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Repórter News - reporternews.com.br
Cidades/Geral
Segunda - 03 de Dezembro de 2007 às 07:15
Por: Silvana Ribas

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Só em Mato Grosso foram registradas nas delegacias 1.218 casos de pessoas desaparecidas até outubro de 2007. No ano passado foram 1.212 registros. Em Cuiabá, este ano, já foram denunciados 353 desaparecimentos e outros 111 em Várzea Grande, até 30 de outubro. São pessoas que deixam de ser vistas, somem, perdem-se ou morrem. O número de registros não corresponde ao volume total de casos, mas também não significa que todas as pessoas que desapareceram ainda não foram localizadas. Na maioria das vezes bastam algumas diligências para que o caso seja solucionado.

Violência doméstica, problemas com álcool e drogas e brigas familiares estão entre os principais motivos que levam muitas pessoas a "sumirem" por um período e depois "aparecerem". Mas em outros casos são anos de buscas sem qualquer pista e a certeza da morte do desaparecido se torna cada vez maior. É o que acredita a dona-de-casa Ivonete da Silva, 41. No dia 10 de novembro completaram cinco anos do desaparecimento do filho Rodrigo Silva Souza, que tinha 17 anos na época. Ele foi visto pela última vez na madrugada deste dia, sendo colocado em um porta-malas de um carro por três policiais militares. Nunca mais foi visto.

A mãe tem certeza que o filho foi morto, mas não se cansa de esperar que um dia o corpo seja achado e ela possa saber as circunstâncias da morte e que os responsáveis sejam punidos. O filho, que era seringueiro no interior, saiu naquela madrugada para ir em busca do irmão mais velho, que teria se envolvido em uma briga que resultou na morte de um policial. Rodrigo sumiu, outro irmão de 14 anos foi espancado e o filho acusado da morte do policial, morreu doente, há cinco meses, depois de se transformar em um andarilho, pelo que aconteceu com o irmão.

São muitos dramas familiares resultantes do desaparecimento de pessoas, explica Eliete de Sena Ferreira, responsável pelo único departamento do Estado que centraliza os registros sobre os casos de todas as delegacias. Mas a atuação do setor, que é coordenado por ela que também é a única servidora, é limitada. Contando com uma sala, um computador e um telefone, Eliete é responsável por iniciar as "investigações" de desaparecimentos que são encaminhados para ela por meio de boletins de ocorrência. "Os problemas começam aí. Na maioria dos casos quem preenche o boletim de ocorrência na delegacia não coloca informações básicas para que entremos em contato com a família. Não existem telefones para contados, fotos e endereços completos", desabafa.

Casos resolvidos - Mesmo com as dificuldade da falta de informação e da inexistência de estrutura no setor, em em março deste ano 100% dos 38 casos denunciados foram solucionados. Eliete diz que as famílias também não colaboram com a retirada da queixa quando as pessoas "sumidas", voltam, o que acaba deixando o nome delas inscritas no rol de desaparecidos. Diferente de outros sistemas nacionais, em Mato Grosso o setor de desaparecidos atua em casos que envolvem desde crianças até adultos e idosos e por diversas causas.

Em alguns dos casos, as investigações acabam sendo acompanhadas pela Delegacia de Homicídios. É o caso de um jovem de classe média alta, de 28 anos, dependente de drogas, que foi visto pela última vez sendo colocado em uma viatura da Polícia Militar na noite do dia 7 de novembro, no centro de Cuiabá. Outro caso investigado é o de um jovem desaparecido há mais de uma ano, fato denunciado pelo advogado.

Recentemente a família descobriu que o próprio advogado, desde que o jovem, sumiu já fez saques da conta da vítima que superam os R$ 30 mil. Outro caso misterioso é o do evangélico Wilian Batista Luz, 30, que no dia 9 de maio deste ano saiu de casa para ir ao dentista. Foi, se consultou mais não retornou mais para casa. Era recém-casado e um trabalhador pacato, sem motivos aparentes para fugir.

Ausência de estrutura - Falta uma viatura para diligências e Eliete depende de haver disponibilidade da equipe da Delegacia de Homicídios, que também tem sobrecarga de trabalho. O ideal seria uma fotocopiadora e um scaner. Uma máquina fotográfica para reprodução de fotos também seria ideal, explica. Acredita que ter uma página na rede mundial de computadores que divulgasse os nomes e fotos dos desaparecidos, principalmente dos casos mais graves, contribuiria para solução de muitos casos, diz a coordenadora do setor.

Hoje, Mato Grosso possui apenas fotos e informações de duas crianças desaparecidas, na página do site da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, que podem ser vistos pelo endereço www.desaparecidos.mj.gov.br

Mariza Tardelli, coordenadora da Rede Nacional de Identificação e Localização de Crianças e Adolescentes Desaparecidos (Redesap), disse que há a necessidade de constituir um cadastro nacional de crianças e adolescentes desaparecidos e que está trabalhando nisso. "Mas até o momento não identificamos o modelo ideal, uma vez que há necessidade de construção de um pacto federativo, entre união e estados e desenvolvimento de um sistema de informação que possa ser acessado por todas as delegacias, de todo o Brasil".

Ela cita a necessidade de investimento em capacitação específica dos policiais sobre o assunto e na equipagem adequada das delegacias. Como também encontrar mais canais de divulgação dos casos (fotos e informações) junto à sociedade como um todo.

"Hoje dispomos de parceria junto a Caixa Econômica Federal e aos Correios que disponibilizam a inserção de fotos das crianças e adolescentes nos bilhetes da loteria federal e nos formulários dos telegramas. Necessitamos encontrar mais parcerias para divulgação dos casos, uma vez que esta estratégia vem se mostrando um meio eficiente de encontro das crianças e adolescentes desaparecidos. Esse é um problema que toda a população deve estar envolvida na busca da solução", finaliza Mariza.

O diretor da Polícia Civil de Cuiabá, José Lindomar Costa, assegurou que existem estudos para o ano que vem a Secretaria de Justiça viabilizar um site ou uma página que divulgue as informações dos desaparecidos de Mato Grosso. Costa concorda que o setor funciona com dificuldades, por falta de um espaço adequado e de policiais para atuar. "Não temos recursos nem verbas de convênios para estruturar o setor e dependemos de administrar os recursos já existentes".





Fonte: Gazeta Digital

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