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Bunkers de Hitler viram abrigos para animais selvagens
Atraídos pela calma de postos de metralhadora há muito abandonados, animais raros têm se estabelecido em bunkers arruinados que formam a Linha Siegfried, construída por Hitler para proteger a fronteira da Alemanha Ocidental. Agora, grupos de proteção ambiental estão lutando para impedir que as autoridades destruam este gigantesco legado da Era Nazista.
A Linha Siegfried, uma rede de 630 km de bunkers que Hitler construiu numa tentativa de proteger a fronteira ocidental de uma invasão aliada, finalmente está servindo a um propósito seis décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial: virou um refúgio tranqüilo para gatos selvagens, morcegos e uma série de outras espécies.
Depois da Guerra, os aliados explodiram a maior parte dos 18 mil bunkers que compunham o que os alemães chamavam de “Muro Oeste”. Desde então, a natureza conquistou as ruínas que agora estão cobertas por vegetação dos campos e florestas da Alemanha ocidental da fronteira com a Holanda até a Suíça.
Esta relíquia do nazismo foi ignorada por sucessivos governos alemães até que as décadas de 60 e 70, quando autoridades regionais começaram a ordenar a retirada dos restos de concreto para abrir espaço para fazendas e para evitar os pedidos de indenização por pessoas andando a pé que se feriram ao subir nas estruturas.
Mas os grupos em defesas dos animais selvagens têm lutado para parar os tratores que iriam destruir os bunkers e tiveram algum sucesso, comprando algumas das estruturas individuais, chegando a acordos com conselhos locais e conseguindo que autoridades regionais detivessem o processo de destruição, pelo menos por enquanto.
“Os bunkers se tornaram verdadeiras ilhas para a vida selvagem nos últimos 60 anos , eles são um refúgio para os animais”, disse à “Spiegel” o especialista em animais selvagens Sebastian Schöne, do Bund, o ramo alemão da Amigos do Planeta Terra Internacional (Friends of the Earth International).
“Os gatos do mato vêm em maio para ter suas crias e se abrigam aqui no inverno, assim como os camundongos do campo, o que é conveniente para os gatos. A vida selvagem atrai aves de rapina”.
Morcegos raros cochilam
Pelo menos dez tipos de morcegos – estritamente protegidos pelas leis internacionais de proteção à vida animal – já se mudaram para muitos dos abrigos, incluindo um raro morcego com orelhas de camundongo e um morcego de poça d’água.
“Os morcegos se escondem nas rachaduras do concreto o ano todo, é um excelente lugar para eles”, disse Markus Thies, um especialista em morcegos da organização alemã Nabu que tem feito um lobby para salvar o Muro Oeste nos últimos 20 anos.
“Eles são difíceis de se ver”, afirmou Thies, que encabeça a equipe de dez entusiastas que passam seu tempo livre procurando morcegos nos bunkers e removendo-os para que os andarilhos não os perturbem nas colinas de Eifel, oeste da Alemanha.
Raposas passam despreocupadamente por entre trincheiras antitanques, martas e texugos dormem confortavelmente entre paredes de concreto de um metro de espessura que já foram abrigo para vigilantes soldados da Wehrmacht, posicionados atrás de metralhadoras e baterias antiaéreas.
Lagartos tomam sol no concreto quente durante o verão e os bunkers também dão abrigo a aranhas e uma grande variedade de insetos. Musgo e outros tipos de vegetação crescem sobre o giz que poreja das paredes.
O Muro Oeste – que os aliados chamavam de Linha Siegfried – foi construído entre 1936 e 1940. Ele dava emprego a milhares de trabalhadores e a máquina de propaganda nazista dava a impressão errada de que a Alemanha tinha uma “fortificação impenetrável” no Oeste.
Antes da Guerra, os responsáveis pela comunicação nazista arrimavam que o Muro Oeste era meramente defensivo. Depois que o conflito teve início, seu objetivo era proteger o franco oeste da Alemanha.
