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Terça - 13 de Novembro de 2007 às 15:06
Por: Alcides Domingues Leite Júnior

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Em sua última reunião, o Copom decidiu manter a meta da taxa Selic em 11,25% ao ano. Considerando que nos próximos 12 meses espera-se uma taxa de inflação em torno de 4,0%, o juro básico real ficaria então, em torno de 7%, ainda um dos mais altos do mundo.

À divulgação da decisão do Copom seguiram os comentários dos representantes dos diversos setores da atividade econômica e dos principais analistas econômicos condenando o excesso de cautela da autoridade monetária.

A divulgação da Ata da reunião do Copom, embora não deva mudar a opinião da maioria dos analistas, serve para entender a linha de raciocínio utilizada pelos membros do Comitê para tomar a decisão, considerada bastante controversa.

Vejamos, pois alguns pontos analisados na Ata.

Inflação: O IPCA, nos últimos doze meses atingiu 4,15%, contra 3,70% registrados no período imediatamente anterior, com agravante de que os preços livres vêm crescendo num ritmo mais acelerado do que os preços administrados e os preços comercializáveis (os tradable). Dado que os preços livres são compostos por produtos e serviços não transacionados internacionalmente, eles não sofrem a influência da desvalorização do dólar. O IGP-DI, no período de doze meses passou de 3,15% para 6,16%. Mais preocupante é que o componente do atacado teve um aumento ainda maior, chegando a 6,92% no período. Esse componente é um importante indicador antecedente dos preços, uma vez que, mais cedo ou mais tarde, os preços do atacado acabam sendo repassado para o varejo.

Produção Industrial (IBGE): registrou um crescimento anual de 6,5%, ajudando a reduzir o hiato entre a demanda e a oferta. No entanto, o maior crescimento se deu na indústria de bens de capitais. Esse dado é muito positivo para o aumento da produção no futuro, mas pouco ajuda o aumento da produção no curto prazo.

Taxa de Desemprego (IBGE): ficou em 9,5% em agosto, um recuo de 1,1 p.p. em relação ao mesmo mês do ano passado. A massa salarial real aumentou 6,8% nos primeiros oito meses do ano, frente ao mesmo período de 2006, constituindo-se em um dos fatores-chave para o crescimento sustentado da demanda agregada. No mercado de trabalho com carteira assinada, o crescimento também tem sido bastante robusto: 4,9% no acumulado em doze meses.

Vendas do Comércio Varejista (IBGE): em doze meses cresceu 8,7%. Sendo que os segmentos mais dinâmicos foram os de móveis e eletrodomésticos, de veículos, motos, partes e peças e de material de construção.

Nível de Utilização da Capacidade Instalada na Indústria de Transformação (NUCI): alcançou 83,6% em agosto, atingindo o patamar histórico máximo da série calculada pela CNI.

Como conclusão, diz o Copom: “Os dados referentes à atividade econômica indicam que o ritmo de expansão da demanda continua bastante robusto, podendo elevar a probabilidade de observarmos pressões significativas sobre a inflação no curto prazo.”... “Adicionalmente, cabe notar que, embora o setor externo tenha o efeito de moderar a inflação no setor transacionável, o aquecimento da demanda doméstica pode desencadear pressões inflacionárias no setor não transacionável.” ... “Desde o início do ciclo de flexibilização da política monetária, em setembro de 2005, a taxa de juros básica já foi reduzida em 850 p.b., sendo que parcela substancial da redução ocorreu nos últimos nove meses. Assim, parte importante dos efeitos dos cortes de juros ainda não se refletiu no nível de atividade, e tampouco os efeitos da atividade sobre a inflação tiveram tempo de se materializar.”

“Nesse contexto, diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária e ao ritmo de crescimento prospectivo da oferta e demanda agregadas, o Copom resolveu fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária”.

Como vimos, a Ata do Copom segue uma linha de raciocínio muito bem definida. Crescimento da demanda agregada em um ritmo superior ao crescimento da oferta agregada pode trazer, no curto prazo, fortes ameaças inflacionárias.

Concordemos ou não com as decisões do Copom, não podemos deixar de reconhecer que elas são embasadas em dados e análises consistentes. Isto, embora não sirva para mudar a opinião de muitos críticos, serve para mostrar que o Brasil conta hoje com uma instituição responsável pela política monetária, séria e respeitável e, sobretudo previsível. Dada a história pregressa do país, isto não é pouca coisa.

*Alcides Domingues Leite Júnior – É professor de Mercado Financeiro do curso de Administração de Empresas na Trevisan Escola de Negócios. E-mail: alcides.leite@trevisan.edu.br e alcides.leite@bcb.gov.br.





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