BR-163: Problemas vão desde a prostituição infantil até a luta pela terra
A BR-163, conhecida como a rodovia Cuiabá-Santarém, é a maior aposta dos governos do Mato Grosso e do Pará para desenvolver uma região da Amazônia conhecida como “terra de ninguém” e que possui conflitos de toda a sorte. No entanto, o progresso está acarretando uma série de problemas sociais para um pedaço do Brasil onde a presença do Estado é rarefeita.
De toda a sua extensão, 55% da rodovia não tem asfalto. Ao anunciar que a estrada será totalmente pavimentada, o governo federal acabou atraindo imigrantes de todos os cantos do país. “São pessoas que vêm em busca de oportunidade e se deparam com uma vida de miséria”, relata Jarismar Ferreira, coordenador do Núcleo de Proteção Social do governo do Pará. A maioria é nordestina e sonha com um lote de terra.
Um mapeamento feito por 28 ministérios descobriu que há pelo menos sete áreas de conflito ao longo da rodovia. Com o asfaltamento, os problemas tendem a aumentar. Nos municípios paraenses de Novo Progresso, Trairão e na região conhecida como Castelos dos Sonhos, os madeireiros retiram ilegalmente toras da floresta. Como o governo começou a recadastrar os imóveis da região para instituir assentamentos, os técnicos do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) descobriram que a maioria dos madeireiros ocupa latifúndios irregularmente.
Morte
Na região da Terra do Meio que pertence a área de influência da BR-163, há conflitos entre fazendeiros e sindicalistas, que tentam implementar projetos de desenvolvimento sustentável na floresta. Em fevereiro de 2005, a tensa relação entre os produtores rurais e representantes de agricultores resultou na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada com oito tiros a mando de fazendeiros. “Embora seu trabalho tivesse mais foco na Transamazônica, a missionária defendia projetos sociais para a Cuiabá-Santarém”, conta o coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Trairão, Jorge Cassis. Ele observa que há pontos de tensão nas estradas vicinais da BR-163 por conta do excesso de sem-terra que chegaram à região.
Há 20 anos defendendo o asfaltamento da Cuiabá-Santarém, a Associação do Desenvolvimento Regional para Conclusão da BR-163, presidida por Jorge Antônio Baldo, considera impossível levar progresso a uma região sem criar problemas sociais. “O maior problema é a falta de assistência social para a população que migra para a região”, afirma Baldo. “Falta ordenamento fundiário”. Ele considera que, se o governo colocar em prática o plano de desenvolvimento traçado para a estrada, os problemas serão amenizados.
No Pará, a BR-163 é intrafegável no inverno. As cerca de 70 pontes de madeira ficam comprometidas com as cheias dos rios. O lamaçal atola caminhões e impede a passagem de carros menores. “As chuvas fortes começam agora em novembro. Há trechos que o rio passa por tubulações e, como as cheias, ele rasga a estrada, pela qual só se atravessa no inverno com balsas”, descreve Baldo.
Na parte do Mato Grosso, a estrada só não está asfaltada em 8% de sua extensão. A rodovia apresenta dois problemas sérios no estado. Um é a prostituição infanto-juvenil. No levantamento que o governo federal realizou nas estradas para lançar a campanha contra a exploração de menores, os 10 maiores focos de prostituição estão na BR-163. O segundo problema é o número de colisões entre veículos. “No Mato Grosso, a estrada tem bom estado de conservação e isso aumenta as colisões”, ressalta Vilceu Marcheti, secretário de Infra-Estrutura do estado.
Para o governo mato-grossense, a pavimentação significa uma alternativa para o escoamento de grãos até o porto de Santarém, um dos mais bem localizados do país. Só no pólo de soja do município de Sorriso, há 3 milhões de hectares agricultáveis que produzem 3 toneladas de grãos por hectare. “Esse é o maior pólo de soja do país”, ressalta Marcheti.
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