Luta ferrenha
Os bunkers não desempenharam um papel militar até o desembarque dos aliados na Normandia em 1944. As tropas americanas que avançavam encontraram uma resistência ferrenha nos estreitos vales na floresta de Huertgwld, perto de Aachen, o que custou a vida de cerca de 35 mil soldados e de 12 a 15 mil defensores alemães.
O Muro Oeste também se tornou uma área de manobra para as forças alemãs à frente na Batalha de Bulge, a maior ofensiva de Hitler durante a guerra. Apesar de toda a propaganda, os bunkers foram irrelevantes como obstáculos nos últimos meses do conflito porque os aliados tinham superioridade aérea. Os abrigos acabaram se tornando armadilhas mortais para muitos soldados alemães porque seus muros muitas vezes não resistiam aos ataques.
Num lance para preservar os bunkers, o Bund, grupo em defesa dos animais selvagens, juntou forças com agências pela conservação de monumentos que têm defendido que a Linha Siegfried deve ser mantida intacta pelo seu valor histórico.
Cerca de 100 da estimativa de 2 mil bunkers no estado do Norte de Reno-Westphalia já foram colocados sob proteção do patrimônio histórico e historiadores locais acompanham turistas a alguns deles. Há milhares de outros bunkers em estados por onde o Muro Oeste passa: Rhineland-Palatinate, Baden-Württemberg e Saarland. Até agora, esforços para preservá-los têm sido feitos com base local e não houve uma abordagem nacional para o assunto.
Pressão
Schöne afirma que a pressão está começando a ter efeito sobre o governo em Berlim. O Ministério das Finanças Alemão, que é proprietário legal de todas as propriedades que pertenceram aos nazistas, provavelmente estenderá a moratória sobre a derrubada do Muro Oeste, datada de 2004.
“O governo federal está sentindo a pressão”, disse ele a “Spiegel Online”. “Você não pode se reconciliar com a história usando tratores bulldozer”.
“Tem sido dificl para nós lidar com este assunto porque na Alemanha você é imediatamente rotulado como uma espécie de neo-nazista se disser qualquer cosia positiva sobre os bunkers. Somos acusados de banalizar a história por chamar isso de “Muro Verde do Oeste”. Não estamos dizendo que o Muro Oeste seja ótimo. Estamos apenas sendo pragmáticos”.
Schöne inspecionou pessoalmente 400 bunkers para verificar se havia animais selvagens vivendo neles e dar seu parecer sobre o valor dos locais como habitat natural. Ele recebeu 200 mil euros (pouco mais de R$ 500 mil) de fundos para o projeto nos últimos dois anos, principalmente dos governos regionais, e afirmou que teve confirmação verbal de que receberia mais financiamento.
Ajuda dos gatos do mato
Schöne disse que o BUND comprou um bunker por 7 mil euros (quase R$ 18 mil) para assegurar que ele não seja destruído. Conselhos locais também estão começando a se envolver, sendo que a cidade vizinha de Euskirchen recentemente comprou seis bunkers que haviam sido destinados a remoção, mesmo eles tendo sido designados como habitat protegido sob as leis européias.
“Autoridades locais perceberam o potencial dos bunkers como atração turística e que isso poderia gerar dinheiro”, declarou Schöne. A aliança entre os conselhos locais e os grupos em defesa dos animais tem sido difícil, uma vez que os gatos do mato e morcegos não apreciam grupos de turistas.
“Nós não queremos atrair muitos visitantes”, disse Schöne, que prefere encaminhar os turistas para alguns bunkers que não têm animais selvagens, ou limitar os tours a estações quando as estruturas de concreto estão vazias.
Em um caso recente, a própria vida selvagem se encarregou de fazer a pressão, com sucesso imediato. “Há pouco tempo, algumas autoridades se encontraram para inspecionar um bunker para ver se valia a pena ou não preservá-lo. Eles estavam prestes a entrar quando viram dois gatos do mato saindo correndo de dentro dele. Isso salvou o bunker”, disse Schöne.
