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Nacional
Segunda - 20 de Maio de 2013 às 09:29

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O Fantástico conta a história dramática vivida esta semana por um menino de apenas 1 ano e 8 meses. O menino é Lucas. Ele sumiu de casa por quatro dias, no interior de Minas, numa região de fazendas onde tem cobra, tem onça e de noite faz muito frio. Por onde o menino andou durante todo esse tempo? O Fantástico foi investigar.

Bastou um descuido. Ocupados com o trabalho na fazenda, os pais perderam o pequeno Lucas de vista por alguns instantes.

“Eu estava tirando leite”, diz Cícero Paulo Pereira, pai do menino.  “Eu estava lavando”, lembra a mãe, Ana Patricia Luceno.

“Ela achando que ele estava brincando e depois tinha voltado pra ficar comigo e eu achando que ele estava com ela. Depois de meia hora, 40 minutos, ela foi e me chamou”, lembra Cícero.

“Aí ele "onde esse menino está?" Eu disse "e eu sei, Paulo?" Pensei que ele estava com você”, conta Ana Patricia. "Aí eu saí procurando, chamando por ele”, diz Cícero.

Anoiteceu, e veio o desespero. Lucas estava sozinho, no frio e no escuro.

“Quando eu cheguei no mata-burro eu encontrei os bombeiros e eles perguntaram quando eu tinha visto ele da última vez. Eu tinha visto lá embaixo, mas tinha visto uma pegadinha que era o formatinho do pé dele direitinho, certeza absoluta que era o rastrinho dele”, conta o pai.

“Começamos lá na sede e começamos a percorrer toda a área”, conta o bombeiro Fernando Sousa.

Paulo e os bombeiros foram incansáveis durante toda a madrugada. Temiam que ele tivesse caído numa represa ou sido atacado por um animal.

“Uma cobra, uma jaguatirica, possivelmente até uma onça”, diz o bombeiro.

“Enquanto ele estava procurando lá pela roça, eu fiquei o tempo todo chorando, rezando”, lembra a mãe.

“É muito estranho, porque ele não é disso. Sempre que a gente chamava, ele respondia ‘oi’. No frio que está fazendo, ele não estar chorando, é uma coisa que a gente fica sem entender", diz o pai.

O sumiço foi no dia 9 de maio. Aquela foi uma das noites mais frias do ano na região de Araguari.

No dia seguinte, o Exército se juntou aos bombeiros. Trouxe 50 homens e cães farejadores. A mobilização também contou com a Polícia Militar. Três dias de trabalho, e nenhum sinal de Lucas.

“As horas vão passando, não temos notícia”, chora a mãe

Na segunda-feira bem cedo, seu Antonio, morador da área, saiu para cuidar das vacas, quando viu de longe um corpo no chão de barro.

“Quase caí duro aqui. Levei susto demais. Pensei "o menininho que está morto"”, conta o agricultor Antonio Fernandes.

A fazenda onde Lucas mora fica a aproximadamente 500 metros do local onde ele foi encontrado. Tem mato alto e uma cerca com arame farpado e ele estava exatamente ali, deitado.

O Batalhão da Polícia Militar de Araguari foi chamado. O sargento Natal Gonçaves foi o primeiro a prestar socorro.

“Eu fiquei observando a criança de longe pensando que ela estava morta e nessa observação minha, vi que o pé dela se movimentou. Ela estava com o rosto virado. Ele estava em estado de choque, não tinha sinais nenhum, não movimentava nada. A gente apanhou ele e saiu correndo”, conta o policial militar.

Segundo o médico que atendeu Lucas no pronto-socorro, ele escapou por pouco.

“Era um estado grave, mais algumas horas que ele ficasse lá, haveria risco de morte. Ele teria mais 6 a 8 horas mais ou menos. Ele está extremamente desidratado com a pele ressacada, com a mucosa do lábio ressacada, ausência de urina e a hipotermia do organismo dele”, diz o clínico geral Sérgio de Abreu. 

Lucas estava bastante sujo de lama, o que pode ter ajudado.

“Os indígenas usam a lama como repelente de mosquitos e como isolante térmico, porque entope os poros e conserva o calor”, lembra o sargento.

Lucas é pequeno, mas resistiu bem.

“O quadro clínico que ele chegou não nos deixa dúvida em afirmar que já tinha alguns dias que ele não se alimentava. Estava usando a reserva calórica que e ele tinha do próprio organismo”, diz o médico.

“A gordura da criança é um pouco diferente da nossa. É uma gordura que produz calor, aquece o corpo dele. Uma criança talvez com 3 a 4 dias, conseguisse sobreviver nessas condições sem água”, explica o pediatra Neylor Alves.

Mas por onde Lucas andou nesses quatro dias ainda é um mistério. A polícia trabalha com várias hipóteses.

“Se houve crime? Quais as circunstâncias desse crime? Qual a autoria desse crime?”, conta o delegado Cesar Monteiro.

Uma peça-chave para a investigação é a blusa de moletom que o bebê usava quando foi encontrado. Toda suja de lama, a roupa foi analisada pela perícia.

“Ela está bem suja com a poeira marrom, típica do cafezal, inclusive com alguns buraquinhos que podem ser advindos das cercas de arame farpado que tem por ali, naquela região”, explica a delegada Paula Fernanda de Oliveira.

O pai também suspeita que o menino tenha passado pelo cafezal. “Sempre olhando debaixo do café, porque ele poderia estar escondido, dormindo, diz”.

Para os médicos, tudo indica que Lucas esteve o tempo todo exposto aos perigos da mata fechada. “Tecnicamente, o quadro que ele chegou era compatível com o de uma criança daquela idade estar desaparecida realmente”, afirma Sérgio de Abreu.

Ainda no hospital, o menino recebeu uma visita. O sargento que o encontrou no mato, quis vê-lo. Agora mais forte.

Depois de seis dias de internação, Lucas recebeu alta. E está liberado para ir para a casa.

“O Lucas já está hidratado, já está recebendo alimentação. Está estável”, diz um médico.

“Vida nova”, diz a mãe. “É mesma coisa que esse menino tivesse nascido de novo. A felicidade é maior do que quando ela ganhou ele”, completa o pai.






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