Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Sábado - 27 de Outubro de 2007 às 18:49

    Imprimir


A polícia apontou, na tarde deste sábado (27), a necessidade de quebrar o sigilo bancário do Padre Júlio Lancelotti para apurar os depoimentos dados pelos presos acusados de extorquir dinheiro dele.

"Temos que levantar a conta dele", afirmou o delegado André Pimentel, do Setor de Investigações Gerais (SIG) da 5ª Seccional.

O homem acusado de comandar o esquema, o ex-interno da Febem Anderson Marcos Batista, disse que recebeu R$ 700 mil do padre nos últimos anos.

O próprio advogado do suspeito, Nelson Bernardo da Costa, afirma que recebeu pagamento do padre para defender Batista em um processo de homicídio, em 2001. "O pagamento foi em seis parcelas de R$ 1.000", disse o advogado. Ele sabia da origem do dinheiro e pensou que se tratasse de "um gesto de caridade". Batista foi condenado em primeira instância a 12 anos de prisão e aguardava recurso em liberdade.

Segundo o delegado, um inquérito foi aberto para apurar o suposto enriquecimento ilícito do suspeito.

Vítima

Pimentel declarou nesta tarde, em entrevista coletiva, que não há comprovação das acusações feitas pelo advogado de Batista. "Até agora o padre é vítima", afirmou Pimentel.

Na madrugada deste sábado, o defensor do ex-interno da antiga Febem (atual Fundação Casa) disse à TV Globo que o cliente e o religioso mantinham um relacionamento. “Nunca houve extorsão. Ele [Batista] tinha uma amizade que se tornou relacionamento sexual”, disse o advogado. Costa falou, ainda, que a quantia repassada por Lancelotti ao ex-interno pode chegar a R$ 700 mil.

O delegado da SIG contou que não há qualquer prova de relacionamento entre o padre Júlio e o ex-interno e que a origem do dinheiro ainda está sendo investigada.

Em entrevista ao SPTV deste sábado, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, defensor do padre, afirmou que Lancelotti é a vítima e deve ser tratado como inocente. "Temos que pesar se vamos dar guarida à palavra de um bandido ou à palavra do padre Júlio. Eu quero se que presuma a inocência do padre, porque foi ele que denunciou a armação", afirmou.

Padre Júlio é ligado à Pastoral do Menor de São Paulo e conhecido por seu trabalho social com menores infratores e moradores de rua. Batista teria pedido ajuda financeira a ele após sair da antiga Febem, em 2000, sem parar mais de pressioná-lo e pedir dinheiro. “O pedido começava com coisas razoáveis, depois foi aumentando, foi aumentando de exigência e não era mais um pedido, mas no fundo era uma forma de exigir”, afirmou o sacerdote na semana passada.

Nos últimos três anos, os pedidos teriam se transformado em chantagens. Segundo o padre, além de exigir dinheiro, Batista fazia ameaças, como afirmar que uma criança ligada aos criminosos havia sido molestada por Lancelotti. O padre chegou a ser fiador e pagou oito prestações de um Mitsubishi Pajero comprado pelo rapaz e sua mulher.

Na semana passada, padre Júlio disse que entregou ao grupo R$ 50 mil, parte do dinheiro para pagar um carro importado. Mais tarde, o padre voltou à delegacia e disse que não entregou R$ 50 mil, mas sim R$ 80 mil, e que teria ido pessoalmente fazer o financiamento de um veículo para o casal de criminosos.

O advogado de Batista tem outra versão. Segundo ele, o valor repassado pelo padre ao grupo foi muito maior. “Esse dinheiro foi passado pra ele [Batista] durante seis, sete anos. E totalizava uma média de R$ 600 mil, R$ 700 mil." Costa diz que o cliente comprou carros de luxo, uma casa e usava o dinheiro para sair à noite.

Prisão

Batista, sua mulher e um outro homem foram presos na noite de sexta-feira (26) em um prédio na Rua Riachuelo, na região central da capital. Uma denúncia anônima ajudou a polícia a localizá-los. Na madrugada de sábado (27), eles foram levados para uma delegacia no Belém, na Zona Leste da Capital, onde prestaram depoimento. De manhã, fizeram exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML).

Um outro suspeito de participar da extorsão já está preso desde o dia 6 deste mês. Ele foi detido em flagrante quando foi buscar o dinheiro de mais uma parcela do Pajero, que foi apreendido.

Investigação

O delegado André Luiz Pimentel, chefe do setor de investigações da 5ª seccional de São Paulo, disse que o padre procurou a polícia em agosto e durante 15 dias a quadrilha foi investigada.

Padre Lancelotti afirmou que um dos motivos que o fez ceder à extorsão foi evitar que outras pessoas fossem prejudicadas pelo grupo. A polícia gravou algumas ligações feitas para o religioso, mas os arquivos não contêm ameaças diretas.

Defesa

Dom Pedro Stringhini, bispo auxiliar de São Paulo, saiu em defesa de Lancelotti. Para ele, o padre foi enganado e, inicialmente, teria dado dinheiro para tentar ajudar o grupo. “Esse é um fato lamentável de alguém que se aproveitou da boa fé, da boa vontade e até da ingenuidade dele”, defendeu.

Stringhini acredita que Lancelotti só foi à polícia quando percebeu que o grupo estava mal intencionado. “Ele só deu queixa quando percebeu que estava sendo enganado. Chegou a um ponto que ele percebeu isso.”

Denúncia contra o padre

A Polícia Civil abriu inquérito no dia 24 para investigar se Lancelotti cometeu corrupção de menor dentro da Casa Vida. A denúncia surgiu depois que o padre procurou a polícia para contar que vinha sendo vítima de extorsão.

Uma mulher, ex-funcionária da Casa Vida que não quis se identificar, fez a acusação contra o sacerdote. Padre Júlio ainda será chamado a dar depoimento. A polícia tenta identificar a criança que sofreu o suposto abuso.

Lancelotti decidiu adiar a viagem que faria na terça-feira (23) para a Itália. No inquérito para apuração de extorsão, em que o religioso figura como vítima, a polícia investiga se recursos repassados pela Prefeitura de São Paulo à ONG Casa Vida, que ele dirige, chegaram às mãos dos criminosos que chantageavam o padre.




Fonte: G1

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/201112/visualizar/