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Segunda - 20 de Maio de 2013 às 09:58
Por: DÉBORA SIQUEIRA

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Mary Juruna/MidiaNews
César era membro da ICM em São Paulo e trouxe unidade para Cuiabá
César era membro da ICM em São Paulo e trouxe unidade para Cuiabá
Adorar e servir a Deus, contudo, preservando as convicções sexuais homossexuais. O que pode parecer uma contradição, e até inaceitável para a maioria cristã, seja católica ou evangélica, é a realidade para os membros da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM). 
 


A denominação, nascida nos Estados Unidos com a ideia de ser inclusiva aos gays e lésbicas foi idealizada pelo reverendo Troy Perry, no final da década de 60, está presente em mais de 30 países e há cerca de seis anos no Brasil. Em Cuiabá, a igreja passou a funcionar em fevereiro.
 


Apesar de a ICM não ser restrita aos homossexuais, a igreja é conhecida por ser inclusiva e, até mesmo o símbolo tem as cores do arco-íris, representando a diversidade sexual e do próprio ser humano e o fogo do Espírito Santo, que une a todos.
 


Nos Estados Unidos, estima-se que 80% dos membros sejam heterossexuais. 
 


No Brasil, a ICM está presente em 13 estados, e um deles é Mato Grosso. 
 


O estudante de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), César Loyola, era frequentador ativo da igreja em São Paulo. Quando mudou-se para Cuiabá, sentiu falta de congregar e resolveu abrir uma unidade na capital de Mato Grosso. 
 


Ele conseguiu uma sala na Avenida Cuiabá, 96, no bairro Cohab Nova, e, desde fevereiro, se reúne com outros 13 membros, a maioria colegas da faculdade e gays. 
 


César, apesar de não ter sido ordenado um diácono, é uma liderança espiritual para os membros e chamado de pastor por alguns deles. Assim como nas demais igrejas protestantes, para se tornar um reverendo, é necessário o estudo de Teologia. 
 


A ICM segue a linha das igrejas protestantes históricas como, a Presbiteriana tradicional, Metodista, Anglicana, Luterana e há um pouco da Igreja Católica na liturgia, com exceção do uso de imagens e da veneração a Maria. 
 


Muitos homossexuais sentem a necessidade de buscar a Deus, mas não suportam viver sob os olhares enviesados e condenáveis dos irmãos de congregação das demais igrejas evangélicas, diz César.
 


Estas só aceitam, segundo ele, quando a pessoa está disposta a ser um ex-homossexual, um hétero convertido. 
 


“A pessoa não pode falar que é gay ou assumir que namora, sob o risco de ser expulsa ou hostilizada. Na nossa igreja ninguém é excluído. Jesus é amor. Na época dele, ia contra as lideranças preocupadas com a aparência, mandando em quem esta certo ou errado”, criticou. 
 


Em relação às passagens bíblicas que condenam a prática homossexual no Antigo e Novo Testamento, César Loyola tem seus argumentos. 
 


No caso de Sodoma e Gomorra, ele sustenta a tese de que não foram os pecados sexuais dos seus habitantes que causaram a queda das duas cidades, conforme narra o livro de Gênesis. 
 


Na ICM, o problema era de que a cidade era muito rica, mas seus habitantes hostilizavam os de fora e
não eram hospitaleiros.
 


“Eles usavam o sexo para humilhar por meio da relação anal, não era de forma afetiva. Os homoafetivos apareceram de tempos para cá. Tem que se analisar para quem e que período a Bíblia foi escrita. Não podemos usa-la para justificar a escravidão de negros e as Cruzadas, como já aconteceu”, disse.
 


O líder espiritual observou que Deus é amor e a relação que ele mantém com os seres humanos é a com afeto de um pai. “Ele se preocupa muito mais com pai de família desempregado, com quem passa necessidades do que pessoas do mesmo sexo que se amam”. 
 
