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Internacional
Quinta - 15 de Novembro de 2007 às 07:46

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De Caracas - A Venezuela, tida como um dos países mais ricos do continente sul-americano graças à suas vastas reservas de petróleo, enfrenta uma grave crise de abastecimento de alimentos da cesta básica.

Produtos como leite, açúcar e ovos se tornaram iguarias no país, que enfrenta as conseqüencias de mais uma situação derivada, em grande parte, da disputa política entre o governo do presidente Hugo Chávez e setores identificados com a oposição.

O setor industrial afirma que a crise no abastecimento resulta da política de ajuste dos preços da cesta básica determinada pelo governo, que, segundo o setor, tornaria o mercado produtor pouco rentável.

O governo argumenta que o desabastecimento tem origem em dois fatores: o aumento da demanda e a "sabotagem" do setor industrial, que teria como objetivo desgastar o governo do presidente Hugo Chávez.

"Nós admitimos que há um problema pontual com o leite, mas não há uma escassez generalizada de alimentos", explicou o ministro de Agricultura, Elias Jaua, em uma nota divulgada por seu Ministério.

Jaua afirma que os produtos não chegam ao consumidor porque há um "setor oligopolizado que domina a compra dos alimentos primários".

Para Eduardo Gomez, presidente da Confederação de Indústrias (Conindustria), o ajuste de preços gerou perdas para alguns setores de produção de alimentos. "Não há estímulo para a produção nacional", disse, em entrevista à BBC Brasil.

Sobre a escassez do leite, Gomez admite que os produtores simplesmente deixaram de produzir.

"Muitos pararam de ordenhar as vacas, pois isso deixou de ser negócio", afirma Gomez.

O governo determinou que o litro de leite, que custava aproximadamente US$ 0,50, deveria ser congelado em US$ 0,40.

Nas últimas semanas, tanto na rede de supermercados populares Mercal (subsidiada pelo governo) como nos supermercados dos bairros de classe alta em Caracas, quem quiser comprar um litro de leite ou um quilo de açúcar tem que enfrentar horas na fila.

Em Gramoven, na periferia da capital venezuelana, a reportagem da BBC Brasil encontrou a dona de casa Keren Quintana, que chegou a esperar sete horas na fila do Mercal para conseguir um quilo de leite em pó. "Tenho que enfrentar a fila, tenho dois filhos pequenos", contou ela.

Para a dona de casa, tanto os produtores de leite como os administradores do mercado popular são responsáveis pelo desabastecimento. "Querem que responsabilizemos Chávez por isso", comenta.

Keren Quintana diz que a escassez não influenciará seu voto em dezembro, quando os venezuelanos vão às urnas para decidir se aprovam ou não a reforma constitucional proposta pelo presidente.

"Sabemos que não depende só dele, mas espero que ele ponha mão firme para solucionar o problema", afirma.

Nas últimas semanas o Instituto de Atenção ao Consumidor tem confiscado alimentos que são encontrados estocados ou com preços acima do regulado. O caso mais emblemático foi o confisco de 125 toneladas de leite de um depósito da Nestlé.

Mais 40 toneladas de açúcar refinado também foram encontradas em um estacionamento de um edifício no bairro de classe média El Paraíso, em Caracas. Os donos da mercadoria não foram identificados.

A demanda dos produtos da cesta básica também aumentou. O poder aquisitivo das classes E e D subiu 150% nos últimos quatro anos, de acordo com dados oficiais. O governo argumenta que a escassez também é fruto da inclusão desses consumidores. De acordo com o setor industrial, a demanda cresceu em 30% nos últimos anos.

As estimativas são de que a oferta da produção nacional caiu e atende a apenas 8% da demanda por alimentos da cesta básica.

Na Venezuela, 70% da alimentação é proveniente de importações. Nas prateleiras do mercado subsidiado pelo governo, o frango é brasileiro, a carne argentina e os ovos colombianos.

"Parte da causa do déficit entre o consumo e a produção nacional é que haviam 6 milhões de hectares de terras que estavam absolutamente ociosas", justifica o ministro de Agricultura. Deste total, o Estado desapropriou 28% das terras.

A reforma constitucional proposta por Chávez prevê a proibição do latifúndio.




Fonte: BBC Brasil

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