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Internacional
Segunda - 01 de Outubro de 2007 às 16:05
Por: Sam Roberts

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Poderia ter sido o crime perfeito. Um próspero cirurgião cardíaco de Long Island injetou uma dose fatal de um analgésico em sua mulher inválida de 48 anos, mãe de seis crianças. O atestado de óbito atribuía a morte a um derrame.

Mas a polícia começou a suspeitar de imediato, porque o próprio cirurgião havia assinado o atestado de óbito e imediatamente transferido o corpo para ser sepultado fora do Estado de Nova York. Cinco semanas mais tarde, ele terminou detido no aeroporto internacional Kennedy, quando tentava deixar o país levando mais de US$ 450 mil em dinheiro, jóias e títulos negociáveis que pertenciam à sua mulher.

Em 1977, ele foi condenado por homicídio em segundo grau, depois de um dos mais notórios julgamentos por assassinato daquela década turbulenta. Foi sentenciado a uma pena de entre 25 anos e prisão perpétua. O acusado não depôs, e foi encarcerado sem nunca deixar de protestar inocência.

Passaram-se 30 anos. Hoje o cirurgião Charles Friedgood, 88, é o mais velho dos presidiários do Estado de Nova York. Ele sofre de diversos problemas físicos e de uma emoção que se assemelha ao remorso, e na semana que vem voltará a solicitar liberdade condicional. Está pronto a admitir o crime, "dependendo de como isso seja definido".

"Em retrospecto, sabe, você às vezes não consegue acreditar como às vezes coisas acontecem por ações suas que eram completamente desnecessárias", ele declarou em recente entrevista, da prisão. "Se você não quer mais viver com uma mulher, peça divórcio. Você sabe, não é preciso recorrer a um homicídio. Assim, 32 anos mais tarde, começo a perceber como se pode fazer coisas estúpidas".

Na quarta-feira, ele celebrará seu 89° aniversário, na Woodbourne Correctional Facility, uma penitenciária em estilo gótico, construída em tijolos vermelhos com uma planta semelhante à de um mosteiro e instalada na base dos montes Catskills.

Ainda que ele seja paciente terminal de câncer e tenha passado por inúmeras cirurgias custeadas pelo Estado, teve seu pedido de liberdade condicional rejeitado quatro vezes, desde que serviu o período mínimo de sua sentença. Os críticos dizem que as rejeições são resultado de uma norma genérica de restrição de libertações adotada pelo então governador George Pataki para criminosos condenados por crimes violentos.

Em 2003, depois que o conselho estadual de liberdade condicional concluiu que seu crime representava "propensão à violência extrema", um tribunal de apelações ridicularizou a constatação, classificando-a como "tão irracional, dadas as circunstâncias, que beira a impropriedade". Dois anos mais tarde, o pedido voltou a ser negado, porque o conselho concluiu que libertar Friedgood "seria minorar demais a seriedade de seu crime, e assim fomentar o desrespeito à lei".

Agora, o conselho de liberdade condicional do Estado passou por completa reformulação e deve julgar um novo pedido de Friedgood, esta semana. Entre as pessoas que apoiaram o pedido estão seus filhos - uma delas, advogada, está ajudando com o caso - e o antigo promotor distrital assistente que investigou e levou o caso a julgamento.

"Embora o crime tenha sido horrível e uma terrível tragédia para a família, ele tem 89 anos. É hora de libertá-lo", disse Stephen Scaring, o antigo promotor. "Ele praticamente jogou sua vida toda no lixo. É uma simples questão de compaixão".





Fonte: The New York Times

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