Doutrinas
 
A ICM utiliza as duas formas de batismo para a entrada de novos membros – aspersão e imersão –, contudo, é algo facultativo. Não se obriga ninguém a ser batizado para participar das celebrações ou dos ritos. 
 


“Mesmo os que não são batizados podem participar da Santa Ceia e podem cantar. Ainda não temos nenhum batizado da nossa igreja aqui em Cuiabá, mas se tiver interessados vamos batizar por aspersão como na Igreja Católica”, explicou. 
 


Eles também celebram a descida do Espírito Santo no Pentecostes, fazem campanhas de donativos,
realizam Natal e a Semana Santa.
 


Em relação ao dízimo, não se estabelece o percentual de 10%, mas cada contribui da forma que lhe aprouver. “O dízimo é para a comunidade, não é nada obrigatório, a pessoa ajuda se quiser. Deus não precisa de dinheiro, mas a igreja precisa para crescer”, comentou.
 


O culto é realizado uma vez por semana, aos sábados, às 18h30. Ainda não há previsão de aumentar novas datas para a reunião. 
 


Ovelha desgarrada
 


Católico, o estudante Paulo Roberto Fabiani Cardoso, 22 anos, não frequentava a igreja há cerca de dois anos. 
 


O fato de não se sentir aceito o afastou do desejo de cultuar a Deus. Quando o amigo César Loyola trouxe a ICM, ele sentiu vontade de participar da igreja.
 


“Vejo Deus de outra forma, independente do que você é. Ele nunca vai te abandonar”, disse o jovem. Ele ainda está se habituando a ler a Bíblia, mas gosta da carta de Coríntios, capitulo 13. É uma das passagens mais conhecidas quando Paulo descreve no primeiro versículo: "Ainda que eu falasse a linguagem dos homens e dos anjos, sem amor eu nada seria"”, disse.
 


Amor ao pecador, e não ao pecado
 


O bispo da Igreja Missão em Cristo e presidente do Conselho dos Ministros Evangélicos de Mato Grosso (Comec), Aroldo Leite, entidade que reúne mais de 200 igrejas das mais diversas denominações, afirma que a IMC é uma aberração. 


 
“É um clube onde eles podem se reunir, mas Deus, infelizmente, não estará presente. Para mim é uma brincadeira em nome de Deus. Deus, por meio da Bíblia, estabeleceu padrões para nós, não é o Senhor quem tem que se adaptar a gente, mas nós que precisamos nos adaptar a Ele”, argumentou.
 


Leite explicou que a homossexualidade, assim como adultério, prostituição e outras formas de pecado, são vistas da mesma forma, sem gradações de um pior do que outro. Mas Deus, assim como os que se professam ser cristãos, deve amar o pecador, ao ser humano, mas não o pecado dele, as suas práticas.
 


O pastor disse que, pela experiência vivenciada por algumas igrejas, há formas de transformar as pessoas que desejam alguém do mesmo sexo, para a inclinação tida como natural, ou seja, mulher pelo homem e o homem pela mulher.
 


“Não foi comparado como doença, não se trata de orientação e sim, de opção. Algum ponto da vida inclinou a pessoa a se tornar homossexual, seja por um abuso na infância. Essa é uma questão espiritual. Há homens que deixaram essa prática e hoje são pais de família, maridos e o mesmo ocorre com mulheres, algumas eram lésbicas e hoje são mães. Tenho certeza que essas pessoas não são felizes assim”, completou. 
 


O bispo disse ainda que a igreja, de forma geral, não é contra as conquistas sociais que os homossexuais conseguiram, mas não se aceita é a prática homossexual. Novamente, ele enfatiza que há diferença entre aceitar o ser humano e aceitar os atos que ele pratica.
 


“A Bíblia fala que é pecado. Nós somos atalaias de Deus, sinalizando o caminho do céu, eles podem até morrer no pecado, mas não podemos deixar o nosso dever de alertar”, completou.





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