Brasil começa a produzir urânio enriquecido em escala comercial em 2008
O Brasil começa, a partir do próximo ano, a produção de urânio enriquecido em escala suficiente para abastecer parte das necessidades das usinas de Angra 1 e 2. A informação é do presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Tranjan Filho. Ele recebeu, nessa quinta-feira (6), na sede da empresa em Resende (RJ), a visita do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea), Mohamed El Baradei.
"A nossa expectativa é de que, em meados já de 2008, nós possamos produzir cerca de 5% das necessidades nacionais, crescendo a partir daí", explicou Tranjan.
Com o enriquecimento do minério, o Brasil vai economizar dinheiro, que hoje é pago a empresas estrangeiras encarregadas do processo: "No momento em que você passa a produzir, deixa de pagar lá fora. É uma economia e uma entrada de divisas".
Até 2010, a usina de enriquecimento vai ter capacidade de atender 60% da demanda de Angra 1 e 2, o que representará uma economia de US$ 10 milhões por ano.
O presidente da INB disse que, além de atender a demanda interna por urânio enriquecido, um dos objetivos da empresa é se tornar exportadora do minério. Até 2030, Tranjan calcula que haverá mais 60 novas usinas nucleares operando no mundo, que vão requerer fornecimento contínuo de combustível.
Na visita à INB, El Baradei teve acesso a um dos segredos mais bem guardados da tecnologia nuclear brasileira: o sistema de ultracentrífugas em cascatas para enriquecer urânio, desenvolvido no país. Segundo o presidente da INB, El Baradei foi a primeira pessoa, fora do corpo técnico nacional ou do governo federal, a ter acesso ao equipamento. Atualmente, a nova geração de cascatas é 40% mais eficiente que as anteriores.
Para alimentar as usinas nucleares, é necessário enriquecer o urânio, que é encontrado na natureza em concentração de apenas 0,7% do tipo 235 - o que alimenta reatores. Para permitir o uso na geração de energia, o combustível tem que chegar ao mínimo de 3,5% de urânio 235, o que é conseguido após um complexo processo.
Das minas, o urânio se transforma em uma pasta de cor amarela (yellow cacke), que gera um gás, posteriormente enriquecido nas ultracentrífugas até virar um pó, que é prensado em forma de pastilhas de um centímetro de diâmetro. A fase do gás ainda é feita no exterior enquanto a fábrica de Resende não está com capacidade comercial para garantir a produção.
As pastilhas são colocadas dentro de tubos de um aço especial e formam os elementos combustíveis das usinas nucleares. Apenas duas pastilhas são suficientes para gerar energia para uma residência por um mês.
O Brasil tem uma das maiores reservas de urânio do mundo, com potencial estimado de 300 mil toneladas, concentradas na Bahia (Lagoa Real e Caetité) e no Ceará (Itataia), o que é suficiente para suprir as necessidades internas e ainda garantir excedente para exportação.
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