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Prazer de entrar em contato com fontes históricas
A Torre do Tombo é um prédio moderno que abriga os documentos mais valiosos da nação portuguesa. Era um local obrigatório para o nosso roteiro. No Brasil, começamos a fazer a lista do que deveria ser gravado nessa instituição. Assim que chegamos a Lisboa, a editora Andrea Escobar foi até lá e pediu a separação de alguns itens. Uma semana depois, tive o imenso prazer de tocar e de ler alguns documentos.
É imenso prazer mesmo. A leitura de cerca de 20 livros, as palestras, as pesquisas pela internet e as conversas com os historiadores foram muito gratificantes. Mas o contato com a fonte primária e os personagens dos fatos é incrível, porque, renovando certezas ou despertando dúvidas intrigantes, é sempre um passo definitivo no quebra-cabeça da construção do cenário de uma época. Veja, por exemplo, o tratado de 1825.
Dizem que é a nossa verdadeira declaração de Independência. Lindo, de veludo verde e bordado com fios de ouro. Tem o selo preservado numa caixa. Atravessou o oceano nas mãos de um diplomata inglês, pegando as assinaturas de Dom Pedro e de Dom João. Já na primeira Constituição de Portugal, toda dificuldade que Dom João VI vivia em 1821, quando regressa a Portugal, para aceitar as regras dos parlamentares, fica explícita na assinatura bem trêmula dele no documento.
Muito interessante também a carta do ministro das relações exteriores da Inglaterra, George Canning, para Rodrigo de Souza Coutinho, ministro de Dom João. Sabedor do apoio que a causa britânica tinha na figura do futuro Conde de Linhares, ele abre o verbo, sem meias-palavras. Depois de traçar um relato assustador dos feitos de Napoleão em outros reinos, e dizer que Portugal não pode perder a frota e as colônias para este inimigo, ele vem com a seguinte frase:
"A majestade britânica está pronta agora (em 12 de setembro de 1807) como estava pronta no ano passado para apoiar Dom João na sábia decisão de ... go to the Brazils" , assim com z e s no final mesmo.
Ou seja, um ano antes, os ingleses já tinham decidido fornecer o apoio, incluindo a escolta dos navios de guerra, para forçar a corte portuguesa a vir para o Rio.
Essa pressão fica bem mais intensa nos meses que antecedem a partida, em 1807. Quem segue as ordens de Canning em Portugal é um diplomata pérfido e mestre nas chantagens de todo o tipo, Lord Strangford. De qualquer forma, a carta é mais um documento que empurra Portugal para uma aventura além-mar.
A força do mar
A foto dessas falésias na Boca do Inferno, região de Cascais, pra mim, é a melhor imagem da força que o mar exerce sobre o povo português. Uma atração tão intensa que levou os habitantes deste pequeno país a descobrir e dominar terras em quatro continentes. Neste lugar, ficamos até o pôr-do-sol, pra registrar o colorido das montanhas, o brilho na água.
O lugar inspira pensamentos sobre as emoções de partidas e despedidas. É, como dizem os portugueses, "um sítio dramático".
Tem ainda uma história curiosa ligada a uma espécie de mago, amigo do poeta e escritor Fernando Pessoa, que veio visitá-lo na década de 30 do século passsado e, neste lugar, cometeu suicídio. Numa placa, o motivo do ato extremo - saudades da amada.
"Não posso viver sem ti, a outra boca de infierno apanhar-me-á não será tão quente quanto a tua."
É imenso prazer mesmo. A leitura de cerca de 20 livros, as palestras, as pesquisas pela internet e as conversas com os historiadores foram muito gratificantes. Mas o contato com a fonte primária e os personagens dos fatos é incrível, porque, renovando certezas ou despertando dúvidas intrigantes, é sempre um passo definitivo no quebra-cabeça da construção do cenário de uma época. Veja, por exemplo, o tratado de 1825.
Dizem que é a nossa verdadeira declaração de Independência. Lindo, de veludo verde e bordado com fios de ouro. Tem o selo preservado numa caixa. Atravessou o oceano nas mãos de um diplomata inglês, pegando as assinaturas de Dom Pedro e de Dom João. Já na primeira Constituição de Portugal, toda dificuldade que Dom João VI vivia em 1821, quando regressa a Portugal, para aceitar as regras dos parlamentares, fica explícita na assinatura bem trêmula dele no documento.
Muito interessante também a carta do ministro das relações exteriores da Inglaterra, George Canning, para Rodrigo de Souza Coutinho, ministro de Dom João. Sabedor do apoio que a causa britânica tinha na figura do futuro Conde de Linhares, ele abre o verbo, sem meias-palavras. Depois de traçar um relato assustador dos feitos de Napoleão em outros reinos, e dizer que Portugal não pode perder a frota e as colônias para este inimigo, ele vem com a seguinte frase:
"A majestade britânica está pronta agora (em 12 de setembro de 1807) como estava pronta no ano passado para apoiar Dom João na sábia decisão de ... go to the Brazils" , assim com z e s no final mesmo.
Ou seja, um ano antes, os ingleses já tinham decidido fornecer o apoio, incluindo a escolta dos navios de guerra, para forçar a corte portuguesa a vir para o Rio.
Essa pressão fica bem mais intensa nos meses que antecedem a partida, em 1807. Quem segue as ordens de Canning em Portugal é um diplomata pérfido e mestre nas chantagens de todo o tipo, Lord Strangford. De qualquer forma, a carta é mais um documento que empurra Portugal para uma aventura além-mar.
A força do mar
A foto dessas falésias na Boca do Inferno, região de Cascais, pra mim, é a melhor imagem da força que o mar exerce sobre o povo português. Uma atração tão intensa que levou os habitantes deste pequeno país a descobrir e dominar terras em quatro continentes. Neste lugar, ficamos até o pôr-do-sol, pra registrar o colorido das montanhas, o brilho na água.
O lugar inspira pensamentos sobre as emoções de partidas e despedidas. É, como dizem os portugueses, "um sítio dramático".
Tem ainda uma história curiosa ligada a uma espécie de mago, amigo do poeta e escritor Fernando Pessoa, que veio visitá-lo na década de 30 do século passsado e, neste lugar, cometeu suicídio. Numa placa, o motivo do ato extremo - saudades da amada.
"Não posso viver sem ti, a outra boca de infierno apanhar-me-á não será tão quente quanto a tua."
Fonte:
TV Globo
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/198987/visualizar/
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