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Internacional
Quinta - 29 de Novembro de 2007 às 10:13
Por: Jota Videira

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A polícia de Trento prendeu 16 pessoas em todo o país na última terça-feira (28) por suspeita de favorecimento e exploração da prostituição e colaboração à imigração clandestina. Nove deles são brasileiros, supostamente tidos como cafetinas, prostitutas e travestis.

A operação foi realizada simultaneamente em Trento e Milão, no norte do país, em Reggio-Emiglia, Perugia e Roma, no centro da Itália, e em Taranto, na região sul. O objetivo era impedir eventuais comunicações entre os procurados.

Entre os brasileiros detidos, quatro são da mesma família, diz a polícia. Cinco são mulheres, com idades entre 23 e 47 anos, dois são homens e as outras duas pessoas que foram presas são transexuais, segundo os policiais.

Há ainda outros dois brasileiros suspeitos de envolvimento com essa quadrilha. Um dos homens estaria foragido, na Itália. E uma mulher, a suposta líder da rede de prostituição, não teria sido presa por estar em Fortaleza, no Ceará, no nordeste brasileiro.

Segundo um dos investigadores do caso, Giorgio Baldo, a operação começou em fevereiro deste ano, a partir da denúncia de um provável cliente deste grupo, que teria emprestado 25 mil euros (R$ 68 mil) a uma das brasileiras suspeitas, que não teriam sido restituídos.

Dançarina e prostituta

Uma das brasileiras chegou à Itália como dançarina, na boate Selene, em Trento. Conforme relato dos "Carabineri", uma espécie de polícia militar nacional, se prostituía com freqüentadores do local e anunciava nos jornais da cidade e em sites da internet.

Ela recebia os interessados num apartamento. Aos poucos conseguiu estabilizar-se, legalizar seus documentos de permanência no país e montou seu próprio ponto de prostituição, oferecendo-o a outros brasileiros mediante um aluguel de 700 euros (cerca de R$ 1.900) por semana. Atualmente ela seria responsável por quatro casas, entre Trento e Perugia.

“Possuindo um visto italiano, ela convidava outros no Brasil a se prostituir por aqui. Oferecia o local e um ponto de trabalho por 9 mil euros (R$ 24 mil) por pessoa. A candidata deve sujeitar-se ainda a uma diária de 100 euros (R$ 274), independentemente do número de clientes atendidos. Se não pagam, são ameaçadas de ser entregues à polícia”, diz Baldo.

'Escravas'

O investigador conta que muitas delas vivem como escravas e dormem no chão. Outras, quando ficam doentes, não podem ir ao hospital. “Não queremos prejudicar quem opta pela prostituição. O problema é que pessoas como esta se aproveitam de uma discreta vantagem para explorar o outro, acima de tudo quando se trata de outra brasileira.”

O policial lamenta que aquelas que seriam vítimas não se sentem exploradas. “Uma das meninas não tinha o que comer, pois pagava o aluguel devido para prostituir-se, mas mesmo assim no início era grata à cafetina, por conseguir enviar dinheiro à sua filha no Brasil, para pagar escola e plano de saúde.”

Orkut

Baldo explica que o Orkut, comunidade virtual do grupo Google, foi importante para conhecer visualmente e entender algumas características dos suspeitos, que colaboraram com as interceptações de chamadas telefônicas. “Mantivemos contato com eles através de pseudônimos no Orkut. O reconhecimento e captura dos envolvidos foram feitos através de fotos publicadas pelos mesmos nas respectivas páginas pessoais.”

Uma brasileira que faz estágio nos Carabinieri, e participou da investigação como intérprete das chamadas telefônicas interceptadas, disse que os policiais a surpreenderam pela conduta. “Foram corteses, respeitosos. Fiquei admirada com a educação e o modo como trataram os detidos. Sem a violência e a dureza que vemos nos filmes e no Brasil”, conta.

Sobre um possível remorso de participar da prisão de outros brasileiros, ela argumenta: “Sinto muito, porque a maioria das mulheres é de mães. Uma inclusive é muito presente e atenta com os filhos. Por outro lado há brasileiros sendo explorados. Procuro não pensar e não me envolver. Fiz meu trabalho de intérprete.”

Crime recorrente

Na semana passada outro brasileiro foi preso em Roma por comandar tráfico de travestis na Itália. Os consulados do Brasil em Milão e em Roma e os órgãos públicos italianos ainda não podem precisar o total de travestis e prostitutas brasileiras atuando no país.

“Esta é apenas uma pequena parte do que ocorre em toda a Itália. Seria uma epopéia investigar todo o país. Começamos com uma pessoa em Trento, uma pequena cidade de 100 mil habitantes. Descobrimos uma rede familiar que envolve todas as regiões”, explica Claudio Mora, outro "carabiniere" envolvido na sondagem.

No total 18 pessoas foram indiciadas, incluindo italianos que emprestam o nome para o aluguel de apartamentos. O processo tem ao todo 365 páginas. O comandante responsável foi o tenente Francesco D’Alessio dos Carabinieri de Trento, auxiliado por Claudio Mora, Giorgio Baldo e Nicola Mosna. Sete brasileiros participaram como intérpretes da investigação.

Os transexuais serão levados ao presídio de Belluno, próximo à Veneza. Já as mulheres serão encaminhadas ao presídio de Pavia e os homens serão divididos entre prisões de Trento e Verona.





Fonte: G1

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