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Economia
Sábado - 01 de Dezembro de 2007 às 13:14
Por: Vinicius Pinheiro

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Enquanto o mercado aguarda a conquista da classificação de grau de investimento para o Brasil, o seleto grupo de companhias nacionais que já possui a avaliação das agências de risco vem ganhando novos adeptos e de forma bem mais discreta.

A última a ingressar no “clube”, que já conta com 28 integrantes - entre instituições financeiras e empresas -, foi a Embratel, que conquistou a classificação “Baa3” pela Moody’s no início do mês. Na prática, receber a nota de grau de investimento significa que a empresa é considerada de baixo risco e, portanto, seus valores mobiliários podem ser adquiridos por investidores mais conservadores.

A principal motivação das companhias para obter uma melhor classificação de sua dívida é semelhante à do governo brasileiro: a redução nos custos de captação de recursos. No caso das empresas, existe ainda a pressão para o aumento da competitividade, em especial na comparação com os concorrentes internacionais.

De acordo com o diretor sênior de Avaliação de Empresas da Fitch, Ricardo Carvalho, os emissores que conquistaram o investment grade passaram a acessar o mercado de forma diferenciada. “Todas as empresas buscam a classificação porque representa uma vantagem competitiva na forma como elas se financiam”, explica.

Segundo Carvalho, para conquistar o grau de investimento, a companhia precisa basicamente mostrar que tem condições de honrar com os compromissos externos independentemente dos movimentos de governo. “Não é a toa que a maior parte dos emissores com a classificação é exportador”, diz. O executivo também destaca uma posição de caixa forte e ativos fora do País como fatores que reforçam a avaliação positiva da agência. No caso de subsidiárias locais de empresas estrangeiras, um dos critérios de análise é o grau de suporte do controlador.

O diretor da Fitch pondera que a obtenção do investment grade é apenas um ponto de largada para as empresas. “A melhora na estrutura de capital e o aumento do interesse dos investidores não acontece da noite para o dia.” Ele lembra que não só o rating como as condições de mercado determinam os custos de emissão de dívida.

Carvalho nega que a nota soberana do Brasil seja um limitador para que mais companhias nacionais consigam o grau de investimento. “Como o teto soberano do País já está em “BBB-” pela nossa metodologia, os ratings não estão mais restritos à nota do governo”, explica. Pela classificação da Fitch, a nota brasileira está em “BB+”, uma abaixo do investment grade, com perspectiva estável. Por outro lado, um possível upgrade do País não deverá desencadear uma revisão dos ratings pela agência, a não ser de empresas localizadas em setores que se beneficiem das condições de solvência, pondera o diretor.

Risco regulatório

Segundo o diretor de rating corporativo da Moody's para a América Latina, Alexander Carpenter, companhias que atuam em segmentos regulados pelo governo são as mais dependentes do rating soberano. O executivo menciona o caso do setor de energia, no qual o principal entrave para uma nota melhor é justamente o risco regulatório.

Carpenter considera que a conquista do investment grade foi fundamental no processo de internacionalização das empresas brasileiras. “No passado, o custo de capital elevado tirava as companhias nacionais do jogo”, observa. Ele avalia que, sem a classificação, empresas como Vale e Gerdau talvez não conseguissem financiar as grandes aquisições que fizeram no exterior em condições competitivas.

Em relatório sobre o histórico de crédito de companhias latino-americanas, a Moody's destaca a melhora na qualidade de crédito média na região desde 1995, apesar de períodos de grave instabilidade regional, como por exemplo a crise argentina de 2001. Segundo a agência, durante o primeiro semestre de 2007 nenhum emissor latino-americano que tinha rating entrou em default.

Setores primário e industrial

Um estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) mostra que a maior parte dos emissores brasileiros (sem considerar as instituições financeiras) avaliados como grau de investimento se concentra no setor primário e industrial. “Interessante observar que todas requerem pesados investimentos e fortes exigências quanto a ganhos de escala a fim de viabilizarem sua produção”, diz a entidade.

Para o presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima, o bom desempenho das companhias após a obtenção do investment grade mostra que o País tem muito a ganhar com a conquista da classificação. “Ainda que o mercado antecipe esse fato, existem benefícios posteriores que precisam ser levados em conta.” Ele acredita que, antes do upgrade do Brasil, esperado pela Sobeet para o início de 2009, outras empresas deverão obter a nota.

Pioneiros

O primeiro emissor corporativo brasileiro a conseguir o grau de investimento em moeda estrangeira foi a AmBev, em dezembro de 2004, pela Standard & Poor’s. A posição acabou sendo “contestada” de forma irônica pelo presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, na época em que a mineradora também recebeu o upgrade, seis meses depois. “Insisto que a Vale é a primeira empresa nacional a atingir o investment grade”, disse, referindo-se à aquisição da cervejaria pela belga Interbrew. Atualmente, a AmBev possui nota “BBB” pela S&P e pela Fitch, dois degraus acima da soberana, e “Baa3” na avaliação da Moody’s.

Polêmicas à parte, a obtenção do grau de investimento foi importante e transmitiu uma percepção de estabilidade aos investidores, segundo o gerente financeiro da AmBev, Michael Findlay. Ele destaca que houve melhora significativa nos custos das emissões recentes da companhia, mas também atribui o fato às condições favoráveis de mercado.

Para Findlay, os fundamentos do negócio da AmBev, aliados à performance financeira, suportariam uma nota ainda mais elevada. “As agências classificadoras ainda penalizam empresas brasileiras em função do rating soberano, ainda que não tenham sua classificação limitada à nota do País”, considera.

No entanto, existem casos de empresas que possuem classificação superior inclusive à de concorrentes internacionais. É o caso da Aracruz, que possui nota “BBB”, duas acima da soberana e com perspectiva estável. Segundo o diretor financeiro da companhia, Izac Zagury, as principais produtoras de papel e celulose nos Estados Unidos e Europa possuem rating idêntico, mas com perspectiva negativa.

Zagury calcula uma redução de 1,5% no custo de capital da empresa desde a conquista do investment grade, em outubro de 2005. Ele lembra que, por questões naturais, a produção de celulose no País possui custos bem menores do que no exterior. “A melhor condição financeira nos permitiu uma vantagem competitiva adicional”, diz. O executivo avalia que o Brasil tem condições de ter a nota elevada pelas agências até o final do primeiro semestre do ano que vem. “Certamente o País viverá uma nova realidade após o grau de investimento, e as empresas terão muito a se beneficiar”, afirma.

Veja, a seguir, a lista das empresas brasileiras com grau de investimento:

ABN Amro Real

Alcoa Alumínio

Ambev

Aracruz Celulose

Banco Citibank

Banco do Brasil

Banco Itaú

Banco Votorantim

BMC

BNDES

Bradesco

Cia Petrolífera Marlim

CSN

Embraer

Embratel

Gerdau

Gerdau Açominas

Itaú BBA

Petrobras

Samarco Mineração

Santander Banespa

Telemar Norte Leste

UBS Pactual

Unibanco

Usiminas

Vale do Rio Doce

Votorantim Celulose e Papel

Votorantim Participações





Fonte: AE

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