Baixa renda já pode comprar carro zero em até 99 meses
Pesquisa da MSantos com 2,3 mil clientes em seis feirões de veículos revela que 43% dos compradores estavam adquirindo um carro zero pela primeira vez. Em 2006, a participação desse tipo de cliente não passava de 20%.
Um estudo da LatinPanel, empresa de pesquisa de consumo da América Latina, mostra que as famílias da classe C, com renda média mensal de R$ 1.384, ampliaram neste ano em 11% o gasto médio com financiamento de veículos em relação a 2006. A variação supera a registrada no período para a média da população, que foi de 8%.
Os planos de pagamento de longo prazo já preocupam os próprios executivos das montadoras veículos. Em recente entrevista ao Estado, Ray Young, que deixou a presidência da GM do Brasil no começo do mês, disse que o crédito farto para o financiamento de veículos pode provocar uma crise financeira semelhante à que ocorre no mercado imobiliário de hipotecas de alto risco nos EUA (subprime). "Esse pode ser o nosso subprime", afirmou. Essa preocupação também é compartilhada pelo seu sucessor, o colombiano Jaime Ardilla.
Para o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, "cabe o alerta". Mas ele pondera que as condições atuais não configuram um cenário semelhante ao americano. Ele destaca que o crescimento do emprego e da renda sustenta esse mercado, os bancos fazem uma análise criteriosa para aprovar o crédito e as camadas de menor renda pagam em dia, porque precisam ter o nome limpo.
"Estamos muito longe da crise do subprime", afirma o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Érico Sodré Quirino Ferreira. Ele diz que o consumidor americano tem um endividamento que supera a sua renda, o que não ocorre aqui. Prova disso é que não houve aumento da inadimplência, observa.
Dados do Banco Central mostram que o atraso acima de 90 dias das prestações de veículos encerrou setembro em 3,3% dos créditos a receber. Desde o começo do ano, esse indicador tem se mantido. No período de 12 meses terminado em setembro, o recuo é de 0,2 ponto porcentual. Pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac)aponta que, em outubro, o prazo máximo, de 84 meses, foi alongado em 12 meses ante outubro de 2006.
"Não acredito que os financiamentos de automóveis serão o nosso subprime", afirma o vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira. "O volume de empréstimos para compra de veículos ainda é muito baixo." O estoque cresceu 24% em 12 meses e em setembro atingiu R$ 76,1 bilhões, ou 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
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