Cuiabá tira a pior nota no Provão do Fantástico
Estudantes das escolas estaduais Liceu Cuiabano e Presidente Médici, em Cuiabá, participaram do Provão do Fantástico. O resultado foi o pior possível. Foram apresentadas questões básicas de Português, Matemática, História e Geografia. Os alunos da capital de Mato Grosso tiraram nota 1,1 na média de todas as disciplinas.
Foram escolhidos apenas estudantes da rede pública para avaliar se eles estariam em condições de encarar o vestibular e ingressar em uma faculdade. A intenção do Fantástico foi antecipar o Enem, o exame nacional que avalia o Ensino Médio no país, e testa alunos de todo Brasil.
Antes de encarar o provão realizado pelo Fantástico, os estudantes mostravam preocupação. "Em relação a números, minha cabecinha não funciona muito bem", diz uma aluna. Já outra estudante confessa: "Não sou muito boa em Português, por causa de interpretação, muito texto, não gosto muito", afirmou.
Foram testados 270 alunos do terceiro ano do Ensino Médio, nas 27 capitais. O desafio era responder a cinco perguntas discursivas de cada disciplina e fazer uma redação de dez linhas. Nada de múltipla escolha.
As questões foram elaboradas por professores da Universidade Federal Fluminense (UFF). "Nós montamos uma banca com professores da universidade, em sua maioria já participara de banca também do vestibular. Fizemos uma prova com conhecimentos gerais", explica Néliton Ventura, coordenador geral do vestibular da UFF.
Trata-se de uma avaliação ilustrativa, com dez alunos selecionados ao acaso nas maiores escolas estaduais de cada capital. Segundo o Ministério da Educação, sete milhões e 838 mil brasileiros cursam o Ensino Médio em escolas públicas.
"Eles estão entrando na faculdade, estão fazendo um curso determinado pela fraqueza e pela precariedade desses saberes, e estão levando seus diplomas. E, o que é pior, estão desenvolvendo as suas atividades profissionais com essas limitações", comenta o educador Celso Antunes.
O provão durou quatro horas. Mesmo com todo esse tempo, de cada cinco provas, uma levou nota zero. No total, só apareceram seis notas 10.
"Eu acho que isso revela que a escola pública precisa de uma maior atenção, mas ela ainda dá conta – e justamente por isso ela precisa de uma maior atenção- de um trabalho de inclusão social", comenta Ana Maria Maud, professora de História da UFF.
Na prova de Português, a base foi um texto da revista "Época" sobre mulheres no mercado de trabalho. A primeira pergunta envolvia interpretação do texto. Era só ler, entender e responder.
As outras questões eram de conhecimentos básicos de gramática e da língua culta. Houve erros graves. Em uma delas, o aluno precisava concordar o verbo com o sujeito no plural. Ele acabou colocando a letra "s" em todas as palavras.
Em outra questão, era preciso apontar as origens de palavras. Por exemplo: o adjetivo racional vem do substantivo razão. A aluna não entendeu sequer o enunciado e deu respostas sem sentido. "O nível de expressão desses alunos é extremamente baixo, eu diria caótico. Nós damos zero a um aluno que não é capaz de organizar duas idéias", avalia Jairo Xavier, professor de Português da UFF.
Na redação, a média geral não ultrapassou nota 4, em 20 das 27 capitais. Veja o caso dramático de uma aluna: ela diz não ter condições de fazer o texto porque, em toda a vida escolar, só tinha escrito uma redação. Em outra prova, os erros de ortografia são inadmissíveis para um aluno que quer entrar na universidade.
Em Matemática, temas básicos. A questão mais simples era de porcentagem. Muitas respostas traziam erros assustadores. Nas que envolviam fórmulas e conceitos mais complexos, a grande maioria ficou em branco ou recebeu respostas como essa: "sei lá".
"O nível deles não é o nível capaz de qualificá-los para o ingresso no Ensino Superior numa universidade qualificada", afirma Luiz Cruz, professor de Matemática da UFF.
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