Méritos de Uma Administração
Não se pode esquecer, desse modo, o fato do presidente Lula da Silva ter dado continuidade as coisas boas das gestões anteriores. Atitude louvável, porém ignorada pela imensa maioria dos políticos que ascenderam à chefia da administração pública municipal, estadual e federal. A prática, por aqui, quase sempre, é a de jogar nas gavetas do arquivo morto as obras, físicas ou não, empreendidas pelos antecessores, o que é uma das formas de desqualificá-las e enquadrar seus autores no quadro de gestores menores; diferentemente, portanto, do que se vêem geralmente nos países economicamente maiores, certamente em razão da vigilância cuidadosa de uma camada de cidadãos.
Contudo, é preciso dizer, faltou ao atual mandatário-mor do Brasil um pouco mais de ousadia no sentido de mudar os rumos da política econômica, que é a mesma dos tempos em que os petistas estavam na oposição, e, nessa condição, teciam severas críticas a referida política. Não lhe falta uma vírgula sequer. Continua como era antes. Acrescida apenas da generosidade do mercado internacional. Fator importante, pois deixa muitíssimo entusiasmados os agentes exportadores nacionais, entre os quais aqueles ligados ao agronegócio, e esse detalhe, obviamente, alimenta o discurso oficial, que procura vender uma suposta imagem unicamente construída pelas mãos do governo local.
Aliás, eis mais uma virtude do atual governo, o de utilizar-se e bem da propaganda e do marketing, muito melhor que os anteriores. Modo de se fazer uma pequena obra agigantar-se aos olhos dos contribuinte-assistentes, principalmente quando se sabe que estes não fazem uma leitura crítica da administração pública, contentando-se tão-somente com as piruetas das palavras, do tipo “nunca antes na história deste país”. Frase excessivamente utilizada pelo presidente, sem, contudo, significar coisa alguma, a “não ser para tampar o sol com a peneira”, no dizer popular; mas, estranhamente, arranca aplausos da platéia, deixando-a satisfeita.
Explica-se, portanto, os altos índices de aceitação do governo Lula da Silva, o que entusiasma os lulistas, a tal ponto que estes já têm como certa seu retorno a presidência da República em 2014, sem despregarem os olhos das eleições de 2010, quando o governo fará o seu sucessor, que se recusará a disputar a reeleição (2014), cedendo assim a vaga para o próprio Lula da Silva. Os lulistas acreditam, piamente, nisso. O senhor Luis Inácio Lula da Silva também, pois até já está a sondar algumas figuras ligadas ao seu governo, tais como o deputado Ciro Gomes e a ministra Dilma Rousseff. O problema é que nenhuma delas, sequer, consegue conquistar a simpatia da militância petista, muito menos da maioria do eleitorado, particularmente aquela fatia contemplada com o Bolsa Família. Isso se agrava quando se percebe que é muito difícil a transferência de votos, nem mesmo do ex-sindicalista para outro candidato, o que pode facilitar a vitória de uma candidatura oposicionista, daí a preocupação do governo, pois esta, no poder, dificilmente abrirá mão da possibilidade de reeleição em 2014, a não ser que este instituto venha a desaparecer. O senhor Lula da Silva está na torcida.
Lourembergue Alves é professor da UNIC e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.
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