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Nacional
Sábado - 03 de Novembro de 2007 às 10:55

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Num pronunciamento feito a fiéis à porta da sua casa, o padre Júlio Lancelotti negou ontem (2) ter desviado recursos de ONGs e declarou que não manteve relacionamento sexual com um ex-interno da antiga Febem.

Disse que os padres, como todo ser humano, são "frágeis" e "fracos". "Somos sujeitos a tantas situações difíceis, mas o que eu gostaria de pedir a todos: mantenham a sua fé. Acima de tudo, que a Igreja não seja atingida e desrespeitada", afirmou.

As declarações foram dadas a cerca de 300 pessoas (os organizadores esperavam mais de 1.000), que participaram de caminhada em homenagem ao padre, da Igreja São Miguel Arcanjo --da qual ele é pároco-- até a sua casa, ambas na Mooca, após a missa de Finados. Foi a primeira vez, em 19 anos, que Lancelotti não celebrou a missa de Finados.

Em agosto, o padre Júlio procurou a polícia alegando que estava sendo vítima de extorsão por parte do ex-interno Anderson Marcos Batista, 25. Disse que Anderson o ameaçava de agressão e de denunciá-lo falsamente por pedofilia.

De acordo com o padre, no início, ele ajudou espontaneamente o ex-interno, mas os pedidos de dinheiro foram aumentando. Em três anos, o religioso disse ter dado cerca de R$ 80 mil a Anderson. O advogado do religioso, Luiz Eduardo Greenhalgh, diz que o valor pode chegar a até R$ 150 mil.

"Não sou perfeito"

"Eu não sou perfeito. Não quero vender uma imagem de pessoa perfeita. Porque quem convive comigo sabe das minhas limitações. Então, o que eu peço a todos vocês que orem, oremos, para que se preserve os valores maiores da nossa fé, que se preservem os valores e a dignidade da Igreja", afirmou.

Ontem, em seu discurso, padre Júlio não mencionou valores, mas negou que tenham saído dos cofres de entidades aos quais ele é ligado.

"Nunca tive acesso a nenhum recurso da entidade Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto. Mesmo porque sou conselheiro da entidade, nunca tive acesso, nem tenho acesso às contas da própria Casa Vida. Eu não posso movimentar, a não ser que fosse por algum jeito que logo seria descoberto. Eu não tenho acesso a nada dos recursos da entidade."

Prisões

Além de Anderson, três pessoas foram presas após o padre procurar a polícia (a mulher do ex-interno e dois irmãos que seriam encarregados de pegar o dinheiro com o padre). Sobre eles, o religioso disse: "Acredito muito que Deus pode tocar o coração das pessoas. E o mais simples é que as pessoas possam dizer a verdade. Dizer que aquelas coisas todas, que foram ditas e colocadas nas manchetes dos jornais e dos noticiários, não aconteceram."

Entre as "coisas" as quais ele se refere está a versão de Batista, ao ser preso, de nunca ter extorquido dinheiro do padre. Segundo Batista, ele recebia dinheiro do religioso em troca de relações homossexuais. Disse, ainda, que em oito anos recebeu mais de R$ 600 mil.

Padre Júlio falou em seu discurso, indiretamente, da acusação de corrupção de menores. O religioso disse, porém, que a mesma mulher que o denunciou teria mudado de versão.

"Nós não queremos entrar na ideologia neurótica dessa sociedade que não permite que se dê um abraço numa criança, ou que se beije uma criança porque aí se estaria havendo um sinal de aproveitamento, também de corrupção de menores. Isso é neurose", disse o padre Edélcio Serafim Otavianni, que substituiu Lancelotti na celebração da missa de Finados.

Padre Júlio não quis comentar com os jornalistas a suposta segunda extorsão que teria sofrido do ex-garoto de programa, Marcos José de Lima, 31, que também afirma ter mantido relações com o padre.

Além de fiéis --incluindo mulheres e crianças com cartazes de solidariedade, terços e corações de papel--, representantes do PT e de movimentos sociais estavam na caminhada.

"Homem mais santo que esse não tem", resumiu a professora aposentada Ana Maria Abjom, 50. "Qual é a credibilidade das pessoas que acusam o padre Júlio?", questionou.

O professor Tarcísio de Oliveira, 41, um dos organizadores do ato, disse ter ficado contente com a quantidade de participantes, mas reclamou, sem dizer nome, da omissão na defesa do padre. "Peço para as pessoas confiarem no trabalho do padre Júlio e mostrarem sua face." Nenhum integrante da cúpula da Igreja participou do ato.





Fonte: Folha Online

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