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Nacional
Segunda - 12 de Novembro de 2007 às 14:41
Por: Lourembergue Alves

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“Lula da Silva é uma pessoa de muita sorte”. Balbuciou alguém ao passar os olhos sobre as páginas de jornal. Esse leitor não deixa de ter certa razão, pois, de fato, o ex-metalúrgico é sortudo mesmo. Deu um salto e tanto na vida. Repetiu a saga de milhões de nordestinos ao trocar o agreste por São Paulo, onde se deu muitíssimo bem como sindicalista e co-fundador do PT, e destes para a Presidência da República, depois de três tentativas infrutíferas. Além, é claro, de cair no gosto da população.

Afinal sua história de vida comove e serve de exemplo. Lapidada que foi pela propaganda e pelo marketing.

Populista e popular, termos que se fundem e confundem os mais desavisados, o fizeram transformar em uma das mais expressivas lideranças do país. Conhecida um bocado no exterior. Existe até, por aqui, quem o compara a Getúlio Vargas e a Juscelino Kubitschek em matéria de popularidade. Tanto que as denúncias envolvendo seus amigos e auxiliares próximos não o atingiram. A história do “nada saber” e “nada ver” pegou de verdade. Muito mais que as provas encontradas pelas investigações. Ninguém seria capaz de destruir o mito, nem mesmo o herói. Talvez isso não se deva a sorte. Mas ao trabalho dos marqueteiros e de como contaram a sua história. O papel de vítima lhe caiu tão bem, comovendo aos brasileiros, desde os mais humildes até quem está no topo da pirâmide.

Não se pode, entretanto, deixar de reconhecer como o presidente permanece com sorte. A democracia parou e o país, quase inundou com o mar de corrupção. No entanto, ele continua ali, “no olho do furacão”, é verdade, mas firme, sonhando com mais um mandato. Também pudera, o mercado mundial continua em alta, favorecendo a economia da terra, e, por tabela, facilitando a vida do funcionário número um do Brasil.

Crise nenhuma parece lhe atingir, nem o chamado apagão aéreo, tampouco a escassez de gás natural. Embora o cidadão comece a sentir a si próprio como equilibrista de circo, uma vez que há ceticismo quanto à possibilidade de se encontrar o combustível por bons preços no mercado mundial, até porque a demanda por energia é crescente, e a Bolívia não tem o Brasil na condição de prioridade número um.

Tem-se a impressão que alguma coisa vai ruir. Impressão não é sinônimo de certeza e nem de verdade. Isso porque a Petrobrás, em 2006, anunciou a descoberta do megacampo de Tupi, na Bacia de Campos. Mas só agora, o governo achou de promover uma festa-propagandista do precioso achado. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, profetizou a inclusão do Brasil entre os maiores produtores e exportadores de petróleo. Isso porque a tal jazida conta com um potencial de produção calculado entre cinco e oito bilhões de barris. “Os deuses foram generosos para com o presidente Lula”, diria aquele mesmo leitor.

Contudo, é preciso dizer, não é sempre que se pode contar com a sorte. Mesmo que se trate do presidente da República. Entre o calculado e a realidade do que deve ser encontrado na Bacia de Campos existe uma distância muito grande. Até mesmo no que tange a exploração da jazida, que só dará lucro a partir de 2013.

Uma nova crise, portanto, ainda não está de todo descartada, sobretudo quando se sabe que, ao longo destes cinco anos, o governo Lula da Silva foi incapaz de pensar, viabilizar e por em execução um plano para se evitar uma nova crise de escassez de eletricidade. 2001 não está tão longe assim. A atitude boliviana de cortar o fornecimento de gás pode ser um prenúncio. Mas não o seu enredo final, desde que o presidente Lula se dê ao trabalho de fazer uma autocrítica, bem como se debruce na correção de erros e passe a dar prioridade ao planejamento administrativa, sem isto, só torcendo para que as chuvas encham as represas. Mas isso é brincar com a sorte, e aí nem o melhor dos marqueteiros pode solucionar o problemão.

Lourembergue Alves é professor da UNIC e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.





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