Um quarto dos jovens se droga com remédio no Brasil
Marcelo pegou a dica do estimulante, do tipo anfepramona, na academia onde malha. Nas farmácias, uma caixa com 20 comprimidos custa, em média, R$ 17. Para conseguir comprar o remédio de tarja preta, ele pede a receita a um amigo médico. No começo da happy hour, Marcelo toma o remédio. Fica inteiro por toda a madrugada. No dia seguinte, volta a tomar para agüentar o treino na academia. "Parei porque com o passar do tempo você precisa aumentar a dose. Cheguei a tomar cinco de uma vez. Depois, quando o cansaço acumulado bate, você fica derrubado."
Nos Estados Unidos, jovens como Marcelo, que usam medicamentos que "dão barato", ganharam um apelido: Geração Prescrição. E preocupam as autoridades. Pesquisa do Centro de Estudos sobre Drogas da Universidade de Columbia mostra que um em cada cinco jovens de 12 a 17 anos já usou medicamentos para fins recreativos. No Brasil, os índices são igualmente alarmantes e ainda pouco discutidos entre estudiosos e autoridades. O Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no Brasil, feito pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que entrevistou 7.939 pessoas em 108 cidades em 2005, apontou que 24,3% já usaram remédios vendidos em farmácias para fins recreativos. Lideram a lista os solventes (como éter e clorofórmio), seguidos de benzodiazepínicos (ansiolíticos) e orexígenos (remédios para aumentar apetite que são estimulantes) - sendo também mencionados xaropes à base de codeína, opiáceos, esteróides, barbitúricos e anticolinérgicos.
Fuga
O índice é ainda mais surpreendente por ficar bem acima do número verificado entre pessoas que consumiram drogas ilícitas. Disseram já ter usado maconha, cocaína, alucinógenos, crack, merla e heroína cerca de 14% dos entrevistados. "Em ambos os casos o jovem está atrás do barato, de uma alteração mental que o ajude a fugir da realidade. Mas apenas drogas ilegais ganham atenção do sistema policial, o que é um erro", alerta Elisaldo Carlini, professor de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo e um dos coordenadores do Cebrid. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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