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Nacional
Domingo - 28 de Outubro de 2007 às 11:15

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Para começo de conversa, os punks são anarquistas, contra o sistema, mas não são violentos. Punks das antigas, como Clemente, vocalista do Inocentes, banda com 26 anos de estrada, e ex-punks, como Gustavo Eduardo Araújo Brasil, historiador de 34 anos e que mora em Ilhéus (BA), atos violentos de punks – e da juventude em geral -, como dos últimos dias em São Paulo, são reflexo da violência da sociedade, como fazem questão de ressaltar.

Apesar de pacifista, em seus 30 anos de existência o movimento acabou estigmatizado como agressivo pela mídia. Talvez pelas roupas sujas e rasgadas, as mesmas com as quais o empresário Malcolm McLaren vestiu os pupilos Steve Jones, Paul Cook, Sid Vicious e Johnny Rotten, integrantes da banda inglesa Sex Pistols, por ocasião do lançamento do mítico álbum Never Mind the Bollocks, em 1977, talvez pelos cabelos espetados, pelos piercings ou pela porrada sonora das bandas: enfim, desde o início, surgiu para chocar, para contestar. Mas não para agredir.

No Brasil, a cena punk se consolidou com o festival O Começo do Fim do Mundo, realizado no Sesc Fábrica da Pompéia, na Zona Oeste da capital paulista, em 1982, e que contou com a participação de várias bandas. Desde então, os punks passaram a ser reconhecidos nas ruas das mais diversas cidades do país como uma tribo.

Para Clemente, o movimento ainda perdura e atrai jovens nos dias de hoje devido à sua espontaneidade. E os atos de violência dos últimos dias são isolados. “Teoricamente, os punks são pacifistas. Mas quando junta um bando de jovens é difícil segurar. A violência, na verdade, não é privilégio dos jovens da periferia. Há uma tendência à violência da sociedade como um todo. Não são só punks que se envolvem em atos de violência”, argumenta o vocalista do Inocentes.

Basta lembrar dos jovens abonados da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que surraram e roubaram uma empregada doméstica que esperava a condução em um ponto de ônibus para voltar para casa. Ou dos freqüentadores de academias de artes marciais e musculação que saem de casa com apetrechos como soco-inglês e vivem se atracando pelas ruas de São Paulo.

Rixa antiga



A rixa entre esquerda e direita precede – e explica – a rixa entre punks e skinheads. Punks são anarquistas; ou seja, de extrema esquerda. E skinheads, nazistas; de extrema direita. Desta forma, criou-se naturalmente a rivalidade entre estas tribos, acrescentando assim um ingrediente a mais na violência.

Na semana passada, um grupo de 20 punks cruzou com quatro skinheads na Avenida Tiradentes, perto da estação da Luz. Como resultado, um adolescente de 17 anos, supostamente um “careca”, foi espancado ferozmente e mandado para o hospital com traumatismo craniano. Os outros três conseguiram fugir. A polícia prendeu dez punks que participaram da ação. Eles vão responder criminalmente por tentativa de homicídio.

Desde o início dos anos 80, são comuns os confrontos entre integrantes dos dois grupos em São Paulo. Mas a rivalidade ocorre em qualquer lugar, até mesmo na pacífica Bahia de todos os santos. “Em 1990, eu fui para Salvador e lá tinha muita rivalidade com os ‘carecas’. Carrego algumas cicatrizes desta época”, conta Gustavo Araújo, que foi punk dos 14 aos 25 anos.

Já a masterpiercer (colocadora de piercing) e DJ Cláudia Zuba, de 38 anos e punk dos 16 aos 20 anos, conta que perdeu muitos amigos nessas brigas entre as tribos. "Pelo menos uns oito amigos morreram nestas 'tretas' com os skinheads ou os carecas. Os skinheads são nazistas e os carecas, nacionalistas", explicou.

Mesmo distante da cena punk das grandes metrópoles, Gustavo decidiu virar punk por causa do pai. “Meu pai era integralista. Então, como todo bom adolescente, fui contra o meu pai. Quando me deparei com o anarquismo, me identifiquei”, relembra, não sem abrir mão do bom humor.

Por conta dessa identificação, Gustavo entrou de cabeça no movimento e participava de quase todo protesto ou passeata de trabalhadores. “Decidi sair porque não agüentava mais correr da polícia. Nas passeatas, os próprios policiais atiçavam os skinheads contra nós e depois do tumulto armado só desciam a borracha em nós”, recorda Gustavo.

Estigmatizados

Para ele, no entanto, o que marca o movimento punk é o pacifismo. “Essa coisa da agressão é mais da juventude. O estigma (de violento) existe, mas não condiz com a realidade. As roupas, a aparência, com aqueles cabelos espetados, tinham um significado muito forte. Se em cidade grande já olham torto, imagina em Ilhéus como me olhavam”, brinca o pesquisador.

Depois de 30 anos - 25 anos no Brasil-, o movimento, obviamente, não carrega mais todo o seu peso panfletário como dos anos iniciais, perdeu sua força e se diluiu. Para Cláudia, a violência gratuita de punks que desconhecem a ideologia está descaracterizando o movimento.

"Os que se dizem punks hoje em dia batem em gays, matam um atendente por causa de um desconto de R$ 0,60. Para mim, são bandidos. O que era ideologia virou banditismo", afirmou, ao relembrar do assassinato de um balconista em um quiosque no último dia 15 no terminal D. Pedro II, no centro de São Paulo.

“Muitos jovens se dizem punks e nem conhecem a ideologia do movimento. São 30 anos, não é mais como antigamente. Nem bandas representativas, um dos pilares do movimento, há mais hoje em dia”, lamenta Clemente.

Apesar disso, o Inocentes continua nas trincheiras, despejando decibéis nos ouvidos de públicos dos mais diversificados em porões de casas alternativas de shows de rock no centro da capital . “Costumo dizer que nos nossos shows vão até punks”, brinca Clemente.




Fonte: G1

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