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Cidades/Geral
Quarta - 12 de Setembro de 2007 às 16:32
Por: Lourembergue Alves

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O título deste artigo não se deve apenas a complexidade da nação brasileira, dividida em vários Brasis. Rica, porém, ao mesmo tempo, pobre. A miserabilidade de mais de cinqüenta e cinco milhões de pessoas, que a habitam, contrapõe com a riqueza de seu solo, cuja cobertura, rica em flora e fauna, vem sendo, aos poucos, desfigurada pela ganância. Tem-se, então, um cenário quase todo deformado pela desigualdade e pela deseducação, e que, por conta disso, solidifica os contrastes do país, assentados sobre o alicerce da injustiça, mesmo quando se canta a independência.

O Estado brasileiro não é, definitivamente, a polis justa com que sonhara Aristóteles nos tempos antigos. Falta-lhe muitíssimo para se alcançar tal estágio. Para não dizer que lhe falta tudo. Apesar dos PACs quaisquer coisas, inexistem cuidados maiores com os setores da educação, saúde e segurança pública.

Cobram-se tanto impostos, são 74 ao todo, sem que estes sejam revertidos em benefícios da população. Até porque parte deles é para custear a máquina estatal e/ou a burocracia, o que não está errado, a não serem os montantes excessivos que tocam a cada poder constituído; enquanto a outra, bem menor do que a necessária, se destina a bancar a ampliação do espaço público, no qual se dá a ambiência da política.

O mundo político não é restrito, nem deve ser limitado a algumas poucas pessoas, dotadas de poderes especiais, o que as faz distanciarem dos homens comuns. Muito embora se saiba que o pensamento contrário está enraizado em países do tipo do Brasil. Talvez, por isso, o eleito a uma dada cadeira da Câmara Municipal, Assembléia Legislativa e do Congresso Nacional, ou a chefiar a administração pública local, regional e nacional, considere a si próprio como o maioral, sempre a desfilar na passarela todo empenado, como se tivesse de fato um “rei na barriga”. A votação registrada lhe dá esse privilégio, acredita o dito cujo. A ponto que até mesmo as frases feitas, aquelas que seus assessores compram no mercado de verborragias, na esquina de bugigangas, denotam tal espírito de realeza. Daí: “nunca antes neste país ...” ou o “ninguém nesse país tem mais moral e ética do que nós”.

Mas, então, como se explicam as denúncias de corrupção, desvio de dinheiro público, empréstimos bancários fajutos, lavagem de dinheiro, peculato, gestão temerária e evasão de divisas e formação de quadrilhas, com o fim de arrebatar e a manutenção do poder de mando? Não se trata do predomínio da “moral e da ética”. Tampouco o de simples “erros”.

Incrédulos, os brasileiros comuns embarcam nas canoas furadas do “nada saber”, “nada ver” e a do “sentir-se traído”; enquanto o país permanece, feliz da vida, “deitado em berço esplendido”.

“Tudo vai bem, tudo legal”, diz uma canção da MPB. O que a população não deve é “baixar a cabeça” para conquistar o “diploma de bem comportado”, contrariando assim a letra da referida música. Afinal, a independência é uma conquista que se dá também pelo direito de se indignar com as mazelas e com a falta de respeito pelas instituições, assim como igualmente o de se manifestar contra as injustiças, provocadas pelo sempre dar um “jeitinho” na condução da coisa pública. Isso nada tem a ver com o posicionar-se a favor ou não a um dado partido político. Mas, isto sim, com a liberdade de pensamento ou de visão no sentido de valorizar a democracia e a República que, juntamente com a soberania, formam o tripé da independência brasileira. Que país é esse? Certamente bem melhor do “nunca visto antes”.

Lourembergue Alves é professor da UNIC e articulista de A Gazeta, escrevendo neste espaço às terças-feiras, sextas-feiras e aos domingos. E-mail: lou.alves@uol.com.br.





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