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Internacional
Sábado - 03 de Novembro de 2007 às 18:38

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HANIE HANCOCK - Um juiz do Chade começou a questionar no sábado um grupo de 16 europeus que enfrentam acusações de rapto e fraude por tentar levar 103 crianças para fora do país da África Central.

Uma pesada escolta militar acompanhou quatro membros da tripulação espanhola do avião, ainda trajando seus uniformes, e três jornalistas franceses para o principal tribunal da capital N'Djamena para serem interrogados pelo magistrado.

"No momento, há uma intensa comparação dos depoimentos", disse o procurador do Chade Philippe Houssine a jornalistas.

Uma vez que todos os acusados forem interrogados, um tribunal vai comparar suas declarações, e então o juiz decidirá se há provas suficientes para um julgamento. Esse processo levará vários dias.

Nove cidadãos franceses e sete espanhóis foram presos na cidade de Abeche, perto da fronteira leste com Darfur, região do Sudão assolada pela guerra, há pouco mais de uma semana, quando tentavam levar as crianças de avião para a Europa. A idade das crianças varia de um a dez anos.

Seis franceses são membros de um grupo chamado Arca de Zoé, que declarou que pretendia colocar órfãos de Darfur sob os cuidados de famílias européias e que tinha o direito de fazer isso, segundo as leis internacionais.

Mas autoridades das Nações Unidas e do Chade dizem que a maioria das crianças veio de famílias em que pelo menos um dos pais mora na violenta fronteira do Chade com o Sudão, contradizendo o termo "órfãos de guerra", usado pela Arca de Zoé.

"Um ato como esse é desumano. Não podemos aceitá-lo. Precisamos julgá-los aqui", disse Firmin Sanda, uma das pessoas na multidão reunida em frente ao tribunal.

Eric Breteau, presidente da Arca de Zoé, e pelo menos dois chadianos acusados foram levados ao tribunal no sábado. Se condenados no Chade, o principal acusado poderá receber uma pena de até 20 anos de trabalhos forçados.

"ENGANADO"

O caso é um constrangimento para o ex-poder colonial do Chade, a França, que apóia o presidente chadiano, Idriss Deby, e tem soldados e aviões estacionados no país.

O primeiro-ministro francês, François Fillon, pediu ao ministro das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, e ao ministro da Defesa, Hervé Morin, para que iniciem investigações do caso.

Ele disse que o governo havia advertido desde maio as famílias francesas envolvidas para que fossem cautelosas. Algumas famílias francesas pagaram até 2.000 euros (cerca de 5.000 reais) como "doação" à Arca de Zoé pelo custo do "resgate dos órfãos" de Darfur.

O caso gerou um feroz debate moral entre aqueles que acreditam que as crianças estariam melhor na Europa, longe dos conflitos da África, e aqueles ultrajados pelo modo que essas crianças foram tiradas de suas famílias africanas.

Algumas crianças disseram a jornalistas no Chade que foram seduzidas de vilas na fronteira do Chade com o Sudão com ofertas de doces e escola.

Cerca de 100 pessoas, algumas carregando flores, participaram de uma passeata silenciosa em apoio aos europeus, em Marselha, sul da França. Outra passeata deve ocorrer em Paris no domingo.

Protestos contra a Arca de Zoé ocorreram no Sudão e no Chade, alguns expressando críticas diretas à França.

A sobrinha de Dominique Aubry, um dos franceses presos no Chade, disse a um jornal francês que seu tio foi enganado sobre a natureza da atividade do grupo.

"Há os organizadores da operação e há outros que, como meu tio, foram enganados", disse Anne-Sophie Lagniel em entrevista ao Le Figaro, no sábado.



"Eles os convenceram de que seria uma missão oficial bem organizada, com Cécilia Sarkozy como patrona. Disseram a ele que era sobre um campo no Chade para tratar de crianças lá. Nada mais. Nunca falaram de adoção."




Fonte: Reuters

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