Pesquisa feita em MT pode proibir tráfego de cargas na madrugada
Uma medida debatida nesta semana em Brasília pode provocar um reboliço entre as autoridades e empresários que cuidam do transporte rodoviário do Brasil.
E toda a discussão surgiu a partir de uma pesquisa realizada em maio deste ano em Mato Grosso. O estudo assegura que o uso de drogas, principalmente as anfetaminas, entre os motoristas profissionais, cresce a cada dia.
Agora, os parlamentares pensam em aplicar uma regra que pode causar discórdia: restringir o tráfego de caminhões nas estradas das 22 horas às 5 horas da manhã.
O assunto fora debatido na quinta-feira (29), em audiência pública na Câmara dos Deputados e envolvera representantes dos trabalhadores, dos patrões, da agência reguladora do setor, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), e de procuradores federais.
A pesquisa que sustenta que ao menos cerca de 30% dos caminhoneiros usam substância ilícita para ficar acordado e conseguir trabalhar por mais horas seguidas, foi concluída pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) em Mato Grosso. O estudo diz ainda que depois da anfetamina, a droga mais consumida pelos caminhoneiros é a cocaína.
Para Paulo Douglas de Morais, procurador do MPT/MT, o “uso de drogas está intimamente ligado a uma jornada de trabalho maior”. Restringindo o período de tráfego nas estradas, acredita o procurador, os caminhoneiros terão pelo menos um período de descaso. O estudo mato-grossense fora contestado pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), saiba mais logo abaixo.
AS REAÇÕES DAS DROGAS
A anfetamina consumida nas estradas brasileiras é conhecida popularmente como rebite. O custo médio da droga é de R$ 20,00. O médico Lamberto Mário Henry, afirmou esta semana em entrevista a Agência Brasil, que “hoje, em quase todos os postos de gasolina, tem alguém para oferecer a droga, que causa euforia, insônia e energia em primeiro momento, mas depois gera depressão”.
A pesquisa do MPT/MT revelou ainda que 31% dos caminhoneiros trabalham mais de que 16 horas por dia, o dobro do recomendado pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Essa realidade está presente na vida de mais de 1 milhão de caminhoneiros.
De acordo com o estudo, o problema é maior entre os autônomos, que recebem por produção e, por isso, tendem a explorar ainda mais a jornada de trabalho. Eles respondem por 60% dos trabalhadores.
Outra pesquisa, realizada pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) entre janeiro e outubro deste ano, reafirma os dados do estudo de Mato Grosso.
Dos 103 mil acidentes com veículos ocorridos no período, mais de 40% envolviam ônibus, microônibus ou caminhões. Além disso, 30% dos motoristas desses veículos admitiram consumo regular de álcool e mais de 23% apresentaram sintomas de sonolência noturna.
CONTESTANDO
O diretor-executivo da CNT (Confederação Nacional do Transporte), Bruno Batista, criticou a pesquisa sobre uso de drogas por motoristas de carga, feita pelo Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso.
Ele disse que a amostragem da pesquisa é muito pequena (104 motoristas) e não representa a realidade do País. Isso ele afirmou em recente entrevista publicada pela Agência Câmara.
O diretor da CNT informou que existem 758 mil motoristas autônomos de caminhões no País (sendo 14 mil em Mato Grosso) e 485 mil caminhoneiros empregados (7 mil em MT).
Bruno Batista sustentou que, em Mato Grosso, os motoristas costumam percorrer distâncias mais longas e, por isso, fariam maior uso de drogas.
A pesquisa constatou que 3% dos motoristas que tiveram a urina coletada (104) usavam cocaína e 8% usavam anfetamina. Para obter dados mais amplos, Batista anunciou que, em 2008, a CNT vai fazer uma pesquisa nacional sobre o uso de álcool e drogas por motoristas.
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