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Internacional
Sábado - 10 de Novembro de 2007 às 21:05

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Washington, 10 nov (EFE).- Norman Mailer, o romancista e jornalista que marcou a literatura americana na segunda metade do século XX, com livros repletos de violência, sexo e provocação, morreu hoje no Hospital Monte Sinai em Nova York, aos 84 anos, por falência renal.

A família divulgou hoje um comunicado, afirmando que o escritor - que se definia como um homem "anti-sistema" - estava com a saúde debilitada e chegou a ser operado do pulmão em outubro.

Considerado um dos maiores autores americanos, Mailer escreveu 39 livros, entre eles 11 romances, e atuou em todo tipo de gênero artístico, incluindo teatro, poesia, cinema e o "new journalism", em que misturou a experiência pessoal com fatos, utilizando técnicas de narrativa de ficção.

As obras do escritor foram aclamadas devido à originalidade do texto, à crueza da linguagem e ao poder hipnótico dos personagens.

Ao mesmo tempo, feministas criticavam a representação da mulher nos textos e outros rejeitavam a posição política do autor, um esquerdista. Alguns críticos consideravam as obras do romancista simplesmente ruins.

Mailer começou a escrever cedo e aos nove anos finalizou "An Invasion of Mars", uma história de 250 páginas.

Nascido em 1923 em Nova Jersey, o escritor era filho de um contador judeu sul-africano e uma mulher incansável - como ele a descrevia. Mailer foi criado num bairro de classe trabalhadora, no Brooklyn. Além de literatura, tinha um grande interesse por aviões e chegou a cursar engenharia aeronáutica na Universidade de Harvard.

Mas abandonou para sempre as leis da dinâmica após lutar na Segunda Guerra Mundial, na frente do Pacífico.

Ao retornar, escreveu "The Naked and the Dead", um romance com o qual surgiu na cena literária americana em 1948, aos 25 anos. Numa entrevista em 1991, Mailer afirmou que ter feito sucesso tão cedo estava deixando um grande peso.

"Era jovem e sabia pouco. Uma vez que escrevi esse livro, não tinha nada mais sobre o que escrever", disse.

Tentou a sorte como roteirista em Hollywood, mas foi recebido friamente. As duas obras lançadas em seguida, "Barbary Shore"(1951) e "The Deer Park" (1955), foram consideradas um fracasso.

O escritor ganhou duas vezes o Pulitzer e também um Prêmio Nacional do Livro.

Mailer se casou seis vezes, teve nove filhos e esfaqueou a segunda mulher, Adele Morales, durante uma festa. Ela não apresentou queixas contra o marido e se recuperou totalmente, após ficar à beira da morte.

O romancista protestava, bebia, fumava maconha e percorria os cassinos clandestinos de Nova York.

Em "Um Sonho Americano" (1965) refletiu a vida que levava através das lentes de Stephen Rojack, um personagem semi-autobiográfico que mata a mulher.

Para ele, o outro sonho americano, com casa nos subúrbios, filhos, cachorro e passando os domingos na igreja, não funcionava.

Mailer escreveu esse livro por encomenda da revista "Esquire", deixou-se levar por Rojack para uma vida de álcool, sexo e violência.

"Não gosto de escrever um livro quando sei qual vai ser o final, porque quero que meus personagens assumam o controle", disse o autor.

"É muito perigoso para mim saber aonde vai um livro, porque uma vez que sei, me emociono tanto que conto a outras pessoas, saio e bebo para comemorar e depois não trabalho", afirmou.

Talvez por isso, nunca tenha escrito uma autobiografia de verdade. "Cada vez que (alguém) passa por uma experiência muito intensa, é formado um cristal na personalidade", que projeta reflexos para escrever muitas histórias, afirmou Mailer.

"Em uma autobiografia provavelmente (um escritor) destrói todos os cristais", acrescentou.

Mailer também fez sucesso com seu estilo pessoal de jornalismo. Ganhou Pulitzers por "The Armies of the Night: History as a Novel, the Novel as History", em 1968, sobre uma manifestação pacifista no Pentágono no ano anterior, e por "A Canção do Carrasco" (1979), sobre a execução do assassino Gary Gilmore.

Nessa época também dirigiu filmes experimentais que passaram despercebidos.

Mailer chegou a ser preso algumas vezes por protestar contra a Guerra do Vietnã. Em 1969 concorreu às eleições primárias do partido democrata para a Prefeitura de Nova York. Ele propôs que a cidade se transformasse no 51º estado da União.

O último romance do escritor, "The Castle in the Forest" foi publicado em 1997.




Fonte: EFE

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