no Rio, um em Friburgo e outro em Duque de Caxias.
Comentários