Três em cada 10 brasileiras já foram vítimas de violência
De cada 10 brasileiras com mais de 15 anos de idade, 3 já sofreram violência física extrema. Esse é o diagnóstico do relatório sobre violência contra a mulher elaborado pela Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) e divulgado no Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher.
O trabalho "Basta! O Direito de Viver uma Vida sem Violência na América Latina e Caribe" mostra que os principais agressores são os parceiros das vítimas. Além da violência física, elas sofrem ainda com violência sexual, emocional e econômica. E isso ocorre em todas as classes sociais e graus de instrução - o texto informa que as principais vítimas são aquelas que completaram apenas o ensino fundamental, com exceção do Peru, onde aquelas que completaram o ensino médio sofrem mais violências.
"Há um traço sociocultural que legitima essa violência e se reflete na desigualdade de poder na relação de gênero. O desequilíbrio de poder nas relações é muito grande e, em geral, é exercido pelo homem", afirma Júnia Puglia, vice-diretora do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), que lançou o relatório no Rio.
Esse desequilíbrio de poder, acredita Júnia, está por trás de situações como a da adolescente no Pará que foi mantida por 20 dias numa carceragem com homens e sofreu sucessivos abusos sexuais. "Para mudar essa situação, é preciso haver uma trabalho de transformação da sociedade", afirma.
Júnia ressalta a grande dificuldade que os pesquisadores tiveram para encontrar "dados nacionais abrangentes e confiáveis" a respeito da violência contra a mulher. Numa das poucas informações sobre o Brasil, o relatório cita pesquisa feita em 2001 pela Fundação Perseu Abramo com 2.502 mulheres, segundo a qual uma em cada cinco entrevistadas havia declarado ter sido vítima de violência.
Segundo outra pesquisa feita em 2006 pelo Ibope, a pedido do Instituto Patrícia Galvão, uma ONG criada para desenvolver projetos sobre direitos da mulher, 51% das 2.002 entrevistadas em todo País já foram agredidas pelo companheiro ou conhecem ao menos uma mulher nesta situação. "O Brasil tomou a providência importante de ampliar recursos para a promoção da eqüidade de gênero, inclusive para a produção de dados e estatísticas", destacou Júnia.
Entre as principais dificuldades encontradas pelos pesquisadores no Brasil estão escassez de recursos, financiamentos insuficientes, interrupção dos programas e falta de mecanismos de avaliação dos planos e programas adotados.
O relatório mostra ainda que 90% dos latino-americanos consultados consideram a violência intrafamiliar um problema importante. "Esse é o discurso, mas está muito distante da realidade", afirma Júnia.
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