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Internacional
Domingo - 28 de Outubro de 2007 às 05:50

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A primeira-dama da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, deve ser eleita neste domingo (28), em primeiro turno, a primeira mulher presidente do país, indicam as pesquisas realizadas nos últimos dias. Para chegar como grande favorita ao dia das eleições ela contou com a ajuda do marido, o presidente Néstor Kirchner, que mobilizou o governo com ações que beneficiaram a candidatura da esposa.

O maior cabo-eleitoral de Cristina foi o bom desempenho da economia nesses quatro anos e meio da administração Kirchner - que assumiu o cargo pouco mais de um ano após a grave crise econômica de 2001. Apesar de a inflação ter crescido muito e incomodado os argentinos neste ano, a redução do desemprego e a melhoria dos salários, principalmente da classe baixa e média-baixa, acabaram revertendo em promessas de votos para a primeira-dama, na eleição que começa hoje às 8h da manhã (9h no Brasil).

Mas não foi apenas essa a contribuição do presidente, afirmaram quatro analistas políticos argentinos entrevistados pelo G1 nesta semana. Eles são unânimes em afirmar que o governo manipulou para baixo os índices oficiais de inflação e adotou medidas populistas neste ano eleitoral, como a manutenção das tarifas públicas (energia e transporte, principalmente) a preços muito baixos e a aceleração de programas de distribuição de renda para os mais pobres - justamente a faixa da população que pode eleger Cristina logo no primeiro turno.

“O governo aumentou o gasto público para financiar esse boom econômico. Mas o próximo presidente vai pegar um Estado com dificuldades financeiras”, disse ao G1 o analista político Rosendo Fraga. Segundo ele, é a mesma estratégia usada por Carlos Menem nos anos 90 - que anos depois levaria à crise de 2001.

O analista Jorge Castro, diretor do Instituto de Planejamento Estratégico, também vê paralelos entre Menem e os Kirchner. “Tanto o ex-presidente quanto Cristina conseguem muitos votos à medida que cai a escolaridade e a renda do eleitor. É o voto do peronismo”, explica.

Inflação

Para Jorge Castro, Néstor Kirchner não tem uma estragégia de combate à inflação, “mas sim de controle político”. “Suas decisões não respondem a uma política econômica de crescimento sustentável. Ele agiu pensando em fazer seu sucessor na Casa Rosada.”

Néstor e Cristina Kirchner negaram diversas vezes que o governo tenha manipulado os índices oficiais de inflação. Mas até mesmo aliados políticos do casal no interior do país questionaram as estatísticas do Indec.

O número oficial indica uma inflação de cerca de 9% neste ano. Já sondagens de analistas independentes apontam para um aumento dos preços real que varia entre 20% e 25%.

O que puxou a inflação neste ano foi o aumento dos alimentos, prejudicados por chuvas de granizo. Na Argentina, o item alimentação responde por cerca de 25% do custo de vida - um índice bem superior à média dos países sul-americanos.

Outro benefício que o governo teve com a inflação oficial de 9% foi ter economizado dinheiro gasto no pagamento dos juros da dívida - que é reajustada com base nos números do Indec. Assim, sobrou mais dinheiro para investir, por exemplo, na expansão do programa de distribuição de renda (semelhante ao Bolsa-família, no Brasil).

Rosendo Fraga lembra ainda que Kirchner conciliou o cargo de presidente com o de cabo-eleitoral de sua mulher, participando de diversos comícios de campanha. É importante lembrar que isso não configura conduta ilegal nem crime eleitoral. “Mas isso ajuda uma candidata em detrimento dos outros.”

Economia artificial

O analista Jorge castro afirma que o preço das tarifas foi mantido artificialmente baixo. “É impossível sustentar esse subsídio por um tempo tão longo. Isso só foi feito para que Kirchner mantivesse a inflação mais baixa e beneficiasse a campanha de Cristina.”

Para Dante Sica, analista da consultoria Abeceb, essa foi uma decisão política do governo. “Nesta eleição, o governo joga com acertos econômicos. Manter o crescimento é um objetivo político para essa administração. Mas para 2008 deve haver um aumento das tarifas públicas.”

Todas essas políticas de Néstor Kirchner impulsionaram a candidatura de Cristina porque foram benéficas para uma grande faixa da população a curto e médio prazos, disse ao G1 a analista política Graciela Romer. “Mas o sinal amarelo já foi aceso: é preciso que o próximo presidente faça mudanças, e logo, para que o país não volte a viver momentos de crise.”




Fonte: G1

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