Da terra bruta ao satélite
Num dos mais importantes romances ingleses o autor situa seu personagem, Robinson Crusoé, em uma ilha deserta e ali, isolado durante 27 anos, o personagem reconstrói toda a trajetória cultural humana, até ser resgatado. Esta história foi escrita há 200 anos, quando Mato Grosso ainda era um ponto isolado numa imensidão de terra. Com o passar do tempo o Estado também se envolveu num processo de construção de uma cultura, abrindo espaços para a civilização. Passou por ciclos de desenvolvimento tardio, até que, contemplado com a ânsia de crescimento do Brasil na década de 70, rompeu o isolamento para ser a esperança de solução para a fome mundial, preconizada pelos estudos de população de Thomaz Malthus, na época de Crusoé.
Os processos pelos quais passou o nosso Estado foram traumáticos. Nas décadas de 70 e 80, quando o dinheiro farto derrubava o cerradão para irrigar pastos e lavouras, trazendo expectativas de solução e desenvolvimento para a sociedade, o mundo gritou. Ambientalistas tentaram abortar o processo que se dava em larga escala por aqui, acusando o Banco Mundial de promover a degradação ambiental com seus financiamentos. Foi o ciclo do Polonoroeste, um dos maiores programas de desenvolvimento do mundo. Mato Grosso, alijado do crescimento mundial, permaneceu isolado, mas continuou sua trajetória para, vencidos os problemas de logística, transformar-se na solução para a questão da alimentação mundial.
De novo a responsabilidade dos ambientalistas falou alto. Não basta produzir alimento para deter as previsões maltusianas. O mundo de hoje também se alimenta de consciência. Os problemas, que se resumiam à alimentação, somam-se ao desequilíbrio ecológico que pode, mais rapidamente, condenar a humanidade. Agora, não mais a um isolamento de populações pela fome, mas à extinção. E é justamente neste contexto que vemos o governador Blairo Maggi alimentar parcerias, transformando-as em alianças que tempos atrás jamais imaginaríamos.
Hoje, 34% do território de Mato Grosso estão cadastrados no inédito Sistema de Licenciamento de Propriedades Rurais e há uma eficiente política de controle fitossanitário – há 12 anos não se registra caso de aftosa no estado – que assegura a entrada de nossas carnes e nossos grãos no mercado internacional.
Recentemente, o Governo do Estado assinou um protocolo de intenções ambiental com os setores do álcool, algodão, soja e outros grãos que, de forma inovadora, possibilitará a recuperação de áreas degradadas e a conservação de áreas de preservação permanente, como nascentes, matas ciliares etc. O mesmo protocolo está sendo discutido com o setor da pecuária.
O governador, com sua postura, ao dirigir-se ao mundo mostra que Mato Grosso tem o alimento que as populações querem. Aqui se produz grãos, gado, aves e suínos com responsabilidade. Dá mostras que os processos de produção também alimentam o progresso humano determinado pela sustentabilidade. E é exatamente este aspecto que Mato Grosso precisa sair ecoando pelo mundo afora, aquilo que para nós é claro.
A reunião do governador com as vigilantes ONGs, em Paris, aponta para a sintonia do Estado com os anseios da comunidade internacional. É um atestado da nossa realidade, já demonstrada em abril nos EUA, quando foram apresentados resultados da política do Governo de Mato Grosso de crescimento com responsabilidade, exemplarmente ilustrada com os processos de reciclagem de embalagem de agrotóxico, que aqui, num índice de 93% de reaproveitamento, são exemplares e referenciais para o mundo. Os EUA mal recolhem 20% das embalagens. A França e o Canadá só elevam este número para 40%.
A carta de intenções assinada para obter imagens de satélite com a Spot Image, empresa estatal francesa, por sua vez é um atestado da intenção da produção sustentável em que o controle do desmatamento ganha as definições que alcançam as necessidades do Pacto Ambiental brasileiro.
Todas estas medidas se transformam numa espécie de certificado de qualidade ambiental, que os produtores de Mato Grosso podem carimbar nos seus produtos, alcançando cada vez mais mercados, retirando o Estado da condição de isolamento e colocando-o na ponta da civilização. Não mais como um náufrago da história, mas, sim, como integrante de um processo que alimenta a necessidade de vivermos em um mundo melhor, com alimentos em fartura e um meio ambiente preservado e respeitado.
* José Carlos Dias é jornalista e secretário de Estado de Comunicação de Mato Grosso.
Comentários