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Nacional
Sábado - 03 de Novembro de 2007 às 19:56

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A transferência do cantor Jamelão, de 94 anos, da Santa Casa de Misericórdia, no Centro, para dois hospitais particulares em menos de 24 horas gerou um mal-estar entre a família do sambista e a Estação Primeira de Mangueira.

Depois de ter sido colocado pela Mangueira em um quarto particular na Santa Casa, com um quadro de anemia profunda, Jamelão foi transferido na sexta-feira (2), a pedido da família, para o Hospital Copa D´Or, em Copacabana. Como não havia vaga na UTI, a família decidiu levá-lo para a Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras, na Zona Sul, na noite de sexta.

Com 55 anos, Joceli Ferreira dos Santos, filha única de Jamelão, afirma que a decisão de tirá-lo da Santa Casa teve uma única razão: "Aquele hospital não tem condições de tratar de ninguém. Como o próprio nome diz, é um lugar de misericórdia. Lá tem muita sujeira, não tem infra-estrutura e nem CTI. O local está cheio de mosquitos. Minha filha teve até que fazer faxina", disse.

Joceli reclama também dos dirigentes da escola de samba. Ela argumenta que ninguém foi visitá-lo e que o presidente da Mangueira, Percival Pires, não atende seus telefonemas: "Eu ligo, tento falar, mas desligam o telefone na minha cara. Estão abandonando o meu pai", lamenta.

Segundo Joceli, Jamelão, internado desde terça-feira (30), apresenta um quadro de anemia profunda, mas está estável e com a pressão controlada. O sambista, que está no CTI, respira normalmente, está fraco, não fala, mas se comunica com os olhos e a cabeça. Não há previsão de alta.

Mangueira se defende

Em nota oficial, a diretoria da Mangueira lamentou, na sexta-feira (2), a decisão de transferir Jamelão. Segundo a nota, a decisão coube apenas à família, que assinou um termo de autorização.

Neste sábado (3), o G1 entrou em contato com a assessoria da Mangueira, que negou que a Santa Casa fosse um lugar inapropriado para cuidar do paciente. Segundo a assessoria,Jamelão estava "muito bem instalado e era muito bem atendido pela equipe do doutor Milton Arantes". A assessoria conta ainda que, "em todas as internações, a escola sempre arcou com todos os custos, inclusive com as despesas de home care, porque a maior preocupação da Mangueira é a saúde de Jamelão."

'Dever foi cumprido', diz médico que atendeu Jamelão na Santa Casa

Em entrevista ao G1, o médico Milton Arantes, que atendeu Jamelão enquanto ele ficou internado na Santa Casa de Misericórdia, diz que não pode interferir no desejo da família de transferir o paciente, mas garante que tem a "consciência absolutamente tranqüila pelo dever cumprido."

Segundo ele, foi mobilizada uma equipe inteira para que o paciente tivesse toda assistência. "Foi montado o maior esquema, com o pessoal de enfermagem, do raio-x, do laboratório, para que ele pudesse ter todo apoio durante a internação. Ele não teria tido um apoio maior do que esse que foi dado por nós." E como ele mesmo frisa, não poderia ser diferente: "Pelo carinho e o reconhecimento de tudo que ele fez pela música no Brasil, foi prestado o melhor atendimento. Ele merece", orgulha-se.

O G1 tentou entrar em contato com a direção da Santa Casa da Misericórdia, mas foi informado que, neste sábado (3), nenhum diretor encontra-se no local.

Histórico de internações

O cantor, intérprete e principal voz da Estação Primeira da Mangueira ficou afastado do carnaval em 2007, depois de ser internado duas vezes em 2006. Ele foi hospitalizado no ano passado depois de sofrer uma esquemia no dia 25 de outubro, quando fazia shows em São Paulo. Menos de um mês depois, no dia 21 de novembro, ele voltou a ser internado, desta vez, no Rio, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).

Em 2007, a responsabilidade de levar o samba da Mangueira para a Avenida foi de José Luiz Couto Pereira da Silva, mais conhecido como Luizito.

Nascido em 12 de maio de 1913, Jamelão é um dos mais importantes integrantes da Velha Guarda da Mangueira e intérprete de sucessos como "Exaltação à Mangueira" (Enéas Brites / Aluisio da Costa), "Esses Moços", "Ela Disse-me Assim" (ambas de Lupicínio Rodrigues), entre muitos outros.




Fonte: G1

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