A Linha Siegfried, uma rede de 630 km de bunkers que Hitler construiu numa tentativa de proteger a fronteira ocidental de uma invasão aliada, finalmente está servindo a um propósito seis décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial: virou um refúgio tranqüilo para gatos selvagens, morcegos e uma série de outras espécies.
Depois da Guerra, os aliados explodiram a maior parte dos 18 mil bunkers que compunham o que os alemães chamavam de “Muro Oeste”. Desde então, a natureza conquistou as ruínas que agora estão cobertas por vegetação dos campos e florestas da Alemanha ocidental da fronteira com a Holanda até a Suíça.
Esta relíquia do nazismo foi ignorada por sucessivos governos alemães até que as décadas de 60 e 70, quando autoridades regionais começaram a ordenar a retirada dos restos de concreto para abrir espaço para fazendas e para evitar os pedidos de indenização por pessoas andando a pé que se feriram ao subir nas estruturas.
Mas os grupos em defesas dos animais selvagens têm lutado para parar os tratores que iriam destruir os bunkers e tiveram algum sucesso, comprando algumas das estruturas individuais, chegando a acordos com conselhos locais e conseguindo que autoridades regionais detivessem o processo de destruição, pelo menos por enquanto.
“Os bunkers se tornaram verdadeiras ilhas para a vida selvagem nos últimos 60 anos , eles são um refúgio para os animais”, disse à “Spiegel” o especialista em animais selvagens Sebastian Schöne, do Bund, o ramo alemão da Amigos do Planeta Terra Internacional (Friends of the Earth International).
“Os gatos do mato vêm em maio para ter suas crias e se abrigam aqui no inverno, assim como os camundongos do campo, o que é conveniente para os gatos. A vida selvagem atrai aves de rapina”.
Morcegos raros cochilam
Pelo menos dez tipos de morcegos – estritamente protegidos pelas leis internacionais de proteção à vida animal – já se mudaram para muitos dos abrigos, incluindo um raro morcego com orelhas de camundongo e um morcego de poça d’água.
“Os morcegos se escondem nas rachaduras do concreto o ano todo, é um excelente lugar para eles”, disse Markus Thies, um especialista em morcegos da organização alemã Nabu que tem feito um lobby para salvar o Muro Oeste nos últimos 20 anos.
“Eles são difíceis de se ver”, afirmou Thies, que encabeça a equipe de dez entusiastas que passam seu tempo livre procurando morcegos nos bunkers e removendo-os para que os andarilhos não os perturbem nas colinas de Eifel, oeste da Alemanha.
Raposas passam despreocupadamente por entre trincheiras antitanques, martas e texugos dormem confortavelmente entre paredes de concreto de um metro de espessura que já foram abrigo para vigilantes soldados da Wehrmacht, posicionados atrás de metralhadoras e baterias antiaéreas.
Lagartos tomam sol no concreto quente durante o verão e os bunkers também dão abrigo a aranhas e uma grande variedade de insetos. Musgo e outros tipos de vegetação crescem sobre o giz que poreja das paredes.
O Muro Oeste – que os aliados chamavam de Linha Siegfried – foi construído entre 1936 e 1940. Ele dava emprego a milhares de trabalhadores e a máquina de propaganda nazista dava a impressão errada de que a Alemanha tinha uma “fortificação impenetrável” no Oeste.
Antes da Guerra, os responsáveis pela comunicação nazista arrimavam que o Muro Oeste era meramente defensivo. Depois que o conflito teve início, seu objetivo era proteger o franco oeste da Alemanha.
Luta ferrenha
Os bunkers não desempenharam um papel militar até o desembarque dos aliados na Normandia em 1944. As tropas americanas que avançavam encontraram uma resistência ferrenha nos estreitos vales na floresta de Huertgwld, perto de Aachen, o que custou a vida de cerca de 35 mil soldados e de 12 a 15 mil defensores alemães.
O Muro Oeste também se tornou uma área de manobra para as forças alemãs à frente na Batalha de Bulge, a maior ofensiva de Hitler durante a guerra. Apesar de toda a propaganda, os bunkers foram irrelevantes como obstáculos nos últimos meses do conflito porque os aliados tinham superioridade aérea. Os abrigos acabaram se tornando armadilhas mortais para muitos soldados alemães porque seus muros muitas vezes não resistiam aos ataques.
Num lance para preservar os bunkers, o Bund, grupo em defesa dos animais selvagens, juntou forças com agências pela conservação de monumentos que têm defendido que a Linha Siegfried deve ser mantida intacta pelo seu valor histórico.
Cerca de 100 da estimativa de 2 mil bunkers no estado do Norte de Reno-Westphalia já foram colocados sob proteção do patrimônio histórico e historiadores locais acompanham turistas a alguns deles. Há milhares de outros bunkers em estados por onde o Muro Oeste passa: Rhineland-Palatinate, Baden-Württemberg e Saarland. Até agora, esforços para preservá-los têm sido feitos com base local e não houve uma abordagem nacional para o assunto.
Pressão
Schöne afirma que a pressão está começando a ter efeito sobre o governo em Berlim. O Ministério das Finanças Alemão, que é proprietário legal de todas as propriedades que pertenceram aos nazistas, provavelmente estenderá a moratória sobre a derrubada do Muro Oeste, datada de 2004.
“O governo federal está sentindo a pressão”, disse ele a “Spiegel Online”. “Você não pode se reconciliar com a história usando tratores bulldozer”.
“Tem sido dificl para nós lidar com este assunto porque na Alemanha você é imediatamente rotulado como uma espécie de neo-nazista se disser qualquer cosia positiva sobre os bunkers. Somos acusados de banalizar a história por chamar isso de “Muro Verde do Oeste”. Não estamos dizendo que o Muro Oeste seja ótimo. Estamos apenas sendo pragmáticos”.
Schöne inspecionou pessoalmente 400 bunkers para verificar se havia animais selvagens vivendo neles e dar seu parecer sobre o valor dos locais como habitat natural. Ele recebeu 200 mil euros (pouco mais de R$ 500 mil) de fundos para o projeto nos últimos dois anos, principalmente dos governos regionais, e afirmou que teve confirmação verbal de que receberia mais financiamento.
Ajuda dos gatos do mato
Schöne disse que o BUND comprou um bunker por 7 mil euros (quase R$ 18 mil) para assegurar que ele não seja destruído. Conselhos locais também estão começando a se envolver, sendo que a cidade vizinha de Euskirchen recentemente comprou seis bunkers que haviam sido destinados a remoção, mesmo eles tendo sido designados como habitat protegido sob as leis européias.
“Autoridades locais perceberam o potencial dos bunkers como atração turística e que isso poderia gerar dinheiro”, declarou Schöne. A aliança entre os conselhos locais e os grupos em defesa dos animais tem sido difícil, uma vez que os gatos do mato e morcegos não apreciam grupos de turistas.
“Nós não queremos atrair muitos visitantes”, disse Schöne, que prefere encaminhar os turistas para alguns bunkers que não têm animais selvagens, ou limitar os tours a estações quando as estruturas de concreto estão vazias.
Em um caso recente, a própria vida selvagem se encarregou de fazer a pressão, com sucesso imediato. “Há pouco tempo, algumas autoridades se encontraram para inspecionar um bunker para ver se valia a pena ou não preservá-lo. Eles estavam prestes a entrar quando viram dois gatos do mato saindo correndo de dentro dele. Isso salvou o bunker”, disse Schöne.
Fonte:
Spiegel
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/202760/visualizar/
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