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Nacional
Sábado - 13 de Outubro de 2007 às 14:52

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Na presença de parentes e amigos, foi realizada por volta do meio-dia deste sábado (13) a cerimônia de cremação do corpo do ator Paulo Autran, no crematório da Vila Alpina, na Zona Leste de São Paulo.

Autran morreu na tarde de sexta-feira (12), de parada respiratória, decorrente de um enfisema pulmonar. No entanto, o corpo dele só será cremado no domingo (14).

Segundo a assessoria de imprensa do crematório, por lei, a cremação acontece somente 24h após a cerimônia fúnebre. O corpo do ator, que tinha 85 anos, ficará em uma câmara fria. A assessoria de imprensa de Autran informou que as cinzas devem ser retiradas na quarta-feira (17) pela família. Elas serão jogadas no jardim da casa de Karin Rodrigues, viúva do ator.

A cerimônia fúnebre foi acompanhada por cerca de cem pessoas. Entre os presentes, estavam os atores Juca de Oliveira, Marília Pêra e Cecil Thiré. De acordo Karin, o ator havia pedido que o momento não tivesse cunho religioso, por isso, não quis ser enterrado. "Ele sempre foi muito positivo, acreditava na arte e na boa vontade dos homens, mas era cético", afirmou.

Aproximadamente 80 veículos seguiram o cortejo pelas ruas de São Paulo. O corpo deixou a sede da Assembléia Legislativa, na Zona Sul, onde estava sendo velado, às 11h, sob aplausos. Antes da saída do corpo, o ator Juca de Oliveira falou sobre a vida e obra de Autran, destacando as inúmeras peças feitas e a contribuição dele para o teatro brasileiro. Na despedida, estavam em volta do caixão a esposa do ator, Oliveira, Marília Pêra e outros artistas.

Ator participou de mais de 90 peças

O ator estava internado desde quinta (11) no Hospital Sírio Libanês, na Região Central da Capital. Ele lutava contra um câncer e um enfisema pulmonar. Durante toda a madrugada e manhã deste sábado (13), o corpo foi velado na Assembléia Legislativa.

Marcaram presença no velório, nas primeiras horas da madrugada deste sábado, nomes que fizeram história no teatro e na televisão brasileiras, como as atrizes Bibi Ferreira, Tônia Carrero e Fernanda Montenegro, além de personalidades dos meios artístico e político, como o apresentador Jô Soares e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Fernanda Montenegro contou que trocou cartas recentemente com Paulo Autran. Os dois trabalharam juntos na novela Guerra dos Sexos, de Sílvio de Abreu. “Enviei a ele algumas fotos da novela e recebi de volta um texto curto. Juntamos ali um pouco de recordação, mas ele me disse que tinha parado. Foi um sentimento muito forte, muito duro”, relembrou.

A experiente atriz chegou a lamentar nunca ter trabalhado ao lado dele nos palcos de teatro e recordou outros atores que faleceram recentemente.

“Estamos aqui para pranteá-lo. É um pouco de nós que vai também, quando a gente vê o (Gianfrancesco) Guarnieri, o Raul Cortez e agora o Paulo (Autran) nos deixando. Fico falando, repetindo coisas, mas ele não tem substituição. Infelizmente, nunca fiz teatro ao lado dele. E fiz uma novela (Guerra dos Sexos). Na verdade, fizemos um jogo teatral. Essa é a grande lembrança que vai ficar, ninguém esquece a cena das tortas todas", disse a atriz, que deixou o salão nobre quase às 5h da madrugada.

Já para Bibi Ferreira, que trabalhou com Paulo Autran em My Fair Lady, o ator era “um herói”. “Mesmo com 85 anos, ele estava no auge de sua carreira, lotando o teatro diariamente. Na vida toda, nunca cedeu. Tive a honra de trabalhar com ele durante três anos nos anos 60. Ele nunca cedeu, ele era um herói", disse ao chegar na Assembléia, por volta da 1h da madrugada.

No velório, duas grandes fotos do ator foram colocadas próximo ao corpo. A todo momento, chegavam coroas de flores.

A vida nos palcos

O ator nasceu no Rio de Janeiro em 1922. Formou-se em direito, no ano de 1945, pela Faculdade do Largo São Francisco (USP) e chegou a advogar. Começa no teatro dois anos depois, com o grupo Artistas Amadores e a peça "Esquina perigosa".

Em 1949, inicia sua longa parceria e amizade com a atriz Tônia Carrero, com "Um Deus dormiu lá em casa (anfitrião)", considerado o seu primeiro papel como ator profissional, com o qual é premiado pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais, de acordo com a biografia "Paulo Autran: um homem no palco", do crítico Alberto Guzik.

A partir daí, participa da encenação de vários textos importantes como "Seis personagens à procura de um autor", de Pirandello, "A dama das camélias", de Alexandre Dumas Filho e "Otelo", de Shakespeare.

Em 1962, faz "My fair lady" ao lado de Bibi Ferreira. Recebe o prêmio de melhor ator da Associação Paulista dos Críticos Teatrais por "Depois da queda", texto do dramaturgo norte-americano Arthur Miller. Autran também fez cinema, novelas e minisséries na televisão.

O último trabalho de destaque foi a encenação da peça "O avarento", de Molière, traduzida e adaptada por Felipe Hirsch. Algumas sessões tiveram de ser canceladas em virtude de internações de Paulo Autran.

Ele também fez uma participação no filme "O ano em que meus pais saíram de férias", de Cao Hamburger, escolhido para tentar representar o Brasil no Oscar do próximo ano. Um espaço no Sesc Pinheiros, em São Paulo, ganhou o seu nome neste ano.

Em entrevista à jornalista Marília Gabriela, o ator confessou que, aos 83 anos na época, ainda fumava consideravelmente. "Fumo porque sou burro. Não tenho forças pra largar. Fumo 12, 13 cigarros por dia.”




Fonte: G